Sobre o malandro e o “mane”

Não há nada mais irritante, frustrante, decepcionante, angustiante do que se descobrir um “mane” no meio de um mundo abarrotado de malandros. Desses que, espertos como o diabo, descobrem que não há recurso melhor para um malandro do que se fantasiar de “mane”, sendo autêntico “mane” aquele que, pensando que o melhor é seguir os conselhos de um “coração bondoso”, enquanto alimenta ilusões de que a honestidade está entre maiores bens – segundo crê, compondo “Quarteto Bondade” o amor, a humildade e o altruísmo – passa pela vida sofrendo investidas perversas de aproveitadores de todas as raças, culturas, gêneros e idades.

Mesmo sendo triste reconhecer, apesar de todas as investidas dos sistemas educacionais à meta da formação do bom caráter – baseados na ideia de que bombardeios informativos desenvolver-nos à educação e, consequentemente, humanidade, antítese da desumanidade e seu intento de destruir tudo que consideramos expressões do Bem – infelizmente, depois de milênios de observações e convivências haveremos de reconhecer estarem certos todos os que garantiram que “pau que nasce torno morre torto”. Porque, como diz a letra daquela música, “malandro é malandro e mane é mane”, não raro sendo o malandro e suas malandragens considerados únicos “bons” exemplos que devem ser seguidos, se queremos “nos dar bem” nesse mundo. Pois, desde crianças, contrariando sugestões do velho filósofo grego Aristóteles – que nos garantiu ser melhor sofrer injustiças do que as cometer – é melhor provocar bulling’s do que sofrê-los, mesmo sendo isso muito difícil para os que nasceram “amaldiçoados” por boa índole. E mesmo que, aqui e ali, alguns malandros paguem por seus atos de desonestidade e violência – sendo parcos os exemplos de que “o crime não compensa” no meio de toda imperatriz bandalheira – a maioria deles tem conseguido conquistar os melhores lugares no topo dos que compõem a pirâmide social; quer no campo empresarial, entre os que se dizem “porta-vozes da Justiça” ou na política partidária, sendo esses três poderes fundamentos de toda dinâmica de vampirismos da força de trabalho e das boas intenções da maioria da carente população de “manes” existente no planeta.

Entre as contribuições ao aumento dessa horda de idiotas, o Cristianismo e seus ensinamentos sobre a necessidade de desenvolvimento daqueles referidos quatro sentimentos que formam o “Quarteto Bondade” – a despeito de sua inegável contribuição à domesticação de nossos maus instintos; maus porque selvagens; selvagens porque animais; animais porque incivilizados e, portanto, incapazes de promover a humanidade sem que sejam sublimados. Pois enquanto aos “manes” é admoestado amar o próximo à aproximação dos distantes à realização do grande abraço fraternal para promoção do “fim das diferenças” e de todas as perversas investidas dos malandros, esses os querem o mais distante deles possível a fim de que pratiquem impunemente seus exercícios de exploração universal.

Mas, justiça seja feita: entre tudo de realmente bom que grandes seres humanos pensaram poder realizar a promoção do desenvolvimento da plena humanidade sobre a Terra, as ideias de Jesus e seus seguidores, entre outros promotores de pretendidas inclusivas convivências, foram, são e continuarão sendo instrumentos usados por grandes malandros à promoção do mal alheio.

Ao logo de milênios, se utilizando sedutoramente da “palavra de Deus”, eles têm arregimentado seguidores necessitados “manes”. Pois, sem discernimento sobre o que sejam parábolas e metáforas (se é que de fato não passem de falácias), os “manes” creem que, senão aqui, todas as suas necessidades e dores serão superadas no Paraíso situado “lá em cima, no céu” – onde só poderão chegar os que se despojarem do inferno que é carregar pesos; não apenas o peso de suas atormentadas mentes e das nunca satisfeitas necessidades de seus velhos corpos (tenham eles a idade que tiverem), mas de toda ambição pela posse dos muitos bens materiais que, deixados e acumulados ao exaustivo acúmulo e usufruto dos malandros, antes que se lhes comam também as traças e os vermes, são apenas grandes pesos a dificultarem a “queda para o alto” dos “manes”.

E assim vão vivendo malandros e “manes”, estando agora grande parte desses últimos, por força da evolução e da necessidade, a desenvolver a percepção de que, quer políticos, sacerdotes ou empresários, devem se esforçar para se tornarem bons malandros à conquista de lugar confortável entre os reconhecidos herdeiros de todos os bens desenvolvidos aos fundamentos dos reinos construídos; quer sobre a Terra ou no céu.