ESCREVE, JOÃO, ESCREVE

Vai, João, continua escrevendo. Prossegue. Vai já, vai agora, retoma aquele texto antigo ou apaga tudo e inicia outro. Mas continua escrevendo, escreve assim que acordar e antes de dormir; se possível mantém sempre ao teu alcance, na cama, no banheiro, na mesa da cozinha ou na varanda, caneta e papel em branco ou o computador portátil ligado; mantém-te escrevendo durante o dia todo, só para quando for necessário, quando o corpo te obrigar, só para não morrer. Afasta-te dos livros, eles não importam mais, nem mesmo como fonte de inspiração ou de conhecimento. Mantém distância dos livros porque a leitura a partir de agora não deve mais te interessar, tornou-se supérflua, para não dizer perniciosa. Segue em frente e usa bem o que dispõe para o teu propósito: teu parco, porém útil acervo de palavras. Guarda toda a tua energia e todo teu desejo para escrever, apenas. Não importa sobre o quê, para quem ou para que: continua escrevendo. A razão, se ela existe, se manifestará um dia, ou, se ela não existe, é irrelevante. Todo o teu ser, toda a tua substância, serão a partir de agora transmutados num texto concreto e cálido como a vida que nele se realiza. Então vai, João, vai agora, escreve, escreve, escreve.

João Pegado
Enviado por João Pegado em 13/05/2024
Reeditado em 13/05/2024
Código do texto: T8062028
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