2- Anotações

Anotações - do Wesley.

Rapaz! Eu tava com uma pulga atrás da orelha, doido para mais informações, apontei uma das minhas canetas especiais para o Davi, que respirava calmamente com suas pálpebras lutando para se manterem abertas, após algumas cutucadas em sua bochecha, eu disse:

- Ei! Ei! Não dorme ainda não! Eu ainda tenho algumas perguntas!

Davi, um pouco sonolento, tapou o bocejo e já quase dormindo, respondeu:

- Relaxa vou dormir agora não… Pode perguntar…- A voz dele ficava mais fraca a cada frase.

Diferente dele, eu estava animadíssimo, então minha pergunta saiu sem esforço:

- O que você mais gostava de fazer enquanto ficava na casa do Clóvis?

- Gostava de ler os livros de contos de fadas, eram os únicos que me encantavam em meio a livros escolares ou religiosos que ele tinha, sempre gostei de me imaginar como cavaleiro salvando uma princesa, mas acho que simpatizo mais com o “A bela e a fera”... Estou mais para um monstro do que para um cavaleiro…- Por algum motivo essa última frase saiu mais tristes do que eu imaginava.

Talvez eu tivesse tocado em algum assunto delicado, portanto logo troquei a pergunta:

- E quanto ao selo e o negócio do Seraph assumir o controle do nada? Davi? Davi?...

- PARECE QUE ELE TÁ MAIS É PARA A BELA ADORMECIDA!- Respondeu Seraph, debochando do rapaz.

- Eita! Coé! Cramunhão, deixa o cara dormir em paz… - Eu não esperava por isso do nada, tentando não esbanjar medo, ao mesmo tempo em que eu me rastejava para uma distância segura da cama de Davi, que estava com seu olho esquerdo fechado e seu olho direito aceso, além de sua boca definir o sorriso de Seraph.

- Até onde eu sei, você não para de fazer perguntas a ele desde a hora em que chegou, é a primeira vez desde muito tempo que ele não baixa a guarda desse jeito, ele se sente confortável aqui… Quanto a sua falta de coragem percebo que ainda é um menino, é melhor abonançar sua indeliberação. Não tenho energia o suficiente para te matar… Por enquanto. Esse pó da terra está aprendendo a utilizar o selo melhor do que eu esperava.

- Abonançar minha inde… O que? O selo? - Às vezes o Seraph usa palavras muito estranhas.

- Mais um inútil para ter que aturar… Estou no inferno mesmo...- Resmungou Seraph.- Vocês inúteis são interessantes, nunca sabem de nada, até os animais nascem com mais conhecimento do que vocês… Mas sei que ficara me enchendo a porra do saco enquanto eu não te responder, portanto preste atenção, pois não vou repetir!

- Ce..Certo!- respondi por medo, mas já era óbvio que eu iria anotar tudo, estou aqui exatamente para isso seu demônio estúpido… Pelo menos nos meus pensamentos eu posso xingar ele sem que ele queira me matar.

- Pelo o que aprendi com esse selo, ele funciona de formas bem peculiares mas provavelmente é baseado em códigos de manipulação espiritual, o pó da terra consegue novas funções do selo em certos momentos ou circunstâncias, que eu nunca pensaria que existissem, ou às vezes o selo ativa coisas novas sozinho, é um selo bem complexo, em meus pensamentos não deixa de passar a ideia de que foi aquele anjo de merda que colocou isso sobre nós…

Sério eu tava doido para mandar um: Que anjo? Mas o medo dele me dar um fora e me xingar até minha décima geração, me impediram. Seraph continuou dizendo:

- Demônios mesmo sendo mais fortes que os pó da terra, dispõem de menos energia que suas almas, esses são considerados demônios de baixo nível, os que têm a energia igualada a de uma alma, já se enquadram no nível de anjos e suas distintas patentes, os que possuem a energia superior a de uma alma são considerados demônios de alto nível, são os que conseguem bater de frente com divindades como: deuses querubins, arcanjos entre outros...

Engolindo seco, eu absorvia aquelas informações com um incômodo nos ombros, como se um saco de cimento estivesse caindo sobre mim, rosnando, Seraph rangeu os dentes e disse:

- O pouco que eu aprendi sobre esse selo maldito foi que o selo diminui minha energia em 7 vezes, e para eu conseguir tomar o controle, preciso além de igualar minha energia com a alma de Davi, ficar 7 vezes com mais energia que ele, e ainda assim, o selo esvai aos poucos minhas energias quando estou no controle, o que só dificulta ainda mais para que eu permaneca muito tempo no dominio! Contudo… Estou descobrindo algumas brechas que podem me ajudar… Hahaha… Estamos destinados a lutar pelo controle desse corpo para sempre…

Eu sabia que ele falava sério, mas deixei escapar uma simples frase que seria meu bilhete de entrada para uma sessão de cinco minutos de desprezo:

- Achei balanceado!

