MEUS DEZ POR CENTO ( Para os meus filhos de sangue e de coração)

Não me preocupo muito com números, mas penso que, de tudo aquilo que somos, uns dez por cento ficam com nossos filhos. Não é uma conta exata. Imagino que o restante faz parte de uma seleção da natureza e das vivências deste ponto em que estamos no tempo/espaço onde fomos gerados. Eu desejo muito que nestes dez por cento eu consiga transmitir o melhor de nossa descendência.

Que eu possa lhes trazer a fé e a doação de minha mãe, exemplo do amor ensinado pelo mestre Jesus, junto com a bondade incondicional de meu pai, que, sabiamente, com a sua maneira de silenciar, escolhia apenas os bons combates.

Que eu consiga transmitir a ética como régua para as suas decisões e o apoio para todas as horas em que o mundo parecer estar em descompasso com a retidão. Sejam vocês a mão amiga para a construção do bem e a severidade na hora de serem intransigentes contra a injustiça.

Que nestes dez por cento estejam a casa cheia, com prato e risos fartos ao redor da mesa nordestina.

Que nestes dez por cento não falte a paciência na hora do sofrimento, lição de sua avó, pois também não faltará a certeza de que Deus nos juntou para que estejamos abraçados, sem deixar o nosso irmão fraquejar.

Que nestes dez por cento haja sempre espaço para o perdão, pois ninguém pode viver feliz sem ter o coração limpo.

Leiam muito! Poesia, prosa, livros científicos, obras de arte e pessoas! Pessoas... Ah! Pessoa! o Fernando dizia: “Eu sou do tamanho do que vejo e não da minha altura...”

Que haja neste meu quinhão o apreço pelo trabalho. Que haja fartura para alimentar o corpo e a alma. E que seja tanta que possam dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede, seja de palavra ou de pão.

Que fiquem de fora os meus excessos, pois excessos nunca são bons... às vezes transbordo e as consequências são difíceis, mesmo quando se trata de afetos.

Que fiquem de fora os erros óbvios, aproveitem as pedras que me fizeram tropeçar e encontrem outras, diferentes, pois elas servirão para pavimentar melhor a estrada dos filhos que porventura estiverem sob seus cuidados.

Deixem de fora a tristeza que, às vezes, me ronda. Ela não gosta de risos. Não economizem: gargalhadas fartas e sonoras, piadas que agregam, luz do sol e água salgada!

Cuidem com muito carinho do corpo, templo do Criador. Não se despedacem diante do mal. O mal é uma doença e doente precisa de cura. Sejam firmes no amor e no bem e ele se dissipará.

E que, neste colar infinito da nossa ancestralidade, eu possa continuar a aprender os meus dez por cento com vocês, meus filhos: que hoje são minhas mães, meus pais.

Maristela Motta, 13/05/2024

Dia das Mães