A poesia de Poxoréu: registro histórico

O livro “Antologia Poética: síntese da poesia upenina de Poxoréo”, publicado pela GENUS, Cuiabá, MT, foi lançado no dia 17 de dezembro de 2004, às 20 horas, no salão do Centro Juvenil de Poxoréo. Trata-se de uma obra literária regional, autorizada por doze dos membros mais consagrados da UPE – União Poxorense de Escritores, coordenada pelo professor e cientista político Gaudêncio Filho Rosa de Amorim, autor de “Linhas Históricas de Poxoréo: a história dos Distritos”, publicada pela Editora do UNIVAG, em 2001.

A obra veio a público com o apoio cultural do Estado, através de sua Secretaria da Cultura, então dirigida pelo historiador João Carlos Vicente Ferreira, bem como da Secretaria de Educação e Cultura de Poxoréo e da União Poxorense de Escritores, que tinha à frente o professor e comendador João de Sousa. Tem a pretensão de atender aos reclames da comunidade educativa local, como forma de subsídio para os eventos culturais realizados, periodicamente, pela “academia upenina”, como por exemplo, os recitais de poesias e as tertúlias, além de proporcionar o deleite para os amantes do gênero. Como diz seu subtítulo, trata-se de uma “síntese da poesia upenina de Poxoréo”, compilada em pouco mais de cem páginas, sendo um substrato dos sentimentos que grassam no coração e na mente desses pioneiros na produção organizada de literatura regional.

A UPE foi fundada em 31 de março de 1988, propondo, ao ensejo da data, ser iniciadora de uma revolução cultural no interior do Estado. Como se sabe, a produção literária centraliza-se na Capital, onde estão as secções regionais da Academia Brasileira de Letras, da União Brasileira de Escritores, bem como o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Não se pode dizer que os objetivos da entidade já foram alcançados, mas certamente houve um significativo avanço, resultando em algumas publicações mais organizadas e sistematizadas.

Até 1988, a literatura poxoreana registra “Caçadores de Diamante” (1959), de Luís Sabóia Ribeiro, “Para distrair alguém” (1974) e “Conterrâneos” (1982), de Luís Carlos Ferreira, “Saudades e melancolias” (1987), de Gaudêncio Amorim, Kautuzum Coutinho e Izaias Resplandes, “A verdade à mostra” (1987), de Joaquim Moreira e “Garimpeiros de Poxoréo” (1988), de Michael Baxter, com tradução de Benedito César Ribeiro Nunes Rocha. Também datam dessa fase, as publicações, ainda que esparsas, dos jornais “Correio de Poxoréo” (1939 – 1993), “Clarim da Amazônia” e “A Voz de Poxoréo” (Anos 80), os quais serviam de meios para que os autores regionais publicassem as suas idéias, os seus sentimentos e suas poesias.

Em 1988, nasce a União de Escritores, tornando-se um divisor de águas na produção literária do Município. Para os amantes da pena, o problema não é escrever, é publicar. A destinação de recursos públicos para dar suporte a essa atividade, é mínima. Ainda não se disseminou na cabeça dos nossos governantes, que um povo sem memória, é um povo sem história. A falta de registro do pensamento, dos acontecimentos, da vida das cidades e do quotidiano do povo resultará na perda dos antecedentes culturais. A transmissão verbal é importante, não se menospreze a mesma. Todavia, é muito limitada, diante da riqueza que o trabalho impresso proporciona.

A UPE é mantida pelos seus próprios membros, com o apoio de toda a sociedade. Não tem fins lucrativos e seu objetivo é “defender a arte e a cultura”. Publica periodicamente, o jornal “O Upenino” e a revista “A Upenina”. Promove, desde a sua fundação, tertúlias periódicas, o Recital de Poesias do Aniversário da Cidade, que já faz parte do calendário de eventos do Município e o programa “Momento de Arte e Cultura”, levado ao ar, atualmente, pela Rádio Sul Mato-grossense, e, em princípio, pela antiga Rádio Cultura de Poxoréo.

Embora o espírito da entidade é o da publicação de trabalhos coletivos, para uma melhor otimização dos recursos, também surgiu de suas assembléias, o apoio aos seus membros para os livros “Do Poxoréo ao Garças” (1999), de Jurandir da Cruz Xavier, “Linhas Históricas de Poxoréo” (2001), de Gaudêncio Filho Rosa de Amorim e “Raios Misturados” (2002), de Zenaide Mendonça Farias. “Antologia Poética: síntese da poesia upenina de Poxoréo” (2004), coordenada por Gaudêncio Amorim e assinada ainda por Joaquim Moreira, Josélia Neves da Silva, Kautuzum Araújo Coutinho, Genivá Bezerra, Delza Fernandes Zambonini, Izaias Resplandes de Sousa, João Batista Cavalcante, Zenaide Mendonça Farias, Luís Carlos Ferreira, Edinaldo Pereira de Sousa e Márcia Adriana Nunes de Almeida Oliveira é o retorno à linha da produção coletiva e à valorização global dos upeninos.

À luz desta publicação, a crítica que se faz é que deveria haver uma maior descentralização dos recursos públicos, para que o interior também seja incentivado a produzir uma literatura que melhor se identifique com a sua gente, a fim de que não vivessem apenas de pérolas raras como essa Antologia Poética. A crítica qualitativa, o tempo fará, orientando os autores para o necessário aperfeiçoamento de suas obras futuras. Arrematando, evoca-se Castro Alves, o qual deixou as suas homenagens aos escritores, quando proclama que é “bendito o homem [upenino] que semeia, livros, livros a mão cheia e manda o povo pensar”. Glória seja ao poeta!