- VAI SE FUDER! SEU INÚTIL, VOCÊ NÃO SABE O QUANTO (…)- Cinco Minutos de depreciação depois.

- E quanto a energia de medo? E o fato de você saber falar a língua dos índios?- Perguntei já me preparando para as frases clichês de: Vocês são inúteis, não sabem de nada e bla, bla, bla… Mas me surpreendi quando ele disse:

- Dessa são poucos os que sabem, no mundo espiritual não existia um idioma, anjos não falam, se comunicam através da captação de intenção e energia, um resumo simples para a sua cabeça de gafanhoto e seu entendimento insignificante, seria dizer que era quase como falar por telepatia… - Seraph é um desgraçado! Mas realmente eu só entendi melhor agora…- Ou seja, não precisamos de uma língua para nos comunicarmos, nenhum ser espiritual precisa, nós entendemos o que vocês falam independente da língua, pensamentos liberam intenções, e suas intenções são visíveis para nossos olhos, por isso é impossível mentir para nós, e é por isso que eu sou tão conhecido, afinal, sou o demônio que conseguiu mentir para Lúcifer, hahaha!

A explicação por mais que confusa estava de boa, até que do nada o tronco de Zero levantou da cama e sua cabeça virou lentamente para mim, até que aquele olhar amedrontador deu de encontro comigo junto daquele sorriso que facilmente apareceria em um pesadelo:

- Já a energia de medo…- Seraph levantou-se da cama e ficou de pé diante de mim, eu covardemente busquei abrigo na parede, me encolhendo, mas sem deixar de escrever, porque um bom escritor dá a vida por toda uma história… AAAAAAAH SOCORRO, SE EU MORRER E ALGUÉM ACHAR ESSE DIÁRIO, POR FAVOR APAGUE MEU HISTÓRICO DO GOOGLE!!!!!!!!!!!

- O que você mais odeia nesse mundo?- Perguntou Seraph

- E.. eu odeio, que meu único talento, é tão menosprezado pelo país em que vivo, as pessoas no Brasil acham que ler é algo chato, isso nunca vai mudar provavelmente graças ao ensino, todos vão continuar sendo burros e consequentemente alienados, pensar em um país onde as pessoas se baseiam sempre na opinião dos outros por não conseguirem fazer suas próprias graças a consequente falta de leitura e de conhecimento, me dá ódio! Eu queria conseguir ajudar eles nisso… Mas eu sou só um inútil… Um moleque de dezoito anos sem futuro, que não é bom em nada, eu queria tanto sair desse país desgraçado e ir para um país de primeiro mundo!

Seraph continuava com aquele sorriso amedrontador no rosto e ria do meu fraquejo, eu sentia como se tivesse deixado meu coração falar por um momento, sem filtros, sem me segurar para falar nada, era meus sentimentos vazando por vontade própria, Seraph ainda me encarando, disse:

- Sentiu isso? Eu apenas incentivei o que já estava dentro de você, vou te dar um simples exemplo, imagine os sentimentos como cores, existem as cores primárias, as secundárias e as terciárias, o medo seria uma cor que carrega com ele a herança das que vieram antes dele, felicidade, desprezo, raiva, amor, vários dos seus sentimentos compõem o medo, portanto quando você sente isso, é liberado uma energia um pouco mais forte, e nós demônios conseguimos comer e manipulá-la, por último, como sou um demônio bonzinho… Vou demonstrar a você… COMO NÓS COMEMOS!!!

Por um segundo não passou nem Wi-fi no lá de baixo ao ver Seraph disparando na minha direção com sede de sangue, mas Davi tomou controle e parou centímetros antes da minha cara amedrontada.

- Foi mal aí, maninho! - disse Davi me ajudando a levantar.

Ele pediu desculpas pelo ocorrido e logo voltou a deitar tranquilamente na cama, e aprendendo com o ocorrido, eu achei que estava sendo um pouco impertinente e resolvi deitar um pouco também… NA SALA É ÓBVIO, PORQUE DEPOIS DISSO, EU NUNCA MAIS QUERO FICAR NO MESMO QUARTO QUE ELE!

Brauns
Enviado por Brauns em 16/05/2024
Código do texto: T8064591
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