Esperando a morte

De todos os seres vivos, o único que tem plena consciência de que vai morrer é o homem. Pode-se dizer até que “vivemos” esperando a morte chegar. Ela pode demorar ou não, mas, inexoravelmente, virá para todos, seja de forma direta (quando simplesmente deixamos de viver), ou indireta (quando formos transformados de carnais para espirituais). “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb 9:27). “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Co 15:51-52).

Sabendo que vamos morrer, não é ilógico que deixemos de desfrutar com toda a intensidade daquilo que temos à nossa disposição enquanto estamos vivos? Deus fez um mundo maravilhoso, “muito bom” em sua própria avaliação. Ele também abençoou o homem dando-lhe inteligência para saber a melhor maneira de usufruir do mundo criado. Então, por que não fazermos uso dessa prerrogativa? Por que ficar simplesmente esperando a morte chegar, quando há tantas coisas boas para serem feitas, gozadas e desfrutadas? Cf. Ex 35:30-35; 1 Rs 4:29; Pv 2:6; 23:4;Dn 1:17; Lc 2:47; Ec 3:9-13.

Há quem pense que, pelo fato de sermos crentes, nós não podemos usufruir das coisas maravilhosas que Deus fez, bem como daquelas que ele tornou possíveis de existir. Com essa atitude a morte adquire mais importância do que a vida. O crente não pode beber, não pode comer, não pode festejar, não pode vestir roupa bonita, não pode se embelezar, não pode contar piadas, não pode praticar esportes, não pode tirar férias, não pode descansar, não pode passear, não pode isso, não pode aquilo... O crente deve viver em função da cultura do “não pode”. Isso, lamentavelmente o faz infeliz e, pior, um hipócrita que se diz feliz! A verdade é que isso denota apenas falta de conhecimento e nada mais. Deus deseja a nossa felicidade e que tenhamos prazer, alegria e satisfação em nossas vidas. Cf. Dt 24:5; Jó 9:25; Ec 11:9; Gn 18:12; Ec 2:26; 12:1.

Nada é proibido. O que é preciso é saber administrar a nossa vida. Deus depositou o mundo todo em nossas mãos, confiando que saberíamos usar a sabedoria que Ele nos deu para sermos felizes. Infelizmente, muitos de nós nos temos tornado escravos de nossa própria falta de entendimento. Todas as coisas são boas para aquele que sabe tirar o bom proveito delas. É o mau uso que faz com que elas se tornem ruins e prejudiciais ao homem. Então a questão principal que gira em torno do tema é o entendimento. A cultura do “não pode” é para aquele que ainda é como menino e que “não sabe” das coisas. Para o entendido há liberdade, porque saberá discernir e julgar entre o que presta e o que não presta e aproveitar o melhor. Então viverá, ao invés de, simplesmente, ficar esperando a morte chegar. Cf. Gn 1:28-30; Pv 15:24; Mt 12:35; Rm 8:28; 11:33-36; 1 Co 2:15; 6:12; 10:23; 2 Co 4:15; Cl 2:20-23.

Alguém disse certa vez que devemos viver o hoje como se fôssemos morrer amanhã e trabalharmos hoje como se fôssemos viver eternamente. É evidente que estamos nos referindo à vida terrena. O dinheiro que nós ganhamos é para ser gasto em benefício nosso e dos demais que conosco convivem, mas com certeza não é para ser entesourado. Nós não levaremos nada dessa vida além daquilo que usufruirmos e que compartilharmos com os demais. Quantos não são aqueles que se apegam em demasia aos bens materiais, sendo “mão de vaca”, “unha de fome”, avarentos e impiedosos, vivendo uma vida de miserável, quando poderia ter o mundo aos seus pés! Que adianta ter tudo e não ter alegria e não ter paz e não ter amigos e não ter Deus em seu coração e em sua vida? A verdade é que somente o estulto fica esperando a morte chegar sem tirar o devido proveito da vida maravilhosa que Deus nos deu. “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” Devemos ser crentes fiéis a Deus, mas acima de tudo, devemos ser verdadeiros. Se ainda não encontramos um meio de vivermos felizes, alegres e contentes, então ainda não conhecemos o Senhor da felicidade e da alegria. Mc 8:36. Cf. Lc 9:25; 1 Co 7:21; Jo 6:63. Hb 13:17.

É de destacar quão grande é a importância de se descobrir a utilidade proveitosa de cada uma das coisas que existem no mundo, a fim de usá-las em benefício da vida, ao invés de ficarmos fugindo de tudo com receio de sermos alcançados pela morte. Que o Senhor da Inteligência nos ilumine e nos abra os olhos para que possamos ver e viver com segurança durante todos os dias de nossa existência. 2 Rs 6:17.