Redenção (fragmento de texto I)

Certo dia, fez-se chegar um presente, uma caixa e, dentro dela, havia uma taça. Ele nem pensou. Simplesmente esmagou o crânio com suas mãos e chamou um brinde.

Brindou à morte, não à vida!

Agora, era dele a extensão de terras vizinha e só precisaria apropriar-se dela.

— "Magnífico presente, magnífico!"

Como delicia-se o ser humano com a desventura alheia!

Por vezes, a destruição de um inimigo pode significar para alguns, sua glória!

"Magnífico presente!" — ele disse — "magnífico!"

Ao longe, pude ouvir um som estranho. Gemidos? Talvez.

Avistei à margem do rio, um pobre homem agonizante. Dele aproximei-me na esperança de acalmar sua alma, trazer conforto à dor, que supus, sentia.

Amparei-o em meus braços e escutei-o dizer:

— Não bebas desta água, pois, dela vem o veneno cruel que cegará tuas vistas, antes de levá-lo com demora e penúria às portas tenebrosas da morte!

É preciso que todos saibam, que Ele veio... o Mal nasceu e está entre nós!

"Et ego comploro!" (E eu lamento!)

Da escultura de pedra, eis que Ele surgiu. Um grito horrendo foi ouvido. A Vida verteu lágrimas de dor!

Ventava e chovia sem cessar. O vento soltava uivos como o de lobos vorazes. A terra abria sua boca para sugar a existência.

Em Seu corpo, cada músculo, uma rocha.

A maior de todas as forças não o podia quebrar. Em Seus olhos, o fogo...

"In uitae nostris laetitiae non erunt." (Não existirão alegrias em nossas vidas)

Eis que levanta-se aquele a quem chamarão as gerações que vierem.

Será Dele a crueldade infinita pela qual aguardou o ser humano, por eras.

Até que o cálice secou e não houve mais sangue ou as lágrimas de dor!

Agora é tarde! "Futura incerta est. Miserere nostri." (O futuro é incerto. Tem compaixão de nós!)