BOANA, caçador de monstros

BOANA, caçador de monstros (2022)

Certa manhã na base aérea do cachimbo em meio aos aviões, olhos silenciosos observaram um militar ser constrangido por seu superior na presença de civis, então ele sacou rápido sua arma para realizar três disparos no crânio do chefe imediato, em seguida fugiu para o coração da selva perseguido por uma equipe militar de captura em seu encalço, mas ele conseguiu desaparecer como um fantasma naquele inferno verde, que só os legionários da onça pintada sabem como se esgueirar nas sombras. Entre os perseguidores outro “onça” rastreava e conduzia o grupo para bem próximo do fugitivo que mesmo se sentindo ameaçado, manteve a calma e prosseguiu cautelosamente até encontrar um nativo que acenou apontando a direção a seguir em segurança, sob uma pequena queda d’agua uma passagem camuflada conduzia até uma comunidade indígena que vivia isolada no interior do território em questão.

Após ser acolhido com afeto “onça” passou a ser o defensor dos nativos, aos quais transmitiu conhecimentos diversos sobre a atual situação e sobre a importância da união dos povos da floresta, os índios o chamavam de Boana. Ele costumava tomar tereré sentado em seu rancho, quando observou um avião em queda livre sobre a mata, se desfazendo até que chocou contra o solo criando uma trilha de meia milha antes de formar uma grande clareira no coração da Amazônia. A poucos metros dali Boana acionou sua gente para missões diversas, o cunhado foi buscar ajuda na fazenda próxima usando uma canoa rápida, Boana e seu filho jovem percorreram as trilhas pela selva até o local da queda. Um amigo se deslocou rapidamente para pedir que uma aldeia vizinha enviasse uma equipe de resgate. Um dos sobreviventes se desgarrou do grupo e foi devorado por uma canguçu que se sentiu atraída pelo cheiro de sangue fresco no ar. Os demais caminhavam lentamente se afastando dos destroços que formavam uma paisagem horrível. O corpo do avião se partiu ao meio pelo impacto da queda e se arrastou por centenas de metros com alguns passageiros ainda vivos, cerca de trinta pessoas abandonaram a aeronave e se refugiaram na mata com receio que houvesse uma explosão devido ao vazamento de combustível. O cacique encontrou algumas pessoas desorientadas e as conduziu para um lugar seguro onde os feridos foram entregues aos cuidados do pajé, que reconheceu a mulher resgatada, era a filha do cientista que ele conheceu ainda criança e que agora pode intervir nas ações sociais para proteger os nativos.

Partes do avião já estava em chamas quando uma comissária treinada no CIGS levou os sobreviventes para um lugar seguro e providenciou os cuidados necessários e imediatos. Entre eles um homem idoso balbuciou algumas palavras no ouvido do Boana que acabara de chegar na clareira:

- Tem um frasco com substância perigosa em um pequeno container metálico no compartimento de bagagem.

- São vírus modificados que foram tirados de fosseis de animais extintos e DNA de criaturas espaciais que podem causar mutações em contatos com seres vivos.

- Você deve destruir com fogo antes que caia em mãos erradas. Virou a cabeça e sucumbiu.

Boana reuniu os corpos para facilitar o trabalho da equipe de resgate que estava a caminho dali, acendeu tochas ao redor para balizar a clareira e afugentar animais silvestres e depois entrou no compartimento de bagagem para cumprir a missão, mas observou que o recipiente havia se rompido e um grupo de macacos havia levado um frasco com um liquido verde claro. Boana designou seu filho para conduzir os sobreviventes até a estrada e depois ao rancho onde seria mais fácil a extração aérea, enquanto ele perseguia o macaco para recuperar o frasco ainda intacto, sob pressão o macaco arremessou a embalagem que se partiu sobre uma queixada e uma anta que pastava por ali. Boana acompanhou a distância sempre espreitando o grupo de animais infectados que caminhavam pela mata, alguns morreram rápido e outros sofreram transmutações antes de morrer, porém no final da tarde ele percebeu que a anta havia se transformado em uma criatura horripilante, uma mistura de elefante com tentáculos de polvo. A criatura devorava com facilidade os animais que encontrava em seu caminho enquanto vagava pela mata escura. A criatura iniciou um deslocamento na direção dos feridos que aguardavam o resgate aéreo próximo ao local da queda, então Boana cortou caminho seguindo por uma trilha conhecida na mata alta, descendo por uma elevação até chegar ao leito do rio seco onde as areias cobrem os seus pés. Ele chegou a tempo de alertar as pessoas sobre o perigo que vem da mata, e se preparou para interceptar o monstro. Boana escolheu um tronco fino e seco para usar como estrepe, ele se apressou quando ouviu gritos longínquos, então prosseguiu pela mata cerrada que adensava no fundo do socavão, andando pela encosta de um íngreme paredão, sempre constante e atento na vegetação para não ser emboscado pela fera.

Boana por alguns segundos sofre uma divagação de mente quando algum flash dos campos de batalha vem a sua memória, ele se lembrou de emboscadas, perseguições contra inimigos em diversos terrenos. O valente imaginou o terror que a criatura vai causar quando encontrar pessoas cheirando a sangue dos ferimentos e então decidiu ir ao encontro para destruí-la. Boana poderia correr até sua casa para apanhar armamento pesado que escondia no paiol de milho, mas quando voltasse poderia ser tarde demais para os feridos, então ele avançou como um homem das cavernas com seu estrepe afiado. Ele escolheu duas linhas de ação para eliminar a fera; primeiro espetar o coração dela por baixo e segundo saltar sobre ela e espetar por trás da orelha, a ocasião é que iria dizer qual tática deveria ser usada pelo caçador.

Após o último sobrevivente ser retirado em segurança, Boana se deixou visível em campo aberto para atrair a atenção da criatura, ele se deslocava devagar fazendo o monstro tomar a direção desejada enquanto o perseguia por uma trilha que afunilava até um corredor estreito já previamente escolhido para zona de matar, onde o ataque fatal aconteceria, onde apenas um sairia vivo dali. Boana deixou estrategicamente um estrepe grande no início, uma no meio e outra no final do corredor da morte, enquanto portava estacas menores consigo para um golpe fatal. O plano deu certo, o monstro seguiu no seu encalço e quando chegou entre os paredões que não o permitiam se mover lateralmente, Boana escalou a parede para saltar sobre a fera e enterrar o estrepe no ponto vital (nuca), em seguida estocou várias vezes com as estacas menores e para finalizar saltou no solo para rapidamente utilizar a estrepe que deixara propositalmente para esse fim. A fera atordoada urrava em desespero e se deslocava em direção a Boana que esperou o momento certo para jogar o peso do corpo para trás enterrando o pé do estrepe no terreno arenoso e apontar a parte afiada da estaca no abdome da fera que tentava encurralar o caçador. O monstro tombou agonizando e Boana exausto escalou o paredão com dificuldade para ganhar a liberdade.