MOTIVAÇÃO UM FATOR FUNDAMENTAL PARA APRENDIZAGEM

Embora seja possível reconhecer que as pessoas podem agir seja movidas por agentes externos a elas, seja impulsionadas por suas próprias forças interiores, não se pode cometer o grave erro de confundir esses dois tipos distintos de comportamentos. Sendo qualitativamente diferentes, o comportamento do tipo reação a estímulos exteriores e aquele que tem suas origens nas forças interiores de cada pessoa, eles devem ter, necessariamente, explicações diferentes [...] as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de condicionantes que estão fora dela, as segundas são levadas a efeito de maneira espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas. As primeiras atitudes devem ser classificadas como condicionantes e as segundas como ações ou atos realmente motivacionais. (BERGAMINI, 1990, p.24).

Esta citação é bastante ilustrativa, pois conceitua a motivação como sendo dual, ou seja, extrínseca e intrínseca. Essa abordagem se faz necessário para que se possa compreender o conceito de motivação e sua importância no processo de ensino-aprendizagem dentro do contexto educacional.

É importante que esse tema tenha uma atenção especial dentro da sala de aula, pelo fato dele ser primordial para o desenvolvimento da prática educativa. No ambiente escolar, a motivação é um dos fatores favoráveis ao aprendizado e a falta da mesma deixa uma brecha para a passividade, para a indisciplina, além de dificultar o desenvolvimento da aula e desconcentrar os demais alunos. Também contribui para a evasão escolar, o que é bastante preocupante na conjuntura educacional, sem falar no desgaste físico e mental do professor, que, muitas vezes, também é desencorajado em desenvolver sua profissão por esses e outros fatores.

Existem diversas razões para que o aprendizado não se concretize, algumas delas, são as citadas acima, porém, é bom ressaltar que a motivação depende de todos os agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

A teoria de atividade formulada por Hebb e Berlyne, citada por Coll (1994, p. 146) diz que “a motivação de explorar, aprender e compreender está presente em maior ou menor grau em todas as pessoas, a atividade exploratória converte-se num poderoso instrumento para aquisição de novos conhecimentos”. Por outro lado Maslow que também é um teórico humanista, critica a motivação extrínseca e denomina esse tipo de aprendizagem “a aquisição de conteúdos externos à pessoa impostos culturalmente, alheios à sua identidade e que pouco ou nada têm a ver com que há de peculiar, idiossincrático, de definitório, em cada ser humano”. (op. Cit. 146).

O interesse do aluno, que também favorece o aprendizado, está vinculado, em grande parte, à postura e metodologia do professor. É fundamental que os profissionais da educação estejam atentos para esse aspecto, pois o aluno desinteressado aumenta o esforço dos professores. Cabe a escola instrumentalizar o educador para que este desenvolva sua aula de maneira que atraia a atenção dos alunos, aumentando o interesse do mesmo por determinada disciplina escolar.

Em contrapartida, a falta desses estímulos provocam outros negativismos que podem virar apatia, que é mais um aspecto da desmotivação, mas se houver interação entre a escola, alunos e professores, isso pode ser revertido.

O professor como uma pessoa que auxilia o aluno para aprender, precisa acreditar que é capaz de fazer a diferença, que pode transformar a realidade do seu aluno, isso não é fácil devido aos malogros da profissão, do ponto de vista financeiro e das condições de trabalho. Contudo, cabe ao educador instigar seus alunos, criar situações de aprendizagem significativas, como também conhecer a realidade dos mesmos para realizar sua prática positivamente.

O profissional da educação que trabalha em sala de aula é apenas um mediador e só poderá orientar a aprendizagem se o aluno estiver predisposto ao aprendizado, caso contrário, não será possível, mesmo que o professor tenha técnicas motivacionais e as use em sala, é preciso a cooperação do aluno.

