Análise do poema "Perdi os Meus Fantásticos Castelos" de Florbela Espanca

Queridos, compartilho com vocês essa humilde interpretação do poema de Florbela Espanca. Iniciarei, apresentando cada estrofe, seguida dos comentários sobre a poesia.

"Perdi meus fantásticos castelos

Como névoa distante que se esfuma...

Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:

Quebrei as minhas lanças uma a uma"

Nos primeiros versos, a poetisa parece dizer que lutou para não perder algo que para ela tinha grande significado, mas suas defesas não foram suficientes para manter com ela o que um dia foi importante. Torna-se necessário destacar que durante todo o poema, Florbela traz a dor da perda em seus versos.

"Perdi minhas galeras entre os gelos

Que se afundaram sobre um mar de bruma...

- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –

Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!"

Afundaram em um mar repleto de escolhos (obstáculos) que provavelmente provocaram grandes danos em cada uma das embarcações que não conseguiram seguir em frente. O que era importante para a poetisa foi se perdendo. Essas perdas aconteceram em um contexto específico: “entre os gelos”, a meu ver, em um contexto de frieza, de dureza. E ela permaneceu ali, vendo o que era importante, perdendo-se diante de seus olhos.

"Perdi a minha taça, o meu anel,

A minha cota de aço, o meu corcel,

Perdi meu elmo de ouro e pedrarias"

Ao nomear tantas perdas nesses versos, Florbela nos fala de "símbolos". Símbolo pode ser entendido como aquilo que para a pessoa tem significado e afeta a forma de pensar, agir, sentir, etc. Ao perder a taça, o que foi perdido? E o que aquele anel tão específico simbolizava?

A taça, o anel, o exuberante tão bem descrito nessa estrofe permite pensar em momentos de festa, de convivência com as pessoas. E muito mais do que objetos de grande valor, esses momentos também foram se perdendo.

Ainda nessa estrofe, a poetisa parece dizer que de alguma forma está desprotegida. As armaduras eram utilizadas para impedir golpes que poderiam ser fatais. E ela relata ter perdido tanto a “cota de aço” quanto seu “elmo de ouro”.

"Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...

Sobre o meu coração pesam montanhas...

Olho assombrada as minhas mãos vazias"...

A poesia termina desenhando uma cena: Os castelos e embarcações foram perdidos, o que para ela tinha significado não mais a pertencia. No peito uma dor gigantesca, que se transforma em "súplicas estranhas", o grito desesperado de seu coração em sofrimento.

E a poetisa ali, assombrada com o vazio que ficou. E agora? Os sentidos que a levaram a escrever são mais complexos que a própria poesia produzida. Mas, antes de encerrar essa interpretação, gostaria de fazer um resgate de tudo que ela relatou ter pedido: suas armas para defesa, sua proteção, os momentos de lazer, assim como tudo o que para ela um dia foi precioso. No fim da estrofe, ela relata sentir no peito uma "montanha", o que nos permite pensar que Florbela estava vivenciando uma dor imensa diante de tudo aqui que estava se perdendo para ela. Trata-se de um desmoronar de sentidos, mas ao mesmo tempo, um pedido de ajuda, porque apesar das mãos vazias e da dor invadindo seu peito, a poetisa ousou escrever.

Utilizando da licença poética para ser também uma "inventora de significados", permito que a poesia de Florbela termine deixando para nós uma provocação: Apesar de toda dor e de toda perda, continua sendo necessário que cada pessoa terá encontre novos sentidos para continuar ou recomeçar a escrever sua história.

Lirlaine C Vaz
Enviado por Lirlaine C Vaz em 12/07/2017
Reeditado em 23/03/2020
Código do texto: T6052653
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