Às Noites Foram Feitas para Matar | Capítulo 2

Às Noites foram feitas para Matar

Capítulo 2

O ano era 1993. Juarez Cardoso e seu parceiro invadiram um estabelecimento de fachada. Uma padaria cujo o dono mantinha uma espécie de parceria com traficantes de drogas sintéticas. O plano foi descoberto depois de uma longa e exaustiva investigação. A paisana, Cardoso e Da Silva entraram na padaria. Pediram duas coxinhas e café puro.

— É só isso? — falou o dono da padoca.

— Como faço para conseguir algumas pedras? — sussurrou Da Silva.

— Como assim, pedras?

— Quem nos mandou aqui foi o “Prefeitinho”. — completou Juarez. — ele falou que só você tem pedras nesta região.

— Bem! Se foi o Prefeitinho mesmo quem falou, irei trazer junto com o pedido.

— Por gentileza. Traga cem gramas. — Da Silva olhou para Cardoso que anuiu. — Tá bom pra você?

— Tá de bom tamanho.

— Certo. Vou buscar. Pagamento adiantado.

Juarez sacou da pochete duas notas de cinquenta reais e as passou para o padeiro. Assim que se viram a sós e também aproveitando do fato do lugar se encontrar relativamente vazio, Cardoso deu a ordem via gesto aos outros agentes disfarçados do lado de fora. Quando o padeiro voltou com o pedido e também com o bolso cheio das cem gramas de pedra, o estabelecimento já havia sido invadido.

— Firmino, o senhor está preso por associação ao tráfico de entorpecentes. — Falou Da Silva.

Missão cumprida com sucesso. Após a prisão de Firmino, aos poucos os verdadeiros tubarões foram sendo capturados elevando a já brilhante carreira de Juarez Cardoso.

*

Ao despertar de um repentino desmaio ocasionado por um forte golpe em sua nuca, a mulher tentou ficar de pé, porém foi acometida por uma dor insuportável vinda dos tornozelos. Sim, eles estavam quebrados. Aonde estou? Se perguntou olhando para a porta do quarto entreaberta. Ela iniciou uma tentativa de fuga, mas logo desistiu, tamanha era a dor na cabeça também. Havia um forte odor de carne podre no ar por ali, ela não sabia de onde estava vindo.

— Opa! Que bom que acordou, já estava ficando preocupado. Será que a pancada foi tão forte assim, eu pensei. — disse Bartolomeu segurando o pé de cabra.

— Gomes? O que está fazendo, por que quebrou meus tornozelos?

— É o meu mecanismo de segurança, minha querida. Para me assegurar de que você não fugiria ao acordar. Entendeu agora?

— Eu preciso de socorro urgente. Chame uma ambulância…

Gomes meneou a cabeça insatisfeito com o poder de raciocínio da mulher.

— Tão bela e tão burra. Tão gostosinha e tão lerda. Você ainda não percebeu o que está acontecendo aqui, Isabela? — lhe mostrou o objeto.

— Meu Deus. Você matou o Josias? — Chorou. — Por favor. Eu, eu tenho uma filha de cinco anos que precisa de mim.

— Que aliás, uma fofura de criança, mas infelizmente ela terá que ser criada pelos avós. — ergueu o pé de cabra.

Isabela ainda tentou se defender do golpe, mas não adiantou. A ferramenta afundou seu crânio e durante alguns minutos ela seguia viva entre espasmos. Gomes nada fez, apenas assistia sentado olhando a jovem mãe partindo dessa para melhor. Minutos depois de se certificar da morte de Isabela, Gomes alongou sua lombar olhando a noite pela janela. Uma bela noite.

*

A porta da casa de Juarez era esmurrada às seis da manhã por Onofre que trazia na face desespero e pânico. A imagem da cabeça da jovem Isabela pendurada pelos cabelos no poste ainda é latente em sua mente o fazendo chorar antes de ser atendido pelo ex policial.

— O que houve? — Juarez estava sem camisa e com o rosto amassado.

— Deus de misericórdia. A minha vila se tornou palco para um monstro. — Onofre salivava ao falar.

— Apareceu mais uma cabeça?

— Por favor, venha comigo.

