Pulo

Desfaço o passo no compasso,

rabisco o lápis no papel manteiga,

pinto estrelas com guache no azulejo,

no amarelo do sol, o verde do bosque,

declamo poesias no silêncio da mente,

talvez não compreendas o que digo,

uma alma descompensada no porvir,

sorrio para o pássaro no azul do céu,

rodopio o monociclo no giro da rotunda,

uso o cinzel para esculpir minha alma,

gasto tempo com esculturas de argila,

atuo em pequenas peças de teatro,

seguindo no carro dos andarilhos,

fingindo ser um cigano das estradas,

perdido entre fantasias e verdades,

colho gravetos nos bosques do caminho,

amontoo-os com palavras mágicas,

para dar vida às madeiras de construção,

fazer emanar Pinóquios dos contos,

como um mágico Dr. Frankenstein,

pedir alguns raios entre nuvens escuras,

brandir trovões entre as cortinas da noite,

sussurrar para o vento provérbios chineses,

brincar de parlendas diante da fogueira,

enquanto asso marshmallows e maçãs,

prendo vagalumes em potes de vidro,

espero pelo raiar do dia no firmamento,

jogo bola de gude na areia do campinho,

retiro minhas asas somente ao dormir,

sonhando que estou voando sem cair,

acordando sob uma mureta no 9° andar,

sabendo que sou tributo da imortalidade,

entre o real e o imaginário é um pulo...