E POR FALAR EM VÍCIOS...

I

Penso que é um equívoco definir como vícios somente aqueles que têm relação com drogas de qualquer origem. Isto porque, no meu entender tudo aquilo que gera dependência é um vício; maus hábitos também são vícios. Por exemplo, a submissão sistemática a relacionamentos onde a pessoa abdica de sua dignidade e nega seus valores, pode muito bem ser visto como um vício, pois, existe aí, mesmo que de modo inconsciente, uma situação geradora de dependência.

Partindo de uma análise mais profunda da autoestima, pode-se afirmar que toda situação em que o indivíduo constantemente anula suas vontades, desejos e sonhos, ou que, de certa maneira, foge à realidade da sua vida, pode ser considerada uma espécie de vício. Por isso é que soa caricato quando alguém tenta justificar seus vícios usando frases do tipo: “depois que tomo umas doses fico mais descontraído”, “alivia o meu stress”, “fico super legal”, “perco a timidez”, “aí eu consigo dormir bem”. Alguns até declaram “afeto” ao seu calmante preferido, como ouvi certa vez na sala de espera de um consultório médico: “o que seria de mim sem o meu lexotanzinho...”. Loucura, né! A ironia é que alguns viciados em remédios para dormir, depois de algum tempo precisam tomar outro para permanecerem acordados. E ainda há aqueles que bebem ou se drogam, perdendo o controle de suas vidas por temer a sobriedade.

Para efeito dessa reflexão, vale também observar que existem pessoas viciadas em relações insatisfatórias, pessoas que vivem entrando e saindo e, às vezes, permanecendo até morrer em relacionamentos conturbados (onde o amor se confunde com o ódio e o prazer com a dor). São pessoas que não conseguem desenvolver amor por si mesmas, que não confiam que podem vencer seus limites ou almejar algo melhor para suas vidas. Contentam-se com qualquer companhia, mesmo que ela seja de péssima qualidade e não haja respeito pela sua dignidade. Vale explicitar que quando me refiro aos relacionamentos, incluo nesse rol as relações de modo geral, inclusive sociedades e amizades que se sustentam por situações de dependência e co-dependência.

Enfim, a verdade é que os vícios de qualquer natureza são refúgios de quem tem medo de viver, de quem se sente incapaz de superar dificuldades e perdas incrustadas no passado. E a saída nesses casos é aprimorar o senso de autovalorização para elevar a autoestima, além de viver o presente com maior consciência nutrindo sempre o amor por si mesmo.

II

Complementando o que já foi dito no texto antecedente, pode-se afiançar que muitos dos vícios têm sua origem em pré-disposições ou atitudes mentais que causam, de modo compulsivo, submissão a pessoas, situações ou outros elementos artificiais ou ilusórios. O aprendizado da dependência, comumente, principia na infância, onde é instalado na mente da criança ou adolescente, por adultos superprotetores ou repressores despreparados para educá-los, sentenças ou mandatos repressivos que vão atuar internamente como mensagens bloqueadoras durante toda sua vida, impedindo-a de desenvolver seu senso de autonomia e sua capacidade racional. Ainda há aqueles outros que trazem dentro de si a marca de experiências onde lhes foi negado a oportunidade de exercer seu poder de escolha seja em relação a estudo, profissão, amigos e parceiros afetivos. Enfim, estas são algumas das ruinosas interferências que vão formar mais adiante indivíduos sem autoconfiança, submissos, medrosos e inseguros. Portanto, sem me deter em outras causas possíveis, a conclusão é de que a base que propicia o surgimento dos inúmeros vícios está umbilicalmente vinculada aos ambientes familiar e social que, ao se proporem a educar o indivíduo, primam pela carência de estímulos ao pensar com autonomia e à afetividade.

Como não existem vícios que não possam ser superados, eis algumas sugestões para controlá-los e resgatar sua qualidade de vida: 1) Invista em seu autoconhecimento para reconhecer suas profundas qualidades ou competências e as dificuldades que terá que superar; 2) Assuma total responsabilidade pela sua vida, seja o personagem principal dela; 3) Seja honesto consigo mesmo, o tempo todo; 4) Faça contato e assuma a sua realidade, seja ela qual for você deve enfrentá-la e transformá-la para melhor; 5) Seja humilde para reconhecer quando necessita de ajuda; 6) Aprimore a sua capacidade racional de decidir, faça suas escolhas cada vez mais livres das opiniões alheias; 7) Aprenda a dizer “não” quantas vezes forem necessárias e preserve sua autonomia; 8) No âmbito da família, no trabalho e na convivência social, procure criar um clima de liberdade e respeito, seja autêntico e aceite que os outros também o sejam; 9) Invista em padrões mentais e comportamentais positivos, crie novos e bons hábitos; 10) Alimente sua auto-estima com valores positivos, se autovalorize e respeite a si próprio; 11) Desenvolva seu bom humor, seja flexível com você e com os outros; 12) Aprenda a ser afetivo com você mesmo, ame-se; 13) Aprimore a sua espiritualidade, entendendo que ela é a base do fortalecimento da sua capacidade de ser feliz;

A ordem das sugestões não precisa ser necessariamente esta, pratique-as de acordo com o seu livre arbítrio, que é uma habilidade seletiva que merece atenção e aprimoramento, principalmente quando se trata de abandonar vícios e hábitos negativos e autodestrutivos.

Boa Reflexão e viva consciente.