A Bíblia e a Ciência

A Bíblia e a Ciência são duas fontes da verdade que se complementam, embora muitos as vêem como partes contraditórias. A Ciência tem por objetivo descobrir o conhecimento que está posto nas coisas criadas. E a Bíblia diz que tudo o que Deus se pode conhecer, tanto a sua divindade, como o seu eterno poder, encontra-se revelado na própria criação (Rm 1:21). Essa reflexão pretende abordar o relacionamento entre a fé e a razão, entre a Bíblia e a Ciência.

No dia 20 de fevereiro de 2010 recebi um feedback de um querido irmão, o qual me disse o seguinte:

Ando resolvendo umas coisas de ordem interna... Tenho buscado Deus nesses últimos 19 anos... Tenho pedido muito a ele para que eu possa crer sem duvidar.

Tenho estudado o pensamento evolucionista e confesso que para dar credito a que o acaso reja todas essas variáveis que mantém esse planeta numa órbita perfeita e em um ponto ótimo sem o qual não poderia haver vida; e que, além disso, observo que, se estivéssemos só um pouquinho distante do sol morreríamos congelados e, se um poucochinho mais próximo, até os oceanos evaporariam... Isso, sem falar nas bilhões de combinações de neurônios, em que, se uma só não der certo, ela pode tornar o individuo “abilolado” e que existem bilhões de seres no qual essas combinações são perfeitas... Para mim, como um egresso da [Academia de Ciências] é algo impossível de acontecer olhando pela ótica das probabilidades.

Então, entre pensar que algo inanimado evoluiu em determinado momento para algo vivo, pelo simples acaso, racionalmente prefiro acreditar em um milagre e que a vida já surgiu integralmente.

Mas também é verdade que só de uns anos para cá tenho pensado dessa forma e que estive em momentos bem mais difíceis. Acreditar e dizer que acredita piamente em Deus é fácil, mas tenho buscado algo real, do qual eu não duvide nem em pensamento; e nisso confesso para o irmão que ainda sou uma espécie de Tomé de Beréia. Ouço algo e fico buscando conferir.

Recrimino-me, pois entendo que deveria simplesmente crer.

Mas tenho pedido a Deus que me faça acreditar nele (surrealista, não?).

Abraço, irmão Izaias.

Eu gostei muito do que esse irmão me escreveu, pela sinceridade em falar-me sobre os seus dilemas. Não vou revelar seu nome. Um dia ele vai dar seu testemunho e vai dizer a todos como é difícil para um cientista dar lugar ao Espírito e acreditar em Deus. Mas ele também dirá que somente Deus pode transformar verdadeiramente a vida do homem. A Ciência pode melhorar a nossa vida, mas é a fé que a eterniza (Jo 3:12; Mt 5:37; Tg 5:12).

E então eu respondi o seguinte:

Querido irmão... Acho que nunca tinha ouvido tanto sobre sua fé como li nesse e-mail. Obrigado por compartilhar comigo um pouco das suas experiências. É certo que todos nós, que buscamos uma "fé racional" (sic) temos e haveremos de ter muitas dúvidas. Isso é normal! (Rm 14:1; Jd 1:22).

Os positivistas, discípulos de Augusto Comte, entendiam que a religião teve o seu papel na história do homem, mas que hoje é desnecessária, sendo a ciência suficiente para encaminhar-nos. Segundo eles, a religião foi útil quando não se tinha nada para fundamentar a vida do homem. Explicando tudo pela crença, ela lançou as hipóteses para a pesquisa e a inquirição científica, mas, na medida em que a verdade científica foi sendo construída, a ciência pode ir prescindindo dessas bases religiosas, apoiando-se apenas em suas próprias verdades, cientificamente comprovadas. Teríamos aqui os fundamentos do método dialético: tese, antítese e síntese.

Antes, a tese era a crença religiosa; hoje, a tese é a verdade científica comprovada até certo ponto e que passa a ser contestada por meio de uma antítese. E, da síntese dessa contestação surge uma nova tese, à qual se oporá nova antítese, repetindo-se indefinidamente o processo.

Prezado Amigo... Eu sou um cientista. Sou pedagogo, matemático e jurista. Também sou egresso da Academia de Ciências, como você... Mas, também sou um homem de fé. Não foi a ciência que transformou a minha vida. Foi a fé. Alcoólatra sob controle divino há quase dezesseis anos, de bem com a vida, com a família, amado por todos, mas principalmente pela esposa e pelos irmãos, sou um homem feliz. Também tenho meus altos e baixos, mas os altos superam os baixos. Continuo no mundo, mas estou guardado de ser desviado por ele (Jo 17:15; Rm 14:22; Gl 6:1; 1 Tm 4:16)

Então, o que faço para conciliar minhas duas naturezas: material-científica e espiritual? (Gl 5:17; Rm 3:4).

Minha resposta é simples. Concordo com o que diz Werner Keller em seu "... e a Bíblia tinha razão....", quando afirma que "pesquisas arqueológicas demonstram a verdade histórica dos Livros Sagrados". Para mim, a Bíblia traz a verdade completa; a Ciência ainda não chegou a esse ponto, mas como o homem é persistente, um dia vai comprovar que a verdade sempre esteve com a Bíblia (Mt 22:29; Jo 5:39; 2 Tm 2:15).

Assim, meu caro irmão... Estudo as ciências não para procurar contestar ou discutir a verdade bíblica, mas no sentido de ver como ela é capaz de provar aquilo que Deus já nos tem revelado. Estudo Ciência para fortalecer a minha fé e não para abalá-la. Se a Ciência não consegue provar a verdade bíblica, o que eu digo é que um dia ela vai provar e não que a Bíblia está errada.

Como se sabe, até agora a Ciência não provou que a Bíblia estava errada. Apenas não conseguiu provar toda a teoria bíblica. A falha não é da Bíblia; a falha é da limitação humana que ainda não alcançou a revelação plena. O homem se deixa envolver por seus próprios raciocínios e não consegue ver a verdade. A aquisição do conhecimento exige simplicidade e humildade. Exige um disposição mental para conhecer (Rm 1:21; 2 Co 10:5; Cl 2:4; 1 Co 3:18).

Um dia tudo ficará claro. Então não precisaremos ter fé, porque haveremos de ver as coisas como elas são. E a fé... Ela é um atributo necessário para se ter certeza das coisas que não se vêem e convicção naquelas em que se acredita (Hb 11:1; 1 Co 2:10).

Creia em Deus. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará (Sl 37:5). “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá” (Fp 3:15).