Quanto ao fator psicológico, este influencia o comportamento e o resultado do aprendizado, pois a motivação depende da necessidade do indivíduo, por isso é importante a compreensão de Archer citado por Bergamini (1999, p. 43), pois o mesmo explora de forma clara o aspecto intrínseco da motivação quando diz:

A mais profunda implicação é que ambos os comportamentos, tanto os condicionados como os incondicionados exigem alguma necessidade ativa intrínseca existente para energizar ou motivar o comportamento. Não é nem o estímulo nem a resposta que motiva o comportamento, mas, mais propriamente a necessidade em si mesma e isso se estende a todo o comportamento. Um indivíduo não está motivado para se comportar, a menos que ele tenha uma necessidade energizando esse comportamento. Enquanto se pode ter como certo que a forma pela qual o indivíduo se comporta possa ser influenciada por um estímulo externo, este mais representa senão um fator de satisfação ou contra-satisfação.

Essa explanação é importante para embasar as afirmações feitas no decorrer desse trabalho. Todavia, são muitas situações que podem interferir no processo de ensino-aprendizagem, um deles é o fator biológico, esse atinge diretamente a concentração e a atenção dos envolvidos, uma vez que a pessoa estando com a saúde física ou mental debilitada não terá rendimento positivo em sala de aula.

tais fatores de acordo com Campos (2002, p. 79), são:

a maturidade do organismo para determinada atividade, ou seja, é a mudança resultante do desenvolvimento estrutural interna da pessoa; a integridade dos órgãos dos sentidos; a interação ou ajustamento do indivíduo com o meio-ambiente; a capacidade do organismo de modificar seus padrões de comportamento; a plasticidade, ou seja, o sistema nervoso deve responder aos estímulos; a capacidade de aproveitamento da experiência anterior; drogas, doenças e nutrição influem no processo de aprendizagem ou retardamento.

Ou seja, o organismo humano trabalha diferente em vários sentidos, a necessidade de uma pessoa se diferencia das demais e a motivação depende das necessidades do corpo ou também das necessidades de satisfação. Isso significa que além do próprio “eu” existe o (pré) conceito que determinada pessoa ou grupo tem de alguém que influencia no comportamento humano. Bergamini (1990, p. 19) explica:

A motivação cobre uma grande variedade de aspetos comportamentais. A diversidade de interesses percebida entre os indivíduos permite aceitar, de forma razoavelmente clara, que as pessoas não fazem as mesmas coisas pelas mesmas razões. É dentro dessa diversidade que se encontra a mais importante fonte de informações a respeito desse fenômeno que mostra até aspectos paradoxais. Quando se fala de motivação humana, parece inapropriado que uma simples regra geral seja o recurso suficiente do qual se possa lançar mão, para se conseguir uma abrangente e mais precisa explicação sobre as verdadeiras razões que levam as pessoas a agirem.

A partir dessa afirmação fica entendido que o ser humano é singular e que as razões que o levam a tomar qualquer atitude são particulares. Cabe lembrar que a influência que o professor exerce sobre os alunos é denominada de fator motivacional externo, pois é algo imposto, encorajado, incentivado e não nasce do próprio aluno, não é natural. E, quando existe uma vontade particular, pessoal, interna, considera-se como fator motivacional intrínseco. Ora, teoricamente, a criança ao ingressar na vida escolar, está sedenta por conhecimentos que possam responder a sua curiosidade, isso significa que existe um desejo de aprender, ou seja, o aluno está motivado.

No entanto, o comportamento da criança e seu aprendizado dependem, nesse caso, de como as respostas às suas necessidades são dadas pelo professor e pelo ambiente escolar. Por isso não se pode lançar mão apenas de uma teoira sobre motivação, pois ela ao mesmo tempo que é uma vontade é também uma razão. Razão essa que deve, hipoteticamente, responder as necessidades de cada um em particular ou em sociedade.

