Se enxergar do profundo
Estranho revisitar nossa história
a partir do ponto que incomoda
Eu devo me perdoar por me auto punir
Pelas vezes que nem tentei ser feliz por medo de sofrer
Acontece que curar os traumas é um processo longo
Lembro de tantos pretendentes querendo me dar amor
Homens que me admiravam
E eu? Não quis enxergar
Saí correndo com a respiração ofegante
Sempre em fuga
inventando desculpas para eles desistirem de mim
Negando a mim o direito do amor
Sendo meu próprio algoz
Esperando um milagre
Esperando uma cura
Nada pode acontecer se eu não me conhecer o suficiente pra saber que me saboto
Estou evoluindo bem lentamente
Tempos atrás eu costumava me sentir como se eu estivesse numa sala cheia de ratos
Um asco me acometia quando eu me imaginava segurando a mão de alguém
O lixo que colocaram em mim ficou por um tempo
Vou varrendo os cômodos internos
Limpando a bagunça que fizeram
Amar demais me machucou muito
Então me tranquei
Quase cortei meu pulso
Mas tem sempre uma fagulha de vida que entra através de um pequeno feixe de luz que perpassa o furinho da janela
Respiro fundo
Me cuido
Insisto em viver em sorrir
Me corrijo e me perdoo
Ficarei atenta e mais grata
Vou mergulhando no inconsciente
E nas águas mais profundas de mim
Tento enxergar o que fica escondido
Tomo coragem
Alimento os sonhos perdidos
E beijo a boca do instante que logo não existirá