Dia da Espiga

Nesta próxima quinta-feira, dia 26 de Maio, celebra-se um pouco por todo o Portugal, uma linda tradição, a que se chama a Quinta-feira de Ascensão no aspecto religioso ou quinta-feira da espiga, em termos populares.

Chama-se de Ascensão, porque se celebra o dia em que Maria, mãe de Jesus, subiu aos céus, ascendeu portanto.

Em termos populares, chama-se dia da espiga, porque as pessoas têm a tradição que se vai perdendo no entanto, de irem ao campo apanhar a "espiga", que consta de um ramo composto de uma espiga de trigo, um ramo de oliveira, papoilas e malmequeres que são humildes flores selvagens.

Essencial é apenas, a espiga que simboliza o pão que não deve faltar na mesa, e o ramo de oliveira, que simboliza o azeite que igualmente é imprescindível em qualquer lar.

Assim, era também costume guardar atrás da porta da casa, o ramo da espiga de um ano até ao próximo dia da espiga do ano seguinte, para não faltarem os bens essenciais da mesa dos pobres, pão e azeite.

Quando eu era criança, era hábito na minha aldeia, irmos passear até um local bastante aprazível, junto á nascente do rio Alviela, afluente do Tejo e cujas águas abastecem Lisboa, e aí convivíamos e fazíamos piqueniques, apanhávamos a espiga, ouvíamos o estrondo da água ao sair da montanha na sua nascente límpida e cristalina, e iniciar a sua viagem até ao Tejo, víamos uma parte a ser captada para as enormes condutas em pedra construídas há mais de um século, a ser encaminhada para as torneiras da capital, e divertíamo-nos assim.

Mais tarde na minha adolescência, já a estudar em Santarém, íamos nesse dia em grupos de jovens, para uma quinta junto ao Tejo e convivíamos e ensaiávamos os primeiros namoricos.

Quando jovem adulta, fui para Lisboa trabalhar e morar, perdi o contacto com o campo, mas havia sempre vendedoras vindas das zonas rurais perto da capital, na rua neste dia, com pequenos ramos á venda, mas já não tinha o mesmo sabor, era algo artificial, e sem interesse.

Mais uns anos passados, estou de volta a um ambiente próximo do da minha infância, mas já me falta um pouco a vontade de parar junto a um campo de trigo, e apanhar um raminho de espigas e oliveira.

Como tudo, as tradições que formam a cultura de um povo, vão-se perdendo, e os nosso filhos e netos, já nem saberão que era essa coisa da "espiga", pois que para eles "uma espiga" é apenas sinónimo de algo aborrecido e chato de fazer ou suportar na sua linguagem própria.

E com mais esta história das nossas tradições, me despeço, até uma próxima oportunidade, em que conto iniciar uma série de artigos sobre histórias de gentes que nasceram na minha cidade e se destacaram ao longo de mais de dois mil anos de história.

24 de Maio de 2006

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