Todavia, os fatores externos podem interferir positivamente ou não no sucesso dessa empreitada. Os estímulos externos dependem da relação com a família, com o professor e com a escola. Conforme Tiba (1996, p.143), “Os pais (e professores) têm que amadurecer também com o desenvolvimento dos filhos (e alunos). O mínimo exigido é a mudança de relacionamento com eles”. Isso quer dizer que tudo influi no rendimento do aluno e que o sucesso da escola também depende do que ocorre fora do perímetro institucional.

Didaticamente, a motivação é um processo de incentivação que se destina a despertar os impulsos no cerne do indivíduo, impulsionando-o a participar das atividades escolares. Motivar é inclinar o educando ao aprendizado. No contexto escolar, a motivação tem a finalidade de estabelecer conexões entre a disciplina e o aprendizado, o professor e o aluno. Segundo Pilleti (1997, p. 233):

A motivação consiste em apresentar a alguém estímulos e incentivos que lhe favoreçam determinado tipo de conduta. Em sentido didático, consiste em oferecer ao aluno os estímulos e incentivos apropriados para tornar a aprendizagem mais eficaz. Essa é a base para um bom relacionamento em sala de aula, e para que exista verdadeiramente o aprendizado.

Entender como é a relação motivação-indivíduo-motivação é compreender as razões propulsoras da ação, é conhecer a realidade do aluno para saber como lidar em determinada situação que possa interferir no processo de ensino-aprendizagem.

Por ser social e um reflexo da cultura do professor, a prática educativa não se reduz à sala de aula, é relacionada diretamente a outras práticas, que são vindouras de outros espaços e que influenciam diretamente no seu desenvolvimento, como por exemplo, o sistema educacional e a própria filosofia da instituição, Lortie citado por Zabala (1998, p. 42), considera que “para além do espaço concreto da prática (a sala de aula), o trabalho dos professores é condicionado pelos sistemas educativos e pelas organizações escolares em que estão inseridas”.

Em sala de aula, o professor deve incentivar o potencial dos educandos e captar a atenção e o respeito deles. Quando essa interação não acontece, perde-se o sentido educacional e finda por não atingir o aprendizado. Segundo Tiba (1996, 122), “O professor precisa provocar, captar a atenção dos alunos para o que ele está falando. O que a gente vê não esquece, o que nem sempre ocorre com o que lemos”. O educador que gesticula, que tem domínio de sala, que sabe usar o espaço escolar e que tem uma didática diferente transforma a desatenção em atenção.

Para motivar o aluno o educador precisa ser atencioso, dinâmico, entusiasta, otimista, precisa clarificar as dúvidas que surgirem no decorrer da aula, acompanhar de perto as atividades diárias, como também ter planejamento, este é parte essencial para a prática educativa.

A relação professor/aluno é importante para a aprendizagem, essa interação depende do método, dos instrumentos pedagógicos e também da comunicação entre ambos. Tiba (1996, p. 129), afirma que: “Pedir para o aluno trazer recortes, ter bom humor, estabelecer limites, fazer provas que avaliem o conhecimento etc. são alguns ingredientes que o professor pode utilizar para ser bem-sucedido em sala de aula”.

Quanto aos deveres do educador, numa escola democrática que visa a transformação social, articulada com a sociedade, este precisa participar da construção do currículo da sua escola, como afirma Veiga (1989, p. 87) “A escola tem que pensar sobre o que pretende, do ponto de vista político e pedagógico. O planejamento do currículo, assentado nos pressupostos de uma pedagogia crítica, tem um compromisso com a transformação social”. O professor deve elaborar suas aulas como também deve ser reflexivo e crítico.

O educador precisa estar também estimulado e preparado para perceber e saber lidar com a falta de motivação na sala, para melhorar sua conduta ou até mesmo para transformar sua prática e desenvolver seu trabalho com mais eficiência e chegar ao seu objetivo que é dotar seus alunos de conhecimentos favoráveis para o desenvolvimento individual. Pois o professor é responsável, de certa forma, pelo futuro das crianças.

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benna bandeira
Enviado por benna bandeira em 17/09/2008
Reeditado em 12/07/2011
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