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BUMBA-MEU-BOI, BOI-DE-REIS!

 

 

Valdi Rangel

 

 

Reeditado ***

 

 

 

Acredito que vocês já ouviram pelo menos falar, se é que não assistiram a uma apresentação do boi-de-reis, que é uma dança do folclore do nordeste brasileiro.

 

É uma dança da morte e da ressurreição do boi, que é desenvolvida por vários dançarinos com vestimentas coloridas e apropriadas, tem um grupo de tocadores e uma alegoria em formato de um boi, com uma abertura por baixo dela, envolvida por um manto, com uma guarnição franjada ao seu redor, que encobre o dançarino, que fica representando o boi, ou seja, o dançarino tem que vestir a alegoria e reproduzir os movimentos de um boi.

 

Existem varias canções que são executadas, à medida que o boi faz as suas evoluções, e com relação a essa dança do nosso folclore popular, eu vou narrar uma historia muito engraçada que aconteceu na Paraíba.

 

A alegoria que representava o boi, estava sendo guardada ao relento no quintal da casa de Mané Pintado, que era o presidente do boi-de-reis, o dançarino titular por um motivo de saúde, não podia sair naquele ano, e o grupo de folclore procurava um brincante que topasse vesti-lá, e sair nas ruas, como era o costume de todos os anos.

 

Procuravam, procuravam, e não encontravam, tal brincante, foi ai que alguém deu uma sugestão, convidem Naldinho Caneiro, que ele com certeza irá topar ser o boi, e ai alguém disse: mais ele bebe muito, e responderam por isso mesmo, ofereçam a ele algumas doses de aguardente, que vocês terão um boi vigoroso e disposto a desfilar bonito nas ruas.

 

E assim foi feito fizeram o convite e contrataram o Naldinho Caneiro para ser o boi-de-reis durante os três dias de carnaval, no contrato ficou acertado, bem claro, que Naldinho seria alimentado por doses de cachaça, no inicio, e depois de cada apresentação, para que tivesse disposição de carregar o boi-de-reis nas costas, por todo o dia.

 

Celebrado o acordo de cavalheiros, o grupo já ansioso pela demora, impaciente que estavam para ganhar as ruas, deram o primeiro gole de cachaça e jogaram a alegoria do boi em cima do esqueleto de Naldinho Caneiro, do jeito que a mesma estava sem fazer nenhuma inspeção antes.

 

E a batucada mal começou e já no terceiro quarteirão o Naldinho já fez a primeira parada e exigiu o cumprimento do contrato que lhe dessem o segundo gole de cachaça, pois já estava meio cansado pela condução do boi-de-reis.

 

Mané Pintado presidente executivo e dono do boi-de-reis, abriu o garrafão de cachaça, encheu o copo pela boca e ofereceu a Naldinho, que engoliu tudo num só gole, Naldinho voltou novamente para debaixo da fantasia do boi e começou a fazer a sua evolução, havia uma multidão de curiosos e apaixonados pelo boi-de-reis, os verdadeiros torcedores mesmo.

 

Era uma multidão bastante volumosa, que aplaudiam as evoluções que o boi executava, o grupo folclórico estava bastante entusiasmado, e comentavam entre eles “Mais veja só, o Naldinho Caneiro é uma fera rapaz, está dando o maior espetáculo, inclusive quando a batucada para, ou diminui o ritmo ele continua evoluindo, acho que é o efeito da cana que o mantém assim esperto, já está contratado definitivamente, e no ano seguinte será novamente o nosso boi-de-reis”, aí outro integrante comentou “que nada seu Mané Pintado, isso é dom mesmo, descobrimos um dançarino nato”, e o boi não parava corria para cima dos presentes, de um lado para outro lado da rua, dando cabeçadas e fazendo piruetas como se quisesse voar.

 

Os pés do Naldinho, subiam do chão corriam como cachorro doente, e finalmente depois de alguns minutos, notava-se que aquilo não era normal.

 

Naldinho não parava, parecia está ligado na eletricidade, pouco tempo depois, se descobriu o motivo daquela eletrizante dança, por dentro da alegoria do boi-de-reis, existia uma caixa de maribondos, que sem dó nem piedade ferroavam todo o corpo de Naldinho Caneiro, o coitado na tentativa de se livrar dos maribondos, enganchou a cabeça por dentro da fantasia, e não podia tirá-la, e ai se explicava, aquelas incontáveis e mirabolantes piruetas, que o Naldinho executava.

 

Depois de alguns minutos já livre daquele monstrengo folclórico, de chifres, via-se o estrago que ele sofreu, o rosto, as costas, os olhos, todo o seu corpo estava inchado. Naldinho levara a maior surra de toda a sua vida.

 

Depois desse triste dia, Naldinho nunca mais quis tentar carreira de dançarino de boi-de-reis. Há quem diga por ai que depois desse lamentável e cômico ocorrido, criou-se na Paraíba uma cachaça com o nome de Maribondo, em homenagem a Naldinho Caneiro.

 

Mas, isso não foi comprovado, faz parte apenas, do folclore popular.

 

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Obs. Tudo aqui transcrito, é apenas estória de causo popular .