O Toque da Morte - Livro 02 - A Rosa do Deserto - Parte I - Descobertas e Uma Negociação Tensa

Quando tudo estava perdido pra nós, presenciamos uma cena até certo ponto estranha.

Alguém havia aberto uma vala pra derrubar os cavalos dos estranhos muçulmanos e três deles derrubaram seus condutores. Os demais, mais precavidos, acabaram recuando.

Encontramos ali uma misteriosa mulher bem-vestida de cabelos negros e com uma imponência majestosa. Se comportava mesmo como uma rainha.

Tenho que admitir, era linda mesmo, mas também cruel com aqueles que não seguem sua religião.

Nós descobrimos depois que os cavaleiros eram muçulmanos vindos de outro domínio que vieram para nos alertar sobre a mulher e sabendo por um deles que o irmão dela havia o amado tanto que nunca mais voltou a ser a mesma pessoa.

Chegamos então á conclusão de que ela possui uma atração especial por homens incomuns.

Ainda se proclamava diante de nós como a Filha do Sol.

Lamentei muito que aquele baroviano safado também chamado Nicolai não estivesse conosco. Sem dúvida, como diria um provérbio dementliano, seria atingida pela flecha do amor caindo de paixão por ele.

No entanto, tínhamos um substituto perfeito para os anseios dela sem percebermos.

Na forma de um certo clérigo.

* * *

Após tensa negociação, conseguimos três cavalos pra seguir viagem com Vareen curando-os de seus ferimentos. Pra acabar com as arengas e confusões, decidi de comum acordo que Moisés iria comigo em um dos cavalos.

No meio do caminho, pegamos um forte temporal, algo incomum para esse tipo de área.

Notei que William estava um pouco diferente do habitual começando a dizer coisas sem sentido.

Provavelmente um poder mental desconhecido o incomodou e se não fosse Caleb ter dissipado esta maldição com sua magia, não sei o que teria acontecido conosco.

E pra nossa surpresa, descobrimos que havia saído fumaça nas costas dele. Provavelmente uma tentativa de possessão ou algo do tipo.

O céu se fechou novamente e a chuva voltou com toda força. Vimos de relance uma mulher feita de lama e assim como surgiu, a chuva logo passou e pra nossa alegria, o sol apareceu de novo.

Não era pra se alegrar muito, entretanto. O calor estava mais forte do que nunca e estávamos cansados pela longa cavalgada. Logo passamos a uma espécie de templo dedicado a um estranho deus chacal e logo na entrada do Vale da Morte, encontramos um menino desorientado e perdido.

Pelo que sei, era provavelmente um dos meninos selvagens que serviam de alimento a uma vampira chamada Moosha. Ouvi falar de uma história em que uma dessas crianças poderia ser o príncipe herdeiro de uma terra distante e que salvaria essa vampira de uma vida infeliz, mas não havia consciência o suficiente para entender isso.

Notamos na entrada de uma colina, uma espécie de caverna profunda e logo fomos investigar.

Passamos um córrego e vimos a tal caverna mais de perto. E o que Vareen e eu encontramos nos surpreendeu ainda mais.

Havia uma fogueira na parte central da caverna e encontramos alguns vultos ao redor dela.

Eram crianças e ao julgar pelo tamanho, tinham uns seis anos de idade mais ou menos.

Vareen teve outra de suas brilhantes ideias. Ele fez pães com sua magia para entregar as crianças que comiam com sofreguidão.

Eram iguais a aquela criança que encontramos na entrada da colina. Pareciam mais selvagens ainda à primeira vista, mas como já relatei, tinham uma história bem complicada.

Naquele momento, notei que Vareen estava se sentindo estranho. Também senti um frio na espinha como se estivesse triste e angustiado.

Era o barulho do vento.

* * *

A ventania estava forte demais e Vareen ergueu uma parede para nos proteger do impacto. Notei algo perturbador no clérigo como se estivesse angustiado com alguma coisa que estava prestes a acontecer com um de nós.

Será que Vareen pressentiu algo nefasto?

No meio da tormenta, acabamos descobrindo que quem controlava o tempo era uma espécie de deus com cabeça de chacal. Provavelmente Anúbis? Ou outro desses estranhos deuses de Sebua?

Então o vendaval parou tão rápido como começou e saímos sãos e salvos da caverna dos meninos selvagens. Fiquei triste com a situação deles, mas sabia que pouco poderia fazer.

Vareen estava muito sério e nem mesmo as piadas de Caleb foram capazes de animar o clérigo.

Mas William e eu sabíamos no íntimo o que Vareen mais temia.

O medo de perder um de nós para sempre.

* * *

Assim que deixamos a montanha, andamos pelo deserto em um dos dias mais escaldantes desde que chegamos a Sebua. Se não fosse pela habilidade mágica dos “velhinhos”, talvez morreríamos desidratados.

Enquanto isso, Moisés não parava de falar um minuto das maravilhas que a tal religião dele faz a um homem. Se William não tivesse tanto interesse especial por este garoto, Provavelmente Vareen e Caleb tê-lo-iam deixado pra morrer no deserto.

Talvez até atazanaria a vida do lorde negro da Falcônia a ponto de desistir de mata-lo e ser convertido ou se enfurecer tanto com a persistência de Moisés a ponto de crucifica-lo.

Não seria uma boa ideia. Moisés acabaria sendo um mártir da causa da religião dele.

Ficamos boquiabertos com o que vimos e provamos que os registros estavam errados. Achamos que encontraríamos uma chácara modesta e ao invés disso, vimos um palácio novinho em folha, bem cuidado e cheio de empregados e de sacerdotisas. Aquele baroviano safado amaria esse lugar.

Aqui Moisés não foi tratado a cusparadas e os habitantes da vila próxima ao palácio seguiam suas vidas tranquilamente.

Mas as surpresas não pararam por aí. E foram ainda maiores do lado de dentro do palácio.

Assim que fizemos o ritual exigido para nos comunicar com a comitiva do palácio, surgiu uma mulher deslumbrante trajando roupas típicas de imperatriz.

Era alta para os padrões locais e cujo olhar era capaz de enlouquecer qualquer homem. Vareen que o diga.

Ela se apresentou a nós como uma autêntica Filha do Sol.

A lorde do domínio de Sebua.

A senhora de todos os desertos.

Tiyet.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 18/05/2024
Código do texto: T8065882
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