Esta é uma carta sobre a dor, destinada para àqueles que perderam a luta para o tempo

Esta é uma carta sobre a dor, destinada para àqueles que perderam a luta para o tempo.

Eu sei que ausência de você vai continuar a me corroer por dentro, eu sei que a sua risada que em outrora trazia vida e luz pela casa já fora a muito esquecida, eu sei que o tempo não quis te perdoar mesmo você sendo e continuando a ser a pessoa mais importante para mim, para todos a sua volta.

Eu vi nas suas mãos a dor que era continuar aqui, eu percebia no seu semblante cansado e doloroso que as dores já estavam vencendo toda a alegria que emanava de ti. Eu acho que o dia mais desolador foi quando percebi que sua ida era iminente e não demoraria mais.

O que mais me doeu foi perceber que eu já não consigo mais lembrar seu cheiro, do sorriso e das rugas que se acentuavam quando você nos dava a honra de presencia-lo. A sua voz já é um eco longínquo ao qual estou desesperadamente repetindo em minha mente, como se fosse membrana mesmo, para não esquecer. A dor de te esquecer está cada vez mais sufocante.

Dói por que quando o caos se instaurava em mim apenas um abraço teu era o suficiente para reparar toda a dor que o tempo causou em mim, dói por que eu não posso te ligar mais a noite para pedir conselhos ou apenas ouvir você falar sobre alguém como se fosse a coisa mais feliz do mundo, dói e corrói por que eu perdi muito tempo crescendo e esquecendo que também era a sua primeira vez vivendo, amando, sorrindo e tentando ser a melhor versão que você poderia ser.

Olhar pela casa ao qual construímos memórias inestimáveis me deixou triste. Chorei em meio a lágrimas felizes. O tempo foi cruel demais conosco, foi cruel por que não me deixou ser a melhor versão que eu queria e estava construindo para vocês, foi cruel por que não me permitiu conceder tudo que vocês abdicaram para que eu pudesse sonhar, foi cruel por que não me permitiu agradecer por ter desistido dos seus sonhos para que eu pudesse sonhar.

A sala já não emana mais calor.

Os quartos já não são mais aconchegantes.

A cozinha não transmite mais saciedade e paz.

A casa não é mais um lar.

Olho para trás pela porta da sala, baixo a cabeça e enxugo as lágrimas que traiçoeiramente me escapam pela face e penso: "a se eu pudesse voltar o tempo apenas uns anos e agradecer por tudo e falar que vocês viveram uma vida linda."

Esqueci do seu toque.

Esqueci do seu calor.

Esqueci do som da sua voz.

Mas não esqueci do principal: obrigada tempo por não me fazer esquecer como é ser uma filha.

Esta é uma carta dolorosa que traz consigo a dor que o tempo nos causa.

Esta é uma carta destinada para todos que perderam alguém.

Francisca Lorrayne
Enviado por Francisca Lorrayne em 11/05/2024
Reeditado em 18/05/2024
Código do texto: T8061008
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