Vagões

Sozinho na estação de trem vejo os passageiros,

Alguns apressados, outros perdidos,

Há os que esqueceram algo,

Há os que mascam chiclete sem açúcar,

Há os que se abandonam em livros,

Há os que perambulam com música nos fones,

Há os que esperam alguém que não chega,

E tudo nessa vida não é transitório?

O efêmero das aparências,

O limite dos sentimentos,

As lacunas dos sentidos,

Alguns desejam a eternidade,

Outros só querem partir,

No final a viagem é a mesma,

Só muda a categoria do bilhete,

O azul é mais caro no guichê,

Se teve sorte embarcará na primeira classe,

O laranja é o que moedas podem pagar,

Se fez escolhas ruins ficará no vagão dos comuns,

Mesmo que todos almejem ser especiais,

O trajeto será o mesmo, mas não sua janela,

O tamanho estará reduzido,

A paisagem será sempre diferente,

Embora o destino seja o mesmo,

Não angustie seu coração,

No final da linha todos descerão,

O quadrinho se tornará um mural,

Os verdadeiros sortudos terão quem os receba,

Quem rodopie com eles pela plataforma,

Quem distribua sorrisos sinceros,

Quem os aperte forte contra o corpo,

Aquecendo o gelado das almas,

Não importando mais a classe do vagão...