Sobre cansar de corações quebrados

Naquela noite, o Viajante escreveu uma carta. Era simples e tinha apenas algumas frases. Normalmente ele escreveria uma poesia, mas naquele dia em específico, achou melhor ser breve e direto.

Para uma pessoa especial, ele compartilhou os sentimentos que estavam lhe transbordando:

"Nas noites mais quietas é quando eu penso em você.

Então peço que ignore as coisas que eu digo sem querer.

Porque eu, sem querer, vou lhe dizer que te amo".

Naquela noite, o Viajante tomou uma decisão errada. Mas antes de entregar sua carta, ele decidiu consultar o Oráculo.

O Oráculo sabia sobre tudo, não era mesmo? Então ele saberia dizer o que o futuro prometia para um jovem apaixonado como o Viajante. Quando perguntou se deveria seguir em frente, foi o próprio Oráculo que confirmou que aquela era a melhor opção.

Mas não era a melhor opção. Talvez até os Oráculos errassem de vez em quando.

Quando o Viajante acordou no dia seguinte, teve um breve momento de paz. Entretanto, logo percebeu a presença de um Albatroz amigo, esperando-lhe com uma carta em seu bico.

O Viajante abriu a carta sentindo seu coração bater forte no peito. Suas mãos trêmulas amassaram o delicado papel conforme ele lia a resposta que tanto esperava.

"Não devemos escutar os nossos sentimentos durante as noites mais quietas", era a única frase escrita.

Depois de ler aquelas palavras tão frias, o Viajante sentiu seu coração se quebrar e ele riu ao perceber a ironia da sensação de nunca se acostumar com aquilo.

Ele havia esquecido que sua maldição lhe prendia ali, naquele lugar. Não era um lugar físico, era, na verdade, como um estado de espírito.

Sempre correndo, sempre fugindo. Sempre sozinho.

O Viajante havia se acostumado a ficar sozinho. Ele até gostava da sensação às vezes. Mas haviam dias que doía. Havia dias que ele queria que alguém lhe esperasse.

No fim, quando terminou de ler aquela breve resposta, achou que era o Universo zombando da sua cara.

Talvez o Viajante estivesse cansado de ter seu coração quebrado.

Então ele terminou de amassar a carta e a jogou fora. Depois passou sua mão nas penas delicadas do seu amigo Albatroz.

Viajante atemporal
Enviado por Viajante atemporal em 13/05/2024
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