Triste realidade!

Acordei, feliz, sem nada ter para sorrir.

Minha cama é um colchão amassado que recuperei num vazadouro,

lavo o rosto, melhor passo dois dedos húmidos nos olhos pois minha água disponível é para beber.

Mas ainda assim sorrio,

Trinco as ultimas batatas fritas ressequidas de há dois dias,

calço minhas Nikes gastas e rotas, desço o barranco que me leva ao borborinho da vila,

cravo um cigarro, bebo uma ginginha oferecida pelo jornaleiro.

E deambulo pela marginal saboreando a maresia em meu rosto, que felicidade.

Cravo um outro cigarro, tusso e fico trémulo de falta de oxigénio,

quase meio dia, o estomago ronca, está frio e cai uma borrasca,

fico encharcado e procuro um abrigo. Sou escorraçado,

fedo, pela mistura da humidade com minha roupa nauseabunda,

reabre os raios de sol por entre as nuvens, seco minha tichert

de cava. Agora fico feliz...encontrei um lanche embalado meio trincado no balde do jardim.

A meio da tarde cochilo num banco da calçada,

acordo, já escureceu, mais um dia passado.

Continuo feliz, minha triste realidade é, passar cada dia mais um dia,

mais uma noite, húmida e fria no meu barraco.

Amanhã será uma surpresa...o de nada mudar e ser igual a hoje.

Afinal nada mudou, até eu continuar a estar feliz, de sorrir por nada ter.

Triste realidade...