Independência espiritual

As datas históricas são momentos oportunos para estabelecermos parâmetros de comparação que nos possibilitem refletir sobre as nossas relações espirituais. Durante esta semana o Brasil redireciona suas atividades para as comemorações da independência do país, desencadeada por Dom Pedro I há 186 anos e que ainda se encontra em curso de materialização, haja vista que a conquista da independência é sempre relativa. Sempre estaremos dependendo de alguém ou de alguma coisa para nos realizarmos plenamente. A independência pode ser o objetivo, mas sempre será uma meta inatingível, principalmente quando se leva a reflexão para o plano espiritual.

A independência espiritual é contrária à ordem estabelecida pelo Criador. O mundo – aqui entendido como sinônimo de universo – foi estabelecido de forma encadeada, tanto podendo desenvolver-se, quanto destruir-se a partir de uma seqüência progressiva, tal qual ocorre no efeito dominó, onde uma coisa leva à outra. Além disso, é de lembrar que, segundo o físico e matemático Isaac Newton, em sua terceira lei, “a cada ação corresponde uma reação, de mesma intensidade, mesmo sentido e direção oposta”. Cf. Gn 7:11; 8:2; 2 Cr 36:16; Sl 42:7; 78:1-72; Ap 13:10; Jó 8:11; Rm 1:17; 2 Co 8:7; Fp 2:12; 3:12-14.

Quanto ao homem, seu corpo constitui um ser complexo. Compõe-se de muitos membros. Todavia, em um corpo perfeito, nenhum deles pode prescindir dos demais. É como se cada um fosse membro do outro, complementando-se, principalmente porque, individualmente, são incumbidos de realizarem tarefas diferentes. Cf. Rm 12:3-8; 1 Co 11:3, 11-12; 12:12-27; Ef 4:25.

Na ordem espiritual, Jesus se compara como uma videira, onde cada um de seus discípulos é um ramo de produção. Segundo ele, se o ramo estiver ligado nele, poderá conseguir tudo o que desejar. Todavia, desligado, secará e será recolhido e lançado ao fogo. Cf. Jo 15:1-14.

Todo homem é livre para tomar a decisão que quiser. Evidentemente, sempre arcando com as devidas conseqüências. Deus não obriga a ninguém em nada. Cada tem a liberdade de ação. Livre arbítrio. No entanto, independente da decisão tomada, Ele não retirará nem a sua Palavra, nem a sua misericórdia, até que se chegue à plenitude dos tempos. Aí, sim, a vida será difícil e cada um terá que lutar pela sua própria salvação, destacando-se que nenhum ficará vivo fisicamente para contar a história. Muitos serão salvos para a via eterna, mas enfrentarão a morte na face da terra. Cf. Gn 3:15; Sl 100:5; 103:11; Lm 3:22; Rm 5:8; Ap 6:9-11; Ap 13:1, 7-8, 11, 14-15.

É de destacar que embora as coisas terrenas possam ser utilizadas como parâmetros para melhor entendermos as espirituais, a ordem destas não é semelhante à daquelas. A lógica divina é diferente da humana. É de observar que às vezes pensamos que somos sabedores de tudo e no fundo não sabemos de nada. Cf. Is 55:8; Jo 3:12, 31; 1 Co 1:26-29; 2:13 Fp 3:19; Tg 3:15.

Sócrates, filósofo grego foi considerado no seu tempo o homem mais sábio do mundo. Não pelo que ele sabia, mas justamente por reconhecer que, na verdade, ele não sabia de nada. A maioria das pessoas nada sabe, mas apresenta-se como dona de tudo quanto é conhecimento. Esse é o pior caminho. O melhor é o da humildade. Segundo o matemático Blaise Pascal, “ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar; e ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender”. Há muita honra para o mestre. Todavia, há muito mais sabedoria com o aprendiz. Em se tratando de questões espirituais, a dependência de Deus e de sua sabedoria é o melhor caminho. Perfeito não é o que se realiza, mas aquele que ajuda os outros a se realizarem. Pensar nos outros, dar-se aos demais. Esse é o caminho que conduz à vida. Cf. Pv 8:5; Is 1:17; Mt 9:13; Jo 15:13.

Essas são as diretrizes divinas. Que elas possam nos conduzir pelos caminhos da vida até o fim de nossos dias.