Corpo a corpo

Aprovadas e registradas as candidaturas, iniciou-se a batalha campal final para a conquista do sagrado voto popular. Sendo o povo o legítimo detentor da soberania, os futuros vereadores e prefeitos travam um corpo a corpo cerrado e sem tréguas, para assegurar a conquista da delegação do mandato. Tal combate é de suma importância, uma vez que por meio dele se pode conhecer com mais profundidade, quem é quem dentre aqueles que postulam o recebimento das procurações em branco que serão delegadas pelas urnas eleitorais, ou seja, os verdadeiros homens do povo que travaram a peleja nos últimos quatro anos e os pára-quedistas que sempre caem na área de última hora à cata de uma eleição.

As peças nem sempre são da melhor qualidade, mas alguns atos e algumas cenas são marcantes e fundamentais para o nosso posicionamento enquanto eleitor. Via de regra, principalmente nessa etapa final, os candidatos vão para o embate devidamente preparados, psicológica e cientificamente. Tudo é planejado nos mínimos detalhes. Cada palavra a ser dita, cada ação a ser realizada. Mas, no calor da peleja, toda a encenação decorada e repetidamente ensaiada para mostrar-se melhor do que o adversário, costuma ocorrer de ir por água abaixo. Pressionado por todos os lados, o ator não resiste e deixa o cenário, o qual passa então a ser ocupado pelo desmascarado candidato, agora sozinho, sem direção, sem maquiagem e sem textos decorados.

Chega-se, então à hora da verdade. Sem o repertório das palavras bonitas preparadas pela assessoria, o candidato tem que mostrar se tem ou não preparação para sustentar uma argumentação dentro dos princípios da oratória, da técnica e do conhecimento. É nessa hora que devemos sabatiná-lo e avaliá-lo para saber se ele está ou não em condições de nos representar ou de administrar os nossos interesses públicos. Por exemplo. Como ele reage quando é ultrajado pelos seus opositores? – Fato muito comum durante a campanha. Possui jogo de cintura para contra-argumentar de forma inteligente e racional, demonstrando a sua superioridade, ou se rebaixa ao mesmo nível, demonstrando que nessa questão é “farinha do mesmo saco”, como os seus agressores?

Outra questão. Quando é convidado a falar dos seus projetos, o candidato apresenta um planejamento coerente e possível em função da realidade, ou vem com um saco cheio de abobrinhas “pecas”, colhidas antes da hora, composto de projetos descontextualizados das possibilidades sócio-econômicas do Município? O candidato demonstra que conhece efetivamente o Município que deseja representar ou administrar, ou seu discurso é apenas uma conversa mole para boi dormir?

Finalmente, devemos perguntar: o candidato é uma personagem real na vida da municipalidade, relacionando-se com os seus munícipes, ou é daqueles ilustres desconhecidos que ninguém sabe de onde saiu, mas que vem com uma grande bandeira de amigo e companheiro de todo mundo?

A televisão e o rádio são elementos de grande poder para divulgar os candidatos e suas mensagens. Mas, excetuando os debates organizados, onde às vezes as coisas esquentam e as máscaras pegam fogo, revelando quem se escondia por detrás dela, o resto não passa de encenação, onde o mais que se pode avaliar é o poder de produção dos marqueteiros que coordenam as campanhas dos candidatos.

Nesse sentido, é o corpo a corpo que vai definir quem realmente é o melhor; não o trabalho dos últimos meses de campanha, mas o que foi feito ao longo dos quatro anos que antecedem as eleições. A mensagem dos verdadeiros homens do povo, em grande parte já foi transmitida aos seus eleitores, não através de meras palavras, mas de ações concretas. Para esses, resta agora apenas fazer uma confirmação de seus propósitos, a qual pode ser feita de forma direta, através de uma conversa ou de uma visita domiciliar, ou de forma mais indireta, através dos comícios e da propaganda eleitoral nos meios de comunicação de massa. Esse é corpo a corpo que deve decidir as eleições. Abramos bem os nossos olhos para sermos iludidos pelos milhares de atores, teoricamente bem preparados, mas que não possuem uma prática para dar suporte às suas pretensões eleitorais. Viva a democracia! Abaixo a demagogia!

Izaias Resplandes de Sousa é pedagogo e matemático pela UFMT, Gerente de Cidades pela FAAP/SP e graduando em Direito pela UNICEN de Primavera do Leste, MT.