Flashes das dezenove horas: uma visão de mim mesma

Hoje reservei um tempo para me observar. A sensação de me ver de outro ângulo é extremamente reconfortante. Quando me vejo pegando as coisas, sinto que estou realmente ali, ao contrário do que minha cabeça ansiosa me diz. Talvez se me gravasse todos os dias, sentiria o mesmo conforto de agora, talvez mostrasse que as coisas são mais simples do que parecem, do que ELA faz parecer, e o sentimento que fica é o de estar.

Peguei o caderno, fui para a varanda e, enquanto o abria, quis por um breve momento que o tempo parasse e permanecesse daquela forma por um bom tempo. Manter aquele olhar expressivo, aquele meu olhar que estava clamando para derramar os meus sentimentos no papel, onde diariamente encontro alívio. Tenho me apaixonado por mim mesma nesses momentos de desabafo do meu ser, mas nunca o tinha visto de fora; agora o vejo. Deixei esse momento gravado em minha memória como um flash de uma foto tirada.

O short marcava meu corpo, lembrando-me que estou gerando alguém importante, a cabeça cheia de palavras e frases indeterminadas, o vizinho conversando e um som de caixa no alto enquanto uma mulher louvava a Cristo. Todo mundo vive suas vidas e eu também vivo a minha. Será que todos nós temos pensamentos excessivos? Há alguém no mundo que não tenha paranoia de estar sozinho? Queria que alguém entrasse na minha cabeça e a estudasse, pois estou prestes a enlouquecer, sinceramente! Como pode?

Na parede batia a luz da luminária da rua e esse horário especificamente falando, as dezenove horas eu acho magnífico. Tem um tom aberto, amarelo claro com sombras da corda onde penduro minhas roupas. Um tom amarelo claro que me lembra que mesmo a rotina sendo longa e cansativa, ver aquilo vale a pena no fim do dia. Como se tudo não me importasse tanto quanto ver aquele amarelado na parede às dezenove horas. O tempo anda passando rápido demais ou sou eu que fico dentro da minha cabeça o tempo todo e não vejo as mudanças do dia. Será que tem como ficar preso nela? Eu só queria não ouvi-la mais por um bom tempo... Pensamento acelerado é algo que te corrói aos poucos.

As motocicletas passam apitando, e os caras dão "olá" aos amigos, os meninos falam na rua mas pareço estar distante demais. Eu sempre estou distante demais, isso não é novidade, mas me observar estando longe é de uma beleza exorbitante, talvez eu tenha me apaixonado por mim. Será que eu sou assim mesmo?

A lua brilha intensamente no céu apesar de estar um pouco nublado; eu a vejo. As casas baixas, os grilos cantando e os cachorros latindo. As nuvens escuras passando e o tempo indo junto com elas. E eu parada numa foto tirada no flash do tempo.

Regiane s Vieira
Enviado por Regiane s Vieira em 15/05/2024
Código do texto: T8063953
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