A independência engarrafada

7/7/1822 – 7/7/2008. Há 186 anos a história registrara o brado da independência política do Brasil, proclamado pelo então príncipe regente Dom Pedro I, que se tornava o primeiro imperador de nosso nascente país. Desde então, comemoramos essa data como um marco que não deve ser esquecido. Ele assinala, acima de tudo um alvo, uma meta a ser alcançada, um desejo que arde em cada coração, uma vontade que brota da alma de cada um de nós. Queremos ser independentes e estamos dispostos a pagar o preço dessa conquista. Dom Pedro se dizia até mesmo disposto a morrer se preciso fosse, para que esse projeto se tornasse em realidade.

Passaram-se os anos. Os ideais não mudaram. Ainda não conseguimos a nossa independência tão desejada, mas continuamos alimentando os nossos sonhos por conquista-la. Talvez hoje ela esteja mais difícil do que naqueles tempos.

A globalização eliminou as fronteiras físicas de cada país. Já não há mais como nos proteger dos invasores americanos, japoneses, alemães... Eles vêm de todas as partes do planeta. Eles querem a nossa Amazônia; eles querem o nosso Pantanal, os nossos cerrados, os nossos poços de petróleo, as nossas empresas de energia e telecomunicações. Naqueles tempos eram apenas os portugueses. Hoje, os estrangeiros estão por toda parte e nem sabemos quantas são as suas nacionalidades. Tudo o que sabemos é que eles estão no meio de nós, impondo-nos suas culturas, seus costumes, suas línguas, seus profissionais e principalmente as suas manufaturas, as quais enchem os nossos olhos, a ponto de muitos de nós não desejar mais a independência.

Yes, nós queremos Microsoft! Seus computadores e aplicativos cada vez mais avançados e mais pequenos não saem de nossas cabeças e muitas de nossas mãos já não sabem fazer mais nada sem a mediação dessas tecnologias. Os estrangeiros estão nos controlando com as suas invenções. As máquinas fotográficas e filmadoras japonesas, então... Cada dia, melhores. Estão enchendo os nossos computadores de imagens digitais. Agora não precisamos mais ficar recortando nossas revistas preferidas. Com as máquinas digitais nós produzimos a imagem que querermos, instantaneamente.

E a coisa vai por aí. Nossa sede de estrangeirismos não pára. José, João, Pedro e Maria já não são mais os nossos nomes preferidos, desde que por aqui chegaram Washington, Wellington, Steffany, Monique... E apesar de tudo isso, apesar de estarmos cada vez mais dependentes da influência internacional, ainda estamos comemorando a nossa independência.

Que farsa é essa? O que está acontecendo conosco? O que precisamos é de brio na cara. Nós não somos mais burros do que eles. Podemos desenvolver a nossa inteligência tanto ou mais até do que eles. Mas o que nós fazemos além de copiar as coisas que eles fazem? Nada! Esse é o nosso problema. “Isso tudo acontecendo e nós aqui na praça, dando milho aos pombos!” Ninguém viu nada, ninguém sabe de nada e todo mundo tem raiva de quem sabe.

É hora de acordar dessa letargia e partir para a luta. Até quando nós vamos ficar observando eles se tornarem doutores e ocuparem os cenários mundiais, enquanto nós nos tornamos os seus domésticos e serviçais? Enquanto eles investem fábulas de dinheiro em conhecimento, nós não temos coragem de investir sequer uma merreca na compra de livros e de tecnologias que nos permitiriam a apropriação do conhecimento e a conseqüente aquisição da nossa independência. E queremos ser independentes!

Na era do conhecimento e das novas tecnologias da informação e da comunicação, não existem espaços livres para serem ocupados pelos leigos, pelos iletrados, pelos ignorantes. Não há espaço para os diplomados que não sabem de nada sobre como fazer as coisas de uma forma diferente e que continuam fazendo elas tais quais se fazia antigamente. Não há espaço para o conhecimento ultrapassado quando o que se descobriu ontem já envelheceu. Só é independente quem está na vanguarda, quem não teme “navegar por mares nunca Dante navegados”, quem vai à busca do novo, quem prioriza os verbos conhecer e descobrir.

Não sou e nem pretendo ser Dom Pedro, mas deixo aqui um novo desafio para todos nós: que estudemos com afinco e com vontade, para que possamos ser melhores do que eles são e, afinal, invertermos essa ordem de dependência deles em que nós vivemos. Nós temos boas escolas, temos bons professores, nós temos terras, nós temos matéria prima, nós temos vontade, nós temos sonhos, nós temos esperança, nós temos fé, nós temos Deus. Nós temos tudo o que precisamos para conquistar a nossa independência, só que ainda está engarrafado. O desafio é para que tenhamos a coragem de destampar a garrafa, (quebrá-la se for necessário!) para soltar o gênio que está preso dentro de nós clamando por liberdade!

Viva o Brasil!

Izaias Resplandes de Sousa, Pedagogo e Matemático é professor da Escola Estadual Pe. César Albisetti, em Poxoréo, MT.