Vila Carmem em peso presenciando o resultado de uma atrocidade. Assim como Josias, Isabela foi nascida e criada naquele lugar e por isso a comoção assola a todos os presentes. Onofre e Juarez chegaram ao local se juntando aos demais enlutados e assustados.

— Senhor Onofre, algo precisa ser feito e rápido. — berrou um morador.

— Seremos todos mortos? — falou outra.

Cardoso fazia sua análise inicial quando foi questionado por um velho morador de barba longa e branca.

— Você é um ex policial, não é? Por que não faz alguma coisa?

— O senhor disse tudo. Sou um ex policial. — voltou a olhar para a cabeça.

— Dizem que foi o melhor de sua época. Não pode nos ajudar?

A viatura da PM chegou no exato momento em que Juarez era fuzilado por questionamentos. Os agentes tiveram trabalho para manter os curiosos afastados. Os familiares da jovem imploravam aos berros por justiça. Justiça a qualquer custo. Mesmo não querendo se envolver, para um policial que sempre levou a profissão a sério e que nasceu para coisa tal, não consegue de forma alguma ficar indiferente à situação. O caso é grave. A possibilidade de se haver um assassino em série naquela localidade é muito grande e Juarez consegue sentir isso no ar.

— O jeito é tirarmos toda essa gente daqui. — Declarou o sargento PM.

— Como assim? — Onofre retrucou.

— Foi o que ouviu. Temos que evacuar a área.

Juarez não conseguiu conter a risadinha irritando o militar.

— Qual foi a graça, coroa?

— Na minha época, quando não se queria trabalhar, ficávamos em casa.

O PM estreitou os olhos avançando contra Cardoso. Onofre interveio.

— Calma, sargento. Gaste suas energias tentando prender o assassino pelo menos.

— Quem é esse velho? — vociferou.

— Sou Juarez Cardoso, sargento Avilar. — prestou continência.

— Caguei e andei pra você. — despejou o policial. — agora me dá licença, tenho um caso para resolver.

Juarez riu outra vez.

A cabeça foi retirada do poste e levada pela defesa civil sob os prantos dos mais sensíveis. Juarez voltou para sua casa, mas a sua mente permanecia lá fora, no assassinato brutal de Isabela e de Josias. No meio de toda aquela confusão o brutamontes Gomes também se fazia presente assistindo com satisfação o resultado de sua atrocidade.

*

Teresinha foi casada durante vinte nove anos com um sujeito que ela não amava. No início até que havia uma certa atração, mas com o passar dos anos isso não se sustentou. Todas as vezes em que se relacionavam sexualmente era um verdadeiro inferno na terra. Ela não o amava e logo não sentia qualquer tesão por ele também. Como administrar tudo isso? Fazer as coisas por obrigação e principalmente sexo arrebenta com o psicológico de qualquer um. Não era legal. Teresinha não chegou a dar “graças a Deus” quando ficou viúva, mas sentiu como se tirassem duas geladeiras de suas costas. Agora, ao lado de Juarez, ela se entrega ao prazer com vontade, querendo fazer e faz questão de se dar ao luxo de estar amalgamada com ele pelo menos duas vezes por semana.

— Vila Carmem era tão pacata. — Teresinha se cobriu com o lençol. — Quem será esse monstro?

— Esse é um trabalho para o sargento Avilar. — Juarez acariciava as coxas dela.

— Você realmente não pode fazer nada?

— Meu bem. Eu passei parte da minha vida entre estar dentro de uma delegacia e fora dela resolvendo casos cabulosos tipo esse. Eu não tenho mais saco, essa é a grande verdade.

— Eu não tive coragem de ir falar com os pais da Isabela. O clima deve estar pesado demais.

Ficaram em silêncio.

— Peço que reconsidere a questão. — desabafou Teresinha.

*

O corpo de Isabela foi posto ao lado do já putrefato Josias. O cheiro dentro daquele quartinho é de fazer qualquer urubu pôr os bofes para fora e mesmo assim Bartolomeu Gomes insiste em ficar ali olhando sua bizarrice.

— Dois anjinhos. — falou.

Ao tocar na fechadura algo o fez olhar para os corpos. Gomes parecia ouvi-los conversando.

— Realmente. Vocês precisam de alguém que cuide de vocês. Pode deixar. Irei providenciar um cuidador ou cuidadora. — fechou a porta.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 13/05/2024
Código do texto: T8062691
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.