Experiências Pedagógicas - Anotações

Por uma aprendizagem ativa

Boa parte de minha vida tenho passado envolvida com processos de aprendizagem, humana ou de máquina. Tive já, portanto, oportunidade de conhecer e aplicar vários métodos de ensino-aprendizagem. Estratégias que promovem um tipo de aprendizado que aqui chamo participativa – na literatura técnica já vi referenciados como ‘active learning’ – se mostraram bastante eficazes e o que considero de melhor até aqui.

Das vezes em que atuei como professora, antes de começar a desenvolver qualquer tipo de trabalho em sala de aula, sempre achei essencial criar um clima que estimule a criatividade e a segurança, um ambiente em que os participantes possam se sentir seguros para experimentar, criticar, perguntar, errar sem medo de serem ridicularizados ou testar seus limites. Isso pode ser aplicado do jardim de infância a cursos superiores. Um ambiente seguro estimula tanto a criatividade quanto o desejo de cooperar.

O segredo de uma boa aula não penso que esteja na abundância de recursos ou equipamentos. Lógico que quanto mais recursos disponíveis, melhor. Porém, minhas melhores experiências se deram por recursos produzidos pelos próprios participantes, e pela criatividade e domínio de conhecimento do professor. Transmitir conhecimento de maneira efetiva, em minha opinião, requer, logo no início, convencer o aprendiz da necessidade e importância dessas informações.

Antes de (em sala de aula) despejar quantidades enormes de conhecimento sobre artes, por exemplo, melhor me parece chegar com materiais simples e propor que os participantes criem sua própria arte, sem medo de ser feliz. Depois, de posse dos objetos produzidos (pinturas, esculturas, desenhos, fotos, recortes etc.) promover discussões e levar os participantes a criarem critérios para avaliação de suas produções e dos colegas. Perguntas como as listadas abaixo podem criar excelentes oportunidades para discutir a necessidade e direcionar a aquisição de conhecimentos:

- Por que escolhi esse material?

- E se tivesse usado aquele, ao invés desse?

- O que eu quis representar?

- O que o expectador entendeu?

- Como ‘eu’ definiria minha arte? Como críticos de arte poderiam definir minha arte? Que critérios usam e quem os definiu? Até que ponto tais critérios se aplicam à minha arte? O que eu preciso para melhorar? Este caminho, por ventura, me interessa?

Naturalmente que, em se tratando de crianças e adolescentes, o professor tem que ter uma dose maior de criatividade (e paciêcia) para fazê-los querer adquirir um conhecimento que, à primeira vista, lhes parece desnecessário, como literatura. Se bem que, em se tratando de arte até os homens das cavernas, com seus desenhos de cenas do cotidiano nas paredes, nos mostram que a expressão artística parece sempre ter sido algo natural do ser humano. O importante é motivar cada indivíduo a canalizar suas energias para aprender bem aquilo que lhe interessa ou pode lhe alargar a visão de mundo, criando-lhe muito mais chances no futuro.

Um médico, certa vez, me disse que se eu quisesse uma vida saudável, que tratasse de comer de tudo, porém com moderação. Assim como o corpo precisa de variedade - comer sempre as mesmas coisas pode causar o aparecimento de alergias alimentares - assim também a um aprendiz deve ser dada a chance de experimentar vários caminhos.

Sim, eu sei que há muito mais instituições presas à ditadura de currículos escolares, não podem (ou não querem) incorrer riscos de aplicar novas propostas pedagógicas. Por outro lado, o medo da inovação e experimentação pode trazer muito mais prejuízos, sem falar no tempo perdido. Bom, seguindo também a idéia de experimentar tudo - com moderação, claro -, um professor pode escolher determinados momentos para fugir vez ou outra do convencional e preocupar-se em mostrar como se adquire conhecimento sozinho.

Outra parte importante é mostrar aos aprendizes como trabalhar efetivamente em grupos, aplicando também as idéias de aprendizagem cooperativa - integrantes de cada grupo colaboram e os grupos concorrem entre si, porém cooperando para um objetivo comum. Assim é possível distribuir e trabalhar um conteúdo vasto entre os grupos, através da realização de apresentações, seminários e debates onde todos, por assumirem o papel de professor mesmo que momentaneamente, são chamados a participar efetivamente.

E o que fazer com os que não participam? Se abordarmos a questão da segurança – se um aprendiz não tem medo de errar e ser ridicularizado, ele participa de bom grado – simples: somos seres sociáveis! E para casos extremos de bloqueio ainda se pode tentar conversar, descobrir o motivo e incentivar a pessoa a sair de sua casca, devagarzinho.

Jamais tive a experiência em que algum aluno se recusasse terminantemente a participar de atividades em minhas turmas. No entanto, é necessário tempo e paciência para que o esquema funcione e comece a render frutos. Não creio que um 'professor de coração' desista diante das primeiras dificuldades...

A idéia da aprendizagem participativa seria então despertar a motivação do aprendiz para a necessidade de obter um determinado conteúdo, apresentar problemas, dividí-los entre o grupo e depois trabalhar (analisar) os resultados, aí sim, apresentando o conhecimento consolidado necessário, dando ferramentas ao aprendiz para que ele comece desde cedo a construir o seu próprio arsenal de conhecimento.

Ah, e para quem por ventura pensa que tais idéias não funcionam em ambientes repletos de problemas sociais, como geralmente é o caso de escolas em periferias, aqui mesmo no RL se encontra vários relatos de pessoas que aplicam tais métodos naturalmente, sem saber como pedagogos modernos os teorizam, seguindo simplesmente seu coração de professor. :-)

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Nota:

Organizando meus arquivos encontrei essas anotações. Não faz assim tanto tempo que as escrevi. Não posso precisar a data. Compartilho-as aqui como simples troca de experiências. Talvez possam ser úteis a alguém. Se assim for, fico feliz.

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Lembrete: Caso ainda não o tenha feito, leia BIOGRAFIA EM 6 PALAVRAS e participe do desafio :-)

ERRATA - 22.01.2010

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Nos trechos

a) "Estratégias que promovem um tipo de aprendizado que aqui chamo participativa" e

b) "A idéia da aprendizagem participativa seria então despertar a motivação do aprendiz para a necessidade de... ",

ao invés de PARTICIPATIVA, quis dizer ATIVA. Se bem que o significado de um não se afasta tanto assim do outro, no tocante ao tema e no contexto deste artigo.