Síndrome do Coração Partido
No abismo do ser, o vazio clama,
Eco de um cosmos sem alma.
O coração, em sua cama,
Despedaçado, sem calma,
Na existência que desencanta.
Cada pulsar, um grito mudo,
Na vastidão do nada crudo.
O amor, agora em luto,
Sob o céu de um mundo enxuto,
Caminha, sem rumo, surdo.
Reflexo de um eu partido,
Na superfície de um ido.
A esperança, um mito,
Na dor, um infinito,
No tempo, um desafio.
O peito, um labirinto,
Onde o sentir é extinto.
Onde houve fogo, cinzas sinto,
Restos de um amor distinto,
Na noite, um ponto extinto.
A lua, esfera indiferente,
Observa a dor latente.
Não alivia o presente,
De um amor, agora ausente,
Na alma, um frio permanente.
O vento, mensageiro vão,
Leva a vã oração.
Na escuridão da paixão,
O coração, em confusão,
Perdido na própria ilusão.
Estrelas, olhos que não veem,
Testemunhas do que não se tem.
No firmamento, um vaivém,
Silêncio que o desdém,
Da dor, faz refém.
O tempo, escultor de angústias,
Molda a tristeza nas rústicas.
Com mãos de desventuras,
Entalha na noite escura,
A solidão que perdura.
O mar, com suas ondas a quebrar,
Como sonhos a se desmanchar.
Na areia, marcas a se apagar,
E as lembranças a se esvair,
Enquanto as lágrimas a se derramar.
O amanhã, abismo a encarar,
Não promete mais consolar.
Só o eco a ressoar,
E o desafio a enfrentar,
De sem amor, continuar.
Na canção da ave, um lamento,
Na melodia, um sofrimento.
No voo, um desalento,
De um amor, em fragmento,
Que carrega seu tormento.
A noite cai, um véu a cobrir,
E a dor, aos poucos, a sumir.
Mas a síndrome a insistir,
No coração a definir,
A cicatriz a persistir.