As imagens

O Brasil é um país de muitos ídolos. Os cantores, os atores, os atletas, os jogadores, os clubes de futebol, os pais, os santos e etc., são alguns exemplos do que estamos falando. Os artistas da música, da interpretação e do desporto em geral, costumam levar multidões ao delírio e ao fanatismo. As moças chegam a desmaiar de emoção quando vêem um desses artistas. Elas são dominadas pela emoção. Algumas pessoas chegam a se matar pelo time de futebol do seu coração. As torcidas se agridem a pauladas, na euforia com que vêem o momento. A emoção leva as pessoas a fazerem coisas absurdas. Coisas que, certamente não fariam se estivessem em seu estado normal.

Todos nós estamos sujeitos a fazer coisas absurdas, quando estamos fora do nosso normal. Algumas vezes somos alertados pelas pessoas a esse respeito. Eles pedem para que nós não as provoquemos, porque nós não sabemos do que elas são capazes de fazer quando são tiradas do sério. Uma pessoa fora do sério pode fazer coisas absurdas. Mesmo um crente pode fazer coisas absurdas à luz da Palavra de Deus. O apóstolo João escreve em 1 Jo 2:1, o seguinte: “Filhinhos meus, estas cousas vos escrevo para que não pequeis. Se todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo”. Fica claro, por estas palavras, que nós não estamos isentos de praticar coisas erradas. Nós somos portadores de duas naturezas: uma natureza espiritual (que adquirimos quando nos convertemos a Deus) e outra carnal (a qual nascemos com ela). Essas duas naturezas lutam uma contra a outra. Em Gl 5:17 está escrito: “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que porventura seja o vosso querer”. A nossa natureza carnal nos induz a fazermos coisas absurdas, contrárias à Palavra de Deus, porque o objetivo dessa nossa natureza é fazer aquilo que agrada à nossa vontade e não à vontade de Deus.

A natureza carnal tem levado o povo brasileiro a uma imensa prática idolátrica. Essa idolatria se transforma em uma barreira entre o povo e o Senhor Deus. O apóstolo Paulo em 1 Co 10:14-22, escreve-nos dizendo: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a criteriosos, julgai vós mesmos o que digo. Porventura o cálice da bênção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão. Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma cousa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes digo que as cousas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam, e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos acaso mais fortes do que ele?”. Se queremos comunhão com Deus, então temos que fugir da idolatria, conforme nos diz a Palavra de Deus em 1 Co 10:14. Todavia, para que possamos fugir da idolatria, é preciso que saibamos distinguir o que é idolatria e o que não é. Vejamos o que nos diz a Enciclopédia Bíblica.

“Idolatria: Adoração dos ídolos”. “Idólatra: Que adora os ídolos”. “Ídolo: figura que representa uma divindade ou qualquer ser ou cousa e é objeto de culto”. Nessas definições encontramos as palavras chaves que nos ajudarão a entender o que é ídolo e o que não é. O ídolo é a figura, a imagem, o objeto ao qual se faz adoração. Adoração é o culto ou veneração que se presta a divindade. O idólatra é essa pessoa que presta culto a divindades; que presta culta às imagens em lugar de Deus.

A Bíblia nos ensina que somente devemos adorar a Deus. Vejamos algumas passagens: Ex 20:1-5; Dt 6:14-15; Mt 4:10; Cl 2:18; 2 Ts 2:4; Ap 19:10. O que elas dizem?

Ex 20:1-5 está escrito: “Então falou Deus todas estas palavras: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”.

Dt. 6:14-15 - “Não seguirás outros deuses, nenhum dos deuses dos povos que houver à roda de ti, porque o Senhor teu Deus é Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do Senhor teu Deus se não ascenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra”

Mt 4:10 - “Então Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele darás culto”.

Cl 2:18 - “Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum na sua mente carnal”.

2 Ts 2:4 - “Ninguém de nenhum modo vos engane, porque isso não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”

Ap 19:10 - “Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantém o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia”.

