EXISTENCIALISMO E PSICANÁLISE (LUCY IN THE SKY WITH DIAMOND) (IV)

EXISTENCIALISMO E PSICANÁLISE

(LUCY IN THE SKY WITH DIAMOND) (V)

A LEALDADE que vale é a da verdade. O complexo de Édipo fundamenta a realidade humana. A criança nasce de uma mãe. Uma mãe antecede toda a lógica. A lealdade para com ela parece, à criança, determinar toda sua vida. Parece, ao ser humano infantil e infanto-juvenil, ser o princípio de toda a dialética da vida. O jovem embarca no protocolo existencial pensando que pode expandir a consciência pessoal, a partir de uma lealdade cega à existência daquela que lhe pariu.

A MIM faz sentido buscar respostas onde elas devem, provavelmente, estar. Num feedback ou retorno de aparências, não. Talvez esteja numa essência não fácil de encontrar. Uma essência que se reúna numa síntese de disciplinas, após um estudo atencioso delas. Como e onde os seres humanos começaram sua existência no mundo terreno, muito depois de terem se arrastado das águas do mar em direção a sítios na terra??? Quantos não morreram até adaptarem-se à mãe terra???

TEMPERATURAS DE mais de 200° numa crosta terrestre de gases vulcânicos liquefeitos, com ênfase no CO2, lançados por explosões vulcânicas na atmosfera em formação. Os primeiros organismos habitavam fontes hidrotermais em profundidades oceânicas: os extremófilos, moldados e adaptados na alta temperatura (termófilos). Tais eventos aconteciam há três bilhões e quinhentos milhões de primaveras muito ardentes.

ESTA NOSSA narrativa movimenta-se em pequenos passos, de parágrafo em parágrafos, para os grandes saltos no desenvolvimento da humanidade. De existências em existências, as essências mais atualizadas foram sendo criadas. Saltemos agora, dos extremófilos ao aparecimento do Australopitecos Gahri — Sediba — Africanus — Afarensis — Os primeiros surgiram entre 2,5 a 2,0 milhões de anos na Etiópia. O habitat de 3,2 milhões de anos de Lucy, à beira de lagos sitiados por pastagens, fora descoberto pelo antropólogo Donald Johanson, curador do museu Cleveland de História Natural, e pelo estudante Tom Gray, em Hadar, deserto de Afar, Etiópia.

EU ME reportar agora ao fóssil de Lucy, mãe anciã Afarensis, com 3,2 milhões de anos. Olhando para seus ossos, meu complexo de Édipo não parece existir. O intervalo de tempo exorbitante, no entanto, me permite imaginar como eram os agrados entre as genitálias do macho e da fêmea naqueles idos originais dos seres humanos. Surge-me a interroga ação: os Australopitecos surgiram, assim, de repente, do nada??? Como os termófilos se transformaram em Lucy no Céu com Diamantes???

NÃO DEVE ter sido fácil para ela ser abordada, sabe-se deus quantas vezes por dia, por machos que ambicionavam fornicar em dezenas de tons de cinzas. Lucy terá sido uma primata ancestral que hoje em dia não se reconheceria ao se olhar no espelho. Seu rosto mudou, se modernizou. Ela, moça moderna, certamente diria:

— “Não te reconheço nela/Mas rezarei três terços/Para essa fêmea mãe distante/Que sem querer inspirou os Beatles/Hoje, olho a lua cheia/Cheia de medos, aflita/Lembro dessa minha mãe antanha/De tão outrora passada/E se meu namorado me visse nela”???

O NAMORADO de Lucy, a moderna, ao pensar em tão distante Madonna, ao usar a imaginação, se por acaso a tiver, diria:

— “Teus lábios tinham gosto de quê???/De peixes comidos crus???/De cerejas que não mais existem???/Como te beijava o namorado nu???/Quantos bullyings sofrias por dia???/Quantos gritos e chiados/Antes de te chamar Maria???

NOS DIAS escatológicos de hoje, romances e filmes são produzidos por editoras e estúdios cinematográficos que reproduzem as sacanagens dos casais de há tanto tempo sumidos nos milhares de tons de cinzas do tempo. Quem lembraria da antiga Madonna Lucy, se seus restos ósseos não inteiriços, mal puderam ser datados no esqueleto quebrado??? Os tons de cinzas tão antigos migraram para as páginas dos livros. Estão nas telas dos filmes.

PERSONAGENS DE livros, astros e atrizes de filmes, ainda guardam de ti uma saudade, lembranças tão remotas de como vivias em suas grotas??? Te veem nas garotas que fazem trottoir nos carros, nas lanchonetes, nos bares??? Como poderiam lembrar, após tantos milênios passados, como enrubescias ao ser violentada nas quebradas da noite, nos dias cinzentos, nos mesmos tons de cinzas que hoje ainda te reproduzem???

DESCOBREM ELA, a Lucy tão primitiva, na face enrubescida da modernidade de teu olhar de cinquenta tons de cinza??? Teus trejeitos de lado esquerdo, de lado direito, teu rebolativo andar, trai um duplo caminhar que não mais repetia o teu??? O teu, de Lucy no Céu com Diamantes d´África.

TEUS GRITOS, gemidos e chiados de há milhões de tempos passados, ainda se desdobram nas faces das garotas polaquinhas, das brasileirinhas que se exportam para o exterior por não terem na brasilidade um lugar entre as poltronas dos lupanares. Dos lupanares que não têm mais lugares vagos nos colchões adolescentes das cinzas. Das cinzas que te transformam em acontecimentos, no veneno dos quartos de motéis. Eu te vejo aquela mulher, aquela mãe, ao te olhar por entre o véu em teu casamento. Festivo. Paramentado. Em teu presente passado.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 13/05/2024
Reeditado em 16/05/2024
Código do texto: T8062338
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