Um anime esquecido?

Quem era criança nos anos 80 talvez tenha assistido a um anime chamado Rei Arthur. Como o próprio título diz, a história fala sobre o lendário rei britânico e seus companheiros da Távola Redonda. Naturalmente, estão presentes o famoso cavaleiro Lancelote, Merlin, Morgana, Guinevere e também Tristão e Percival. Lançado numa época em que os animes não eram tão populares no Brasil como são hoje, é provável que poucos lembrem dele, o que é uma pena, pois era um bom desenho (pelo menos na primeira fase), com um tom épico, uma trama séria – que destoava de outros desenhos da época – personagens envolventes e bem desenvolvidos e muita ação e aventura.

Nesta versão da lenda do rei Arthur, o nosso herói, um adolescente ainda no início do seu reinado, luta contra o maligno rei Levik, que tenta, com a ajuda da bruxa Morgana, tomar o reino de Camelot de todas as formas. O jovem e intrépido rei, auxiliado por seus companheiros, enfrenta os inimigos com bastante coragem. Diferentemente de desenhos como He-man e She-ra, nos quais praticamente não havia violência e nem os heróis nem os vilões se machucavam seriamente, no desenho do rei Arthur pessoas se feriam, sangravam e morriam, o que com certeza chamou a atenção das crianças que assistiam ao anime.

Hoje, comparado a desenhos como os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball, rei Arthur poderia ser considerado suave. Obviamente, se fosse produzido hoje ele seria muito mais violento e seríamos brindados com cenas de mutilação e decapitação como vemos em Hellsing e Berserk. Talvez até contivesse cenas de nudez e sexo.

Um detalhe interessante do anime é que não há o triângulo amoroso envolvendo Arthur, Guinevere e Lancelote e também não há parentesco entre Morgana e Arthur. Enquanto que, em outras versões, Arthur e Morgana são irmãos, aqui ela é apenas uma bruxa maléfica. Entre alguns pecados do anime estão o de não desenvolver bem personagens como Merlin – que, a certa altura, desaparece sem deixar vestígios – e Kay, irmão adotivo do rei.

Infelizmente, na segunda fase, a história perdeu o foco. Nesta fase, Arthur, disfarçando-se de andarilho, resolve percorrer seu reino e acaba se juntando a outros dois andarilhos. Volta e meia, ele assume a identidade de o “príncipe do cavalo branco” e, vestido com sua armadura, combate os homens do malvado rei do Norte, cuja identidade é um mistério. O tom épico da primeira fase deu lugar a um mais cômico, o que terminou por descaracterizar a trama. Para piorar, esta segunda fase não foi completamente exibida aqui no Brasil, o que deve ter deixado muitas pessoas insatisfeitas.

Tirando a segunda fase e alguns erros, o desenho do rei Arthur é uma grande aventura, com lutas empolgantes e realistas e um protagonista apaixonantes, com todas as características de um herói: coragem, honra e nobreza de sentimentos.