A proibição de Deus aqui é no sentido de fazermos imagens de qualquer cousa, para adorarmos. O que está proibido é a adoração e não o fazer as imagens. Nós somos orientados pelo apóstolo Pedro sobre a maneira como nós devemos interpretar as Escrituras. Vejamos 2 Pe 1:19-20, onde é dito: “Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações; sabendo primeiramente isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;”. Não podemos ler um versículo nas Escrituras e querermos interpretá-lo isoladamente, fora de seu contexto específico e fora do contexto geral das Escrituras. A Bíblia forma uma unidade. Ela não se contradiz. Se houvesse contradição nela, então ela não seria confiável. A falha não é na Bíblia. A falha está em nós, que queremos entender a Escritura em porções isoladas. Jesus dá um testemunho fabuloso sobre as Escrituras em Jo 10:35, dizendo: “... a Escritura não pode falhar”. Se Deus realmente nos tivesse proibido de fazer qualquer imagem, então a Bíblia estaria se contradizendo. Vejamos as seguintes passagens:

Mt 22:17-21 - “Diz-nos, pois, que te parece? É lícito pagar tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Então lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

Rm 13:1-7 - “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. (...) Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra”.

1 Pe 2:13, 14, 17: - “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano; quer às autoridades enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores, como para louvor dos que praticam o bem. Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus, honrai ao rei.

A Palavra de Deus nos orienta no sentido de que obedeçamos às instituições humanas por causa do Senhor. Se não pudéssemos fazer qualquer imagem nossa, como poderíamos obedecer às leis brasileiras, as quais exigem que tenhamos fotos em nossos documentos como a Carteira de Identidade, a Carteira de Trabalho, o Passaporte e etc.? Se não podemos usufruir daquilo que é dedicado aos ídolos, como poderíamos usar o dinheiro brasileiro, onde constam as “efígies”? O que é uma efígie? Uma efígie é a cabeça de uma grande personalidade estampada no dinheiro. A efígie é de César, não é de Deus. Na nota de cinqüenta reais temos a efígie e a figura de uma onça pintada. Na nota de dez reais, além da efígie, temos o desenho de uma arara. Na nota de um real, temos a figura de um beija-flor. Nas moedas, temos a efígie. É claro que não está proibido ao homem fazer imagens. O que está proibido é a adoração às imagens feitas. Isso sim, é proibido de ponta a ponta nas Escrituras. Mas indo mais adiante nessa questão. Não poderíamos usar roupas estampadas. Só poderíamos usar tecidos lisos, onde não constasse qualquer imagem. Não poderíamos fazer panelas de barro, vasos, filtros, porque seriam imagens esculpidas em barro. Não poderíamos ter mesas, cadeiras, porque seriam esculturas em madeira. Mas vamos em frente. Consultemos novamente as Escrituras.

O que é um querubim? A Bíblia fala sobre os querubins. Em Gn 3:24 está escrito: “E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida”. O querubim era o guardião colocado pelo Senhor à entrada do jardim do Éden para impedir que nossos primeiros pais se aproximassem da árvore da vida . Pois bem, o próprio Deus determinou que fossem feitos dois querubins para a Arca do Tabernáculo. Esses querubins deveriam ser feitos de ouro puro. Vejamos Ex 25:17-20: “Farás dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório; um querubim na extremidade de uma parte, e o outro na extremidade da outra parte: de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele. Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; estarão eles de faces voltadas uma para a outra, olhando para o propiciatório; . Ainda em Ex 25:31-34, fala-se sobre o candelabro. Nas hastes do candelabro terão cálices em formato de amêndoas e também flores. Se não pudéssemos fazer nada em semelhança do que existe na terra, como Deus poderia mandar fazer algo em formato de amêndoa e também as flores?

Em 1 Rs 6:23-35, fala-se dos enfeites que Salomão fez para o “Santo dos Santos”. Ele fez dois querubins gigantescos, de quase seis metros de altura, cujas asas estendidas tinham igual comprimento à altura. Eram feitos de pau de oliveira e cobertos de ouro. Entre os enfeites, havia entalhes de querubins, de palmeiras, de flores, ou seja, imagens do que há no céu e do que há na terra. Se fosse proibido fazer essas imagens, será que Salomão iria fazê-las exatamente no lugar mais sagrado para os judeus, dentro do Santo dos Santos? O que entendemos é que Deus não nos proibiu fazer imagens. Ele nos proibiu adorá-las. A proibição de fazer imagens está sempre ligada à questão da adoração às imagens.

Aqui encerramos essas considerações, animando aos irmãos para firmarem as suas convicções sobre esse assunto. Deus não nos proibiu de tirarmos fotografias, de fazermos quadros, pinturas, esculturas e etc., para fins que não sejam a adoração. Somente para esse fim é que temos a proibição. O crente pode ter e pode fazer imagens; o que o crente não pode ter e nem fazer, de forma alguma, são divindades (ídolos para adoração). Essa é a doutrina. Esse é o entendimento que temos recebido a respeito desse assunto. E que Deus nos abençoe e possa completar isso em nosso coração.

Poxoréo, domingo, 28 de julho de 1996.