Jogo de pesquisas

As pesquisas por amostragem, segundo os critérios definidos pela Estatística são excelentes indicadores das tendências sociais, políticas e econômicas. Cumprem, eficientemente, o papel a que se destinam, servindo como guia de conduta de grande peso no processo decisório. No que tange às questões econômicas, é indiscutível o valor das pesquisas. Num país tão grande como o Brasil, não seria possível tomar decisões de forma aleatória, pelo que a vida e a morte das empresas dependem do jogo dos números revelados pelas pesquisas estatísticas. Nas questões de governo elas também são importantíssimas para se conhecer a opinião da população sobre os diversos programas e ações governamentais. A Estatística, inclusive, nasceu como sendo uma ciência do Estado.

Sabedores de tal influência, também os partidos políticos e os meios de comunicação de massa, normalmente encomendam muitas pesquisas durante as proximidades das eleições. Os partidos querem saber quem está na frente e se precisam ou não mudar de estratégias. Já a imprensa deseja noticiar em primeira mão quem serão os prováveis vencedores da disputa eleitoral. Nesse vai e vem, muitos ganham e muitos perdem, mas a realidade é assim mesmo: no jogo das pesquisas é como no jogo da vida, já dizia o Darwin, somente os mais fortes e os mais preparados podem vencer. Assim, havemos que superar as nossas debilidades para que não sejamos expurgados do exercício de nossa cidadania.

Nem sempre estar preparado significa estar em sintonia com os índices das pesquisas. Pelo menos na questão eleitoral não é assim. Os números não dizem quem é o melhor dos candidatos. Talvez a leitura menos enviesada seria a de que eles indicam quem tem o melhor marqueteiro da campanha. Na verdade, são esses sofistas do século XXI, os atores que estão verdadeiramente disputando os votos do eleitorado. Ganha o voto quem tem maior poder de convencimento e não, necessariamente, quem tem a melhor proposta.

Na briga dos números, as políticas tanto do candidato A, quanto dos candidatos B ou C, não passam de meras promessas eleitoreiras, nas quais o povo não deve acreditar. Essa é a voz de trovão que ecoam dos mais diversos palanques políticos e que nos atormentam a vida através dos carros de som, dos cartazes, dos outdoors e demais meios admissíveis pela legislação. E nessa poluição sonoro-visual, o eleitor, sem saber em quem acreditar e para onde ir, como um equilibrista de circo, dança na corda bamba, correndo o risco de contribuir para a eleição de mais um demagogo para ocupar o poder em cada município, ao invés de um verdadeiro “gerente de cidade” e da coisa pública.

Isso, evidentemente, não aconteceria se ao invés de andar pela cabeça dos outros, de seguir a correnteza e a enxurrada das águas, o eleitor buscasse construir a sua identidade, ao invés de se tornar um “Maria vai com as outras”. Todos somos inteligentes e capazes. E informação hoje é o que não falta. Então, por que seguirmos uma tendência simplesmente porquê ela é a tendência? É preciso nos libertar dessa linha de pensamento que vem norteando o nosso comportamento. Cidadão não é o que segue as tendências de forma passiva. É antes aquele que as critica de forma racional e que não vê nelas mais do que meras possibilidades, as quais podem ser boas ou más e que, por conseguinte, devem ser analisadas, interpretadas e viradas ao avesso se necessário for, para que possam revelar as suas verdadeiras intenções.

Em que pese o poder decisivo das pesquisas, a melhor de todas elas é que cada um de nós pode fazer, analisando a importância de cada candidatura para a nossa comunidade e para a nossa cidade. Salvo em relação àqueles pára-quedistas que não se sabe de onde vieram, os eleitores conhecem os políticos de sua cidade e sabem o que eles fizeram em sua rua, em seu bairro e em seu Distrito. A pesquisa é muito simples: basta tão somente olhar ao redor e em derredor e ver como tem sido a ação representativa de cada político. O que ele diz ter feito em alhures, isso não interessa para cada comunidade em particular. O que conta é a sua atuação em cada lugar em específico. Ele pode ter sido bom para a comunidade A, mas ter sido uma negação para a comunidade B, quando poderia ter sido pelo menos mediano para ambas as comunidades, o que o tornaria melhor. Se o eleitor possuir uma avaliação clara sobre a atuação dos diversos candidatos em sua comunidade e se estiver disposto a votar de acordo com esses critérios por ele mesmo construídos, então ele tem um bom indicativo de que exercerá a sua cidadania nessas eleições. Caso contrário, seu indicativo é de que, não tendo idéias e pensamentos próprios, foi seduzido pelo brilho luminoso do jogo das pesquisas, os quais apontam a capacidade de articulação dos marqueteiros que coordenam as campanhas eleitorais. Não sejamos enganados. Viva a democracia! Viva a cidadania! Viva! Viva! Viva!

Izaias Resplandes de Sousa é graduado em Matemática pela UFMT, especialista em Matemática e Estatística pela UFLA-MG, Gerente de Cidades pela FAAP-SP e graduando em Direito pela UNICEN de Primavera do Leste, MT.