Elegia Ante a Enchente
Chove forte lá fora
Bateria na telha de zinco
Ventos a cem por hora
Seguem sem ritmo
Meu desespero sem cura
Abandonado silêncio
Ensurdecedora censura
Chove aqui dentro
Núvens densas e escuras
Temporal inusitado
Enchentes e criaturas
Submergem do alagado
O frio daquela água
O medo veio dum rio
Nem rio mais dos pingos
Ás vezes parecem tiros
Ainda vão me buscar?
Ilhado até penso
Sem dono estou frágil
Desespero e desalento
Da esperança na busca
Água por todo lugar
Bondade às vezes ofusca
Sigo sem rumo a nadar
Como encontrar água limpa?
Ao redor só acho bagunça
Resultados de quem garimpa
Do ouro só restou a lambança
No atoleiro deste rio
Triste ficou meu Porto
Alegre é só a lembrança
Do dono que já está morto
E o cão resgatado
O cavalo no telhado
O gato desgarrado
Ou o galo afogado
Aos valentes voluntários
Apenas abano o rabo
É o modo como sou grato
Alívio ao ser encontrado
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Dedicado a todos que ajudam na recuperação das cidades do Rio Grande do Sul, afetadas pelas enchentes, resgatando pessoas, animais e coisas.