Professores ou Super-heróis?
(Desabafo)
 
A missão de um professor é, sem sombra de dúvida, divina, sublime, e essencial para a transformação do mundo, mas temos que admitir que os caminhos pelos quais os educadores têm de trilhar são árduos. Se, como já disse o poeta, “ser mãe é padecer no paraíso”, então, ser professor é padecer - e quase perecer - num caos social.
O professor rema constantemente contra a maré. Parece que nada conspira a seu favor: salas de aula transbordando de alunos, excesso de trabalho e de burocracia, além de sérios problemas trazidos pelos alunos decorrentes de famílias desestruturadas. E como se não bastasse, ainda enfrentam o enorme descaso pela educação, pois, por mais que os governos já tenham feito ou pretendam fazer, sabemos que a educação traz em seu bojo consequências graves, quase trágicas, de uma história de desrespeito e de  infindável descaso vivenciados ao longo dos tempos.
 Os professores estão desestimulados, literalmente cansados - é desumana a carga horária a que eles se submetem para sustentar uma vida com um mínimo de dignidade. Pobres Mestres estão desanimados porque a desatenção da sociedade, com relação à educação e a eles, é visível e evidente.
E tudo cai sobre seus ombros: paralelo ao papel de professor, isto é, de mediador do conhecimento, ele mescla e quase assume o de pai, mãe, psicólogo, assistente social, enfermeiro, conselheiro. Precisa estar atualizado, mas não tem condições - falta suporte financeiro, ou energia, ou tempo, ou os três - para bancar sua qualificação. Deve primar pela qualidade de vida, cuidar de si, dar e receber o aconchego familiar, mas não sabe de que forma, porque tem de trabalhar dois ou até três turnos diários, e, além disso, tem de  planejar aulas, corrigir trabalhos, preencher planilhas e cadernos... mais planilhas e mais cadernos... 
 Mas, apesar de tudo isso, ou melhor dizendo, acima de qualquer coisa, ele próprio sabe – a cobrança vem, em primeiro lugar, dele mesmo e depois da escola, dos alunos e da comunidade – que é necessário estar muito bem consigo mesmo, em todos os sentidos, todos os dias, porque precisa, de qualquer jeito, envolver – para ensinar - durante oito, nove, dez horas-aula seus mais de duzentos alunos. E haja criatividade, alegria, disposição, paciência, saúde e muita, muita energia. Ufa!
Afinal, Professor ou Super-herói?
É indiscutível, inegável, fundamental que o professor deve, sim, estar atualizado(íssimo); ser afetivo; amar o que faz; ter um olhar diferenciado para cada um de seus alunos; ser criativo; cuidar da saúde, da autoestima, ter qualidade de vida; ensinar com paixão, alegria, dinamismo. Mas, para que tudo isso seja viável, ele também – e com urgência - precisa ser “visto com outros olhos”. Com os olhos de quem conhece o valor que tem um educador, e de quem sabe que esse educador é, antes de tudo, um ser humano, com todas as necessidades que daí advém.
É inegável, também, que a escola e principalmente o professor são importantíssimos para a construção de uma sociedade diferente dessa que está aí, afinal, eles contribuem para a formação de cidadãos. Mas sozinhos, mesmo se entregando de corpo e alma a essa grande e nobre missão, os professores e a escola estão fadados ao malogro, pois sabemos que para se construir um novo mundo é preciso qualidade e êxito na educação. E isso somente será possível com o envolvimento e a responsabilidade de todos os segmentos sociais. Todos têm de estar engajados, cumprindo, de verdade, sem hipocrisia, cada um o seu papel, caso contrário, a escola fracassará e o pobre professor sucumbirá na tentativa de carregar tudo nas costas.
 
                          Jussára C Godinho     
     
 
(Texto escrito em maio de 2008)