Sem máscaras

A frase “eu finjo que ensino, você finge que aprende” já faz parte do repertório educacional de nosso país. Preocupados com números, nossos governantes inventaram “mil” planos destinados a promover a disseminação do conhecimento no território nacional. E rios de dinheiro foram canalizados para concretizá-los, minguando-se de canal em canal até que restassem apenas umas poucas gotas para orvalharem o xis da questão. Como resultado, temos conseguido excelentes séries históricas de investimentos e de pessoas beneficiadas e “diplomadas”, as quais são apresentadas aos organismos internacionais como demonstração da seriedade com que a questão social é tratada em nosso país, juntamente com reivindicações de novas cifras destinadas à continuidade da promoção do nosso desenvolvimento econômico e social-cultural. E os “incautos” dirigentes de tais organismos aceitam as provas apresentadas sem restrições. Não porque sejam ingênuos, mas talvez porque o esquema de corrupção deles seja muito parecido com o nosso e na divisão do bolo, sigam a mesma máxima do “quem parte e reparte, fica sempre com a maior parte” que se costuma seguir por aqui. Além do mais, não é de duvidar se por acaso o nosso sistema for uma reprodução do deles, pois, já que costumamos piratear tudo o que eles inventam, por que não piratiaríamos também o seu funcional sistema de corrupção?

Ao mesmo tempo em que estabelecemos novas marcas quantitativas em nossos investimentos sociais e educacionais, também se amplia as nossas séries históricas de diminuição do conhecimento. Em conseqüência, estamos presenciando a cristalização de uma nova estratificação social. De um lado, a minoria dos que contrariam a ordem dominante e correm contra o prejuízo, buscando adquirir uma formação ampla e globalizante, que lhe possa garantir a competitividade na era vinte e um; de outro lado, a grande maioria dos excluídos do saber, que apenas fomentam e alimentam as séries estatísticas dos planos educacionais de governo postos em prática em nossos dias, sob a bandeira mascarada do combate ao analfabetismo e da formação continuada que esconde a verdadeira realidade de nosso povo diplomado que continua analfabeto e formado para o exercício de nada. Em suma, apesar da era do conhecimento, a maioria do povo permanece a cada dia mais ignorante e despreparado para contribuir de alguma forma com o desenvolvimento social, econômico e cultural da humanidade.

É preciso tirar as máscaras e ver o que se oculta por detrás desses panos tão bonitos. É preciso ver na extensão do verbo. O lugar mais provável para onde um cego caminho é o abismo. Devemos abrir os olhos enquanto ainda podemos fazer alguma coisa. Apesar do sistema nos ensinar a agir de uma outra forma, sigamos a educação da contradição. Em princípio de qualquer coisa, até convencimento noutro sentido, sejamos do contra a tudo o que nos for apresentado pelas nossas lideranças. Somente aceitemos como valores a ser seguido, aquilo que passar pelo nosso crivo apurado e aguçado de quem não quer mais ser enganado.

Ao concluir, queremos lembrar que a franqueza não é uma das virtudes dos cidadãos das ordens dominantes de hoje. Mas, se as pressões forem bastante intensas, nem mesmo os seus mais fortes representantes conseguirão manter as falsas aparências requeridas. E cairão por terra as escamas, as máscaras e as histórias inventadas. E sob aquela face outrora lindamente maquiada, surgirá o retrato feio e descolorado da realidade, agora desnudada de tudo quanto é subterfúgio e jogo de cintura que se vem tentando tapar. Então conheceremos que não havia sinceridade conosco, que não havia franqueza e que não havia verdade em tudo aquilo que nos era mostrado como tal. Ficaremos tristes e decepcionados. Veremos uma realidade que ferirá os nossos olhos. Mas, se quisermos transformá-la, primeiro temos que vê-la como ela realmente é. Sem máscaras!