Teias do Destino

Capítulo I - NOITE NA CLAREIRA

Em meio a uma densa e úmida floresta, onde clareira era iluminada pela noite estrelada, acontecia uma reunião.

Ao longe, podia-se ouvir o som das águas do Rio Amicita reverberando por toda o lugar.

Sob a luz do luar, criaturas mágicas (das mais diversas origens) e humanos, riam e dançavam e conversavam alegremente ao redor de um crepitante fogaréu.

Todos vestiam seus melhores trajes: ornados e moldados na mais pura seda, e usavam suas mais brilhantes joias esculpidas em rubi e ouro branco.

Uma gigantesca mesa se estendia ao redor da festa, ofertando jarros de vinhos da melhor qualidade (safra de cem anos); trufas, maçãs vermelhas e suculentas, pêssegos com uma fragrância apetitosa, morangos e cachos de uva, ornavam o banquete.

Enormes pães foram recheados com doce de leite e quitutes dos mais variados tamanhos e sabores eram servidos em polidas travessas de prata. Carnes, que derretiam na boca, estavam embebidas em um vistoso molho de finas ervas e dispostas em louças de porcelana, ao lado de lindas taças de cristal e talheres de prata.

Acerbus, o anfitrião - um homem alto, com uma acinzentada e grande barba, e de olhos amendoados e doces - conversava calorosamente com um dos seus convidados de honra, o Rei Rodríguez Reyes de Arquelândia.

— Acerbus, estou muito honrado com essa homenagem para a nossa pequena - declara Rodríguez colocando a mão no ombro do amigo.

Ambos olham admirados para a pequena Lara - de ralos cabelos cor de ameixa e vestida com um mimoso vestido lilás, digna de uma princesa - dormindo serenamente no colo de sua coruja e orgulhosa mãe, a Rainha Carmen Reyes.

— A honra é toda minha, compadre! Depois de tudo o que vocês dois passaram precisam comemorar com toda pompa a chegada de minha afilhada!

Além disso, também quero celebrar a relação de amizade de muitos anos entre Kallísto e Arquelândia! - exclama Acerbus.

Levantando sua taça, faz menção a um brinde:

— Atenção senhoras e senhores, peço um minuto a todos para que possamos brindar à saúde deste pequeno milagre que é a linda Lara! Que sua vida seja repleta de felicidade e fartura! Shekiah!

— Shekiah! – todos respondem em uníssono.

Emocionado, Rodríguez faz uma pequena reverência e declara:

- A Rainha Carmen e eu ficamos agradecidos com toda essa recepção, queridos amigos. Que nossa união se perpetue! - Conclui o discurso.

E então, uma salva de palmas explode e a dança começa novamente.

A festa seguiu animada: dríades, faunos e os camponeses arquelândios dançavam formando uma roda ao som de doces flautas e oboés.

Membros da família Caellum mostravam e explicavam a um interessado grupo de humanos como funcionava a constelação de Kallísto em noites como aquela;

Fadas da água corriam de um lado para o outro com as crianças, fazendo-as gargalhar de um modo que só as elas sabem (com aquele som estridente e gostoso de ouvir).

Toda a plateia sentia - se segura já que estavam de guarda os afiados e famosos arqueiros de Arquelândia e as temidas sereias - guardiãs de Kallísto,: criaturas metade mulher e metade pássaro.

Enquanto isso, na parte mais escura e escondida da clareira, não muito distante dali, um encapuzado observa a cena e murmura para si:

— Aproveitem esse breve momento de felicidade... - ri com desdém e sai, mancando com a ajuda de uma bengala, em direção à parte mais fechada e sombria da floresta.

Após alguns minutos, Carmen retoma a conversa dirigindo-se a Acerbus:

— Onde está Persefone? Lara sente falta da madrinha - brinca a rainha enquanto embala a bebê.

— Ela está muito indisposta, teve uma forte enxaqueca ontem e não conseguiu dormir praticamente - informa o bruxo e dá um sorriso amarelo para seus amigos.

— Mas que lástima! Por favor, diga que desejamos melhoras - pede Carmen.

— Mandarei seus cumprimentos comadre - diz, e suspirando disfarçadamente, se recorda da noite anterior e da discussão que teve com sua esposa, a poderosa e imponente bruxa, Persefone Vitium.

Ela simplesmente achava absurdo confraternizar com os humanos e por isso se recusou terminantemente a participar do evento.

Acerbus simplesmente não compreendia todo esse repúdio em relação aos humanos, já que Kallísto e Arquelândia sempre honraram seus acordos comerciais e geográficos, e também sempre apoiavam uns aos outros em momentos difíceis -como na Guerra Civil de Kallísto, por exemplo.

Tirando-o dos seus devaneios, Rodríguez avisa que está de partida:

— Querido amigo, obrigada por tudo! O próximo banquete será em meu castelo e vocês serão meus convidados de honra - prometeu Rodríguez, dando um forte abraço no chefe da família Vitum.

— A honra será toda minha! Carmen querida, descanse.

Acerbus cumprimenta a Rainha com um leve beijo em sua mão e acaricia a cabeça de Lara.

— Muito obrigada, Acerbus!

Carmen se vira e olha ao redor dizendo:

— Ramon, vamos querido!

Em segundos, um lindo garotinho aparece- todo desgrenhado e com os dois dentes da frente faltando - sorrindo de orelha a orelha.

Ramon é o irmão mais velho de Lara, o príncipe herdeiro de Arquelândia.

— Filho, olha seu estado! - comenta a rainha horrorizada ao ver o menino todo sujo.

— Desculpe mamãe, é que os duendes eu travamos uma guerra de lama - diz o sapeca.

— Não brigue com ele comadre, criança tem de ser criança! - Acerbus ri e complementa:

— Venham, os acompanharei até sua carruagem.

Assim, o pequeno grupo segue até o final de um caminho de pedras até seu destino.

Através da enorme janela do escritório que dava para a clareira, Persefone - acompanhava cada movimento de Carmen com sua bebê e o carinho com que a mesma embalava a criança.

E enquanto admirava a cena, lágrimas quentes caíram e pareciam queimar sua pele. Mais uma vez, seu coração se partia com a dor que a dilacerava.

Em breve, sairá o próximo capítulo...

Amanda Brasiliano
Enviado por Amanda Brasiliano em 30/04/2024
Reeditado em 30/04/2024
Código do texto: T8052856
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