O Flamboyant

- Muito obrigada! Disse ela descendo do carro.

Passou aquela tarde de domingo com seu melhor amigo no Mutirão pela Natureza, juntos os dois plantaram aproximadamente vinte árvores às margens do arroio que corta a cidade.

- Imagina! Disse ele, recebendo de presente um flamboyant.

- Cuida como se fosse a minha vida! Disse ela, quando se despediram.

Chegando no apartamento onde mora, no centro da cidade, largou o presente na lavanderia, tomou um banho e, cansado, foi dormir. No dia seguinte, recebeu da empresa onde trabalha, um convite para estágio de seis meses na filial francesa. Na mesma noite arrumou a mala, pediu para a zeladora abrir o apartamento vez que outra e quando a ficha caiu já estava em Paris, hospedado próximo ao Jardin des Tuileries.

Finalmente um dia de folga, foi um mês de intenso estudo, passava os finais de semana lendo livros e vendo filmes recomendados pelo seu superior. Resolveu dar uma caminhada e conhecer a vizinhança. Ficou feliz ao ver algumas pessoas fazendo uma ação de reflorestamento no parque e decidiu telefonar para a sua amiga, no Brasil.

- Oi querido! Não, aqui é a mãe dela. Ela está hospitalizada, muito mal!

- Hospitalizada? Perguntou curioso. Ele nunca tinha visto ela doente. O que ela tem?

- Não sei, os médicos também não sabem, ela está definhando, como uma árvore.

Uma voz ecoou dentro da sua cabeça: cuida como se fosse a minha vida!

Despediu-se desejando melhoras à amiga, prometendo ligar em breve. Não pode ser! Pensou ele incrédulo, mas resolveu ligar para a zeladora para saber do flamboyant.

- Aquele galho seco? Perguntou a zeladora. Coloquei na lixeira!

Não havia mais o que ele pudesse fazer, se sua amiga morresse ele passaria o resto da sua vida com aquele peso na consciência.

Embaixo de uma ponte, um catador conversava com um galho seco encontrado em uma lixeira.

- Eu vou cuidar de você!

Sem se importar com que árvore era, o catador plantou às margens do arroio que corta a cidade, um flaboyant. No hospital, uma paciente era entubada. Com água potável comprada para o seu consumo, o catador regava diariamente o galho seco. A esperança de que a paciente sobrevivesse era cada vez menor. Um sorriso iluminou a ponte, uma minúscula folha verde brotava naquele galho seco. No hospital uma enfermeira gritava pelo corredor: - MILAGRE! DOUTOR! MILAGRE!

Leonel dos Santos
Enviado por Leonel dos Santos em 09/05/2024
Reeditado em 10/05/2024
Código do texto: T8059529
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