Comunicação

A história da comunicação começou quando o homem deu seu primeiro berro. Eu precisaria de tempo para pormenorizar e com a agravante de não me tornar enfadonho. Por isso terei que dar um pulo gigantesco, de alguns segundos luz.

No princípio o Senhor Deus dotou as pessoas com dois ouvidos e recentemente a ciência médica adotando uma nova nomenclatura, chamou de orelhas. Duas orelhas e uma boca, para que o homem ouvindo bem, pudesse falar certo e melhor. Só que o homem foi despertado por uma incrível obstinação no falar e com isso inverteu os sentido original: fala muito. Por vezes desordenado e ouvi mal.

Com o passar das eras, o homem inventou uma engenhoca, a quem deu o nome de rádio. O rádio é outro destrambelhado que fala desbragadamente sem parar, por horas a fio e não ouvi nada. O Rádio teve seus momentos de gloria e glamour. Representa um marco de progresso na história da comunicação, pelo entretenimento e diversidade de serviços de utilidade pública. Ainda me lembro dos programas de auditório na Rádio Difusoura de Teresina, ZYQ-3 e ZYU-8, comandado por Rodrigues Filho e Murilo Campelo. Hoje, o rádio está relegado a um terceiro plano e com espaço reduzido em razão do que já fora um dia.

As famílias costumavam reunidas nas portas de suas casas, especialmente à boca da noite, desenvolver conversas intermináveis, enquanto as crianças brincavam na rua sob o olhar atento dos pais. Nem nesses momentos os rádios eram desligados, ficando falando só na sala, sem um pé de vivente a lhe dar atenção.

Um dia o homem inventou a televisão. Essa veio com muito mais atrativos que o rádio. Uma programação visual variadíssima que atendia a todos os públicos. Com o advento da televisão, silenciosamente acontecera uma grande desgraça. As famílias saíram das calçadas e se isolaram dentro de suas casas de frente pra TV, ao tempo em que aos membros da mesma família se isolaram, sem diálogo. A televisão, senhora absoluta da sala, não admite ser interrompida, especialmente porque raramente oferece “repeteco”. Reclama pra si atenção total e respeito, principalmente no horário nobre das novelas.

A telefonia celular foi o grande invento do final do Século XX. Antes porém, inventaram a central BIP (não era Produto Interno Bruto). Era um aparelhinho que acoplado ao cinto masculino, emitia um som bip...bip... bip. A pessooa corria a um telefone fixo e ligava para a central que lhe transmitia um recado de alguém.

O telefone celular, inicialmente idealizado para os abastados, terminou adentrando ao terreno das pessoas simples. Ao tempo em que podíamos nos comunicar com outros aparelhos de qualquer lugar do mundo, também se transformou num cabresto, não permitindo que ninguém pudesse se esconder. Em qualquer buraco seremos encontrados e nem adianta chiar!

Foi nesse ambiente televisivo e telecomunicativo que aconteceu a grande virada da comunicação, com a descoberta ou invenção do WhatsApp. O WhatsApp realizou algo surpreendentemente inimaginável: Isolou a televisão, que tinha isolado a família, que tinha isolado o rádio e isolou ainda mais as pessoas que estavam diante da televisão uma das outras ao tempo em que as unia aos distantes. Pense numa desgraça dessa! Ficou definitivamente implantada a lei do silêncio e da introspecção.

Outro dia eu estava na antessala de um consultório odontológico juntamente com outras dez pessoas, a atendente e uma TV ligada. Reinava um silêncio ensurdecedor e se não fosse pela TV daria para se ouvir um vírus da gripe rodando no ar. Todas as pessoas com os olhos pregados no "displeys" dos celulares e os dedos freneticamente, tal bailarinas enlouquecidas, escreviam palavras de uma língua exótica, usando caracteres latinos, coisas como: “kxorro q bbs late ñ leite...”

Onde iremos parar? Ou como dizemos lá em minhas paragens: adonde vamos esbarrar?

Um Piauiense Armengador de Versos
Enviado por Um Piauiense Armengador de Versos em 07/06/2017
Reeditado em 08/01/2019
Código do texto: T6021355
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