ARGUMENTOS CONTRA A INSPIRAÇÃO DIVINA DA BÍBLIA - 1º Não temos os originais

Saudações Humanistas!

Estudo religiões desde 1998, e gostaria de compartilhar com vocês o conhecimento que adquiri nesses anos. O nome desse meu projeto é “Bíblia Sagrada – palavra de Deus ou dos homens?” e a análise que será feita é sob a perspectiva da crítica textual, histórica, antropológica, científica, filosófica, sociológica e psicológica.

O que será discutido não é a crença na existência de Deus, a qual eu respeito profundamente... e sim, discutir se a Bíblia é um livro revelado por Deus.

A maior parte das pessoas que nasce num país de maioria cristã acredita que sim, a Bíblia é a palavra de Deus, isto é, os escritores da Bíblia foram orientados diretamente por Deus. De onde vem essa certeza? Da educação e do lugar onde nasceram.

Se a pessoa que acredita que a Bíblia é a palavra de Deus tivesse um irmão gêmeo e fosse levado para ser criado em Calcutá, por pais hindus, com grandes chances, o texto sagrado para ele seriam os Vedas. Se fosse levado para ser educado em Cabul, capital do Afeganistão, por pais muçulmanos e estudado em uma madrassa, provavelmente seu livro de cabeceira seria o Corão.

Portanto, em geral, o fato de alguém acreditar que a Bíblia é a palavra de Deus não tem a ver com uma escolha pessoal. Ninguém precisou ir para uma montanha refletir durante anos sobre o assunto. Basta nascer num lar cristão e o livro que você vai escolher como “sagrado” é a Bíblia. Bem poucos abandonam essa crença quando crescem.

Hoje, a maioria dos que estudam a Bíblia sob uma ótica científica, tem certeza de que ela não é a palavra de Deus, mas de homens comuns que diziam escrever orientados por Deus. Segundo dizem esses especialistas, os antigos, sempre que queriam escrever alguma lei ou transmitir ensinamentos, costumavam dizer que foram orientados por um deus. Por que diziam isso? Porque dava mais autoridade e credibilidade ao que queriam transmitir.

E é possível provar que a Bíblia é a palavra de homens e não de Deus. Sim, é. Existem dezenas de argumentos contra a inspiração divina na Bíblia. Eu reuni os seis principais e gostaria de compartilhar com vocês.

Você terá algum benefício em conhecer tais argumentos? Acredito plenamente que sim, porque as coisas que a Bíblia ensina nem sempre são sábias e úteis. Muito do que ela ensina é extremamente nocivo para o crescimento psicológico e felicidade das pessoas. Hoje, veremos o primeiro argumento contra a inspiração divina da Bíblia. Nos próximos dias apresentarei os outros.

1 – PRIMEIRO ARGUMENTO: NÃO TEMOS OS ORIGINAIS

Para que a Bíblia chegasse até nossos dias foi necessário o trabalho de centenas de tradutores e copistas (amadores e profissionais, estes pagos pela Igreja). Segundo especialistas, os textos originais bíblicos sofreram importantes transformações ao longo dos séculos, durante o processo de tradução para outros idiomas, de forma que o que se tem em casa é bem diferente do que os cristãos liam nos primeiros séculos. Os peritos encontraram provas de erros de transcrição de uma cópia para outra, bem como interpolações feitas pelos próprios copistas, talvez querendo se colocar no lugar de deus, dar um dedo pessoal ao trabalho encomendado ou obedecendo as ordens de quem lhes pagavam. Os textos originais se perderam no tempo, e o que temos hoje são cópias de outras centenas de cópias dos originais.

No livro “O que Jesus disse? O que Jesus não disse? quem mudou a Bíblia e por quê?” de Bart Ehrman, temos uma minuciosa pesquisa dos motivos pelos quais os textos originais das escrituras foram adulterados. Já de início, ele revela:

“Ao ler o Novo Testamento, as pessoas pensam estar lendo uma cópia exata das palavras de Jesus ou do escrito dos seus apóstolos. contudo, por quase mil e quinhentos anos, esses manuscritos foram reproduzidos por copistas profundamente influenciados pelas controvérsias políticas, teológicas e culturais de seu tempo. Tanto os erros quanto as mudanças intencionais são muitos nos manuscritos subsistentes, dificultando a reconstituição das palavras originais.”

Depois ele comenta que um padre do século três, chamado Orígenes, deixou registrada uma queixa sobre as cópias dos evangelhos que possuía em sua casa:

“As diferenças entre os manuscritos se tornaram gritantes, ou pela negligência de algum copista ou pela audácia perversa de outros; ou eles descuidam de verificar o que transcreveram ou, no processo de verificação, acrescentam ou apagam trechos, como mais lhes agrade.”

Bart Ehrman, analisando a autenticidade da Bíblia, comenta no mesmo livro:

“De que nos vale dizer que a Bíblia é a palavra infalível de Deus se, de fato, não temos as palavras que Deus inspirou de modo infalível, mas apenas as palavras copiadas pelos copistas – algumas vezes corretamente, mas outras (muitas outras!) incorretamente? De que vale dizer que os autógrafos (isto é, os originais) foram inspirados? Nós não temos os originais! O que temos são cópias eivadas de erros, e a vasta maioria delas são centúrias retiradas dos originais e diferentes deles, evidentemente, em milhares de modos.”

Outro livro que abalou a credibilidade bíblica foi “A Bíblia não tinha razão”, de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, ambos de origem israelita. Os autores argumentam que

“A epopeia histórica contida na Bíblia – desde o encontro de Abraão com Deus e sua marcha a Canaã até a liberação da escravidão dos filhos de Israel por Moisés e o auge da queda dos reinos de Israel e Judá – não foi uma revelação milagrosa, mas sim um magnífico produto da imaginação humana. Segundo dão a entender os achados arqueológicos, começou a conceber-se há uns vinte e seis séculos, em um período de duas ou três gerações.”

O Antigo Testamento, segundo afirma a dupla de pesquisadores, é uma compilação de acontecimentos históricos, lendas, folclore, contos populares, memórias, propaganda monárquica, poesia antiga e outras informações que havia na época de sua redação. O objetivo maior é de cunho político-ideológico para sustentar as reivindicações de judá sobre territórios palestinos, que os judeus acreditavam pertencer a eles, por decreto divino.

Deus em seu infinito saber, jamais deixaria que suas palavras fossem colocadas em dúvida no futuro. Não permitiria que elas se perdessem com os ventos do deserto, e fossem substituídas por versões grotescas, cujas diferenças eram tanto maiores quanto mais distantes se encontravam uma da outra.

Portanto, a Bíblia não é a palavra de Deus.