Cuidador do portador de Mal de Alzheimer
     Esta é uma doença degenerativa do cérebro, que aos poucos, vai perdendo suas principais funções. Um dos primeiros sintomas é a falta de memória.
     Com o passar do tempo, o paciente começa a ficar cada vez mais confuso, repetitivo e com algumas manias.
     Muitas vezes fica nervosa e reclamadora, e de repente já está alegre e nem lembra que ofendeu ou reclamou de algo.
     É preciso ter muita estrutura e paciência pois, o humor varia como se fosse uma bipolaridade... algumas noites dormem, nas outras reclamam e falam que não dormiram nada, mas a gente percebe que o paciente acorda para ir ao banheiro, e fica com a impressão que não dormiu nada. Para comer, é muito difícil, as vezes não conseguimos agradar o paladar que está sempre alterado. É melhor conviver, forçar a se alimentar um pouco.
     Na mesma hora que fala que sente dor, já não sentem nada, por isto observar bem, se é preciso dar medicamento. Consigo enganar a minha sogra, dando poucas gotas de analgésico, ou tic tac, uma balinha como placebo, e quando percebo que é necessário aumento a dose.
     Estou relatando esta convivência, porque uma coisa é a teoria, outra a prática.
     Minha sogra fica dez dias por mês comigo. Tem três filhos e cada um fica dez dias.no mês Isso ajuda muito, pois é muito estressante, falando honestamente. É preciso muita paciência mesmo. Ela muitas vezes quer dominar tudo, até a TV, é difícil contentá-la. E é cativante também e carinhosa ao mesmo, mas manipuladora.
     O geriatra dela me disse, que ela ainda anda, dá umas voltinhas, é porque conseguimos dar amor para ela, sem nos exaltar.
     Quando ela está na casa de minhas cunhadas, liga o dia inteiro perguntado se é aqui que vai dormir, se tem pijama, se tem remédio, que dia que é hoje, etc.
     Ela vem na casa da gente e esquece, torna a vir. Durante o dia, depois do café e do almoço, ela fica na casa dela com uma acompanhante, pois é super apegada a sua casa e suas coisas. Nós até comentamos que enquanto ela lembrar da casa e do dinheiro, é porque a memória, e a própria força de vontade dela, está ajudando neste contexto, de não piorar o quadro.
     Ela tem uma “liberdade” vigiada, pois briga pela autonomia, diz que faz tudo em casa, que sai para fazer compras, mas na verdade não faz nada disto. Por isto também é importante não levar em conta tudo o que ela fala. A gente elogia assim mesmo, para ela se sentir importante  e motivada ainda.
     Muitas vezes ,ela se joga no sofá e fala que está morrendo, que quer ir junto do marido dela, etc.      Aprendemos a lidar com este fato, no início os filhos se desesperavam, choravam, e pude ajudar com aconselhamentos e esclarecimentos, para que todos nos acostumássemos com suas variações de humores. Ela lembra de muitas coisas do passado, mas coisas fixas. Fica perguntando pelas irmãs e mãe que já morreram.      Ela fala que não a convidamos para sair, e quando tem festinhas ou vamos na cidade, a convidamos e ela não quer ir, fala que está muito doente, com tonteira, que vai morrer, não gosta muito que os filhos saem também, é complicado, mas a gente que convive vai acostumando.
     Alzheimer, não tem cura, mas podemos ir controlando os sintomas, com muitas atividades cognitivas e interações. A pessoa volta se comportar como criança, gosta de brincar, passear, doces, fazer pirraças, as vezes cisma com as pessoas.
     Em alguns momentos é necessário usar a mesma firmeza que se usa com as crianças. É como amar, cuidar e educar, bem assim.
     Minha mãe liga três TVs ao mesmo tempo, se tem missas ela liga em vários canais com missa. É obsessiva neste sentido, a gente fica quase louca por causa do volume, as vezes ela fica irritada, outras alegre, cheia de manias... É preciso ficar atentos, quando anda caindo muito.
     Já meu pai adora contar casos, só que agora está misturando os personagens, o violão ainda consegue tocar, mas acordeom, muito pouco. Como tem muito trauma com roubos, é possessivo também e não pode esquecer de onde colocou suas coisas que já cisma que alguém roubou. Aliás neste sentido são os três personagens.
     Eles esquecem muito aonde colocam as coisas, mudam de lugar, é um trabalhão para encontrar. Outra coisa que vale a pena registrar, ás vezes eles parecem até agressivos, fortes, independentes, e no minuto seguinte é de uma fragilidade que a gente fica assustada, como pode mudar tanto. Se não conhecemos a doença, poderíamos jurar que são duplas personalidades bem diferentes numa só pessoa. É as vezes assustador, e nos deixam sem ação, então é melhor entrar no jogo, até que tudo volte ao normal.
     Sobre o repertório deles, de ficar repetindo sem parar, ou fazendo as mesmas perguntas sem parar, na minha experiência, eu respondo sempre a mesma coisa, como se a pessoa estivesse pergundo pela primeira vez, ou procuro algum outro tema bem rápido para que  se envolvam em outros assuntos. Eles perguntam sem parar que dia é hoje, as horas...
     Sei que meu texto está muito grande, mas tenho registrado aqui em minhas crônicas ou artigos, toda esta vivência no contexto do Mal de Alzheimer. Além de ajudar a cuidar, a vivência dá parâmetros para avaliar, com experiências e criatividade cada vez melhor.

22/09/15