Os Vinte e Dois Anos Upeninos

A solidariedade da fraternidade upenina não tem preço. São vinte e dois anos de convivência, de lutas comuns, de ideais compartilhados, equilibrados por alguns conflitos naturais que além de corroborar o entendimento, nos dizem que não somos meros depósitos das idéias alienígenas, mas que também pensamos e temos opinião e influência nas decisões de nosso colegiado.

Hoje é dia de eleição upenina. Nem todos votarão. Isso é normal em qualquer processo democrático. Não impedirá a eleição, principalmente porque ninguém discutirá o resultado por não ter comparecido. Todos acatarão a vontade soberana e democrática de nossa fraternidade. É assim que sempre foi. E os trabalhos upeninos haverão de continuar, garantindo a memória e a história de nossa cidade, a qual não existiria sem os escritores de suas peripécias, fábulas e realizações.

Estando presentes ou ausentes nessa eleição, nós não deixaremos de ser os sempre fraternos upeninos. Apoiaremos as lutas e as propostas da nossa entidade, “em defesa da arte e da cultura” e ficaremos satisfeitos de poder olhar pelas janelas do passado e ver lindas paisagens coloridas pelos matizes upeninos; e, mais feliz ainda, veremos que, apesar de muitos de nós já estarmos com os cabelos embranquecidos, o futuro continuará garantido através da juventude da maioria de nós que nunca envelhecerá.

Nessa oportunidade, quero registrar os meus agradecimentos aos companheiros que lideram essa entidade e que encabeçaram uma campanha de amor em prol do tratamento médico de meu filho Ricardo Resplandes, infelizmente acometido por grave enfermidade cerebral. Essa é a UPE que eu conheço e que acompanho com alegria. Ela não falta nas horas que nós mais precisamos. Faz presença. Atitudes como essas comprovam que, de fato, nós somos irmãos. Carregamos o sobrenome Upenino, que não somente nos politiza como homens do povo, da cidade e do mundo, mas que também nos irmana sob o mesmo telhado e faz os nossos corações pulsarem no mesmo entusiasmo. Obrigado por tudo o que estão fazendo por mim, por meu filho e por minha família.

Estou viajando hoje para Goiânia, com Lourdes (minha esposa) e Ricardo (meu filho caçula), o qual, no dia 15 de abril completará dezenove anos e que fará uma operação intracraniana para a eliminação de um angioma cavernoso que se encontra alojado em seu cérebro. Vou devagar, observando as mudanças na paisagem que estará emoldurada pela janela do meu carro, ao tempo em que vou refletindo no poder de um Deus para o qual impossibilidades não existem. Então o meu coração de crente me fará acreditar que apenas estamos indo saciar em uma das fontes da vida que Ele tem naquela cidade, para nos revigorarmos; e então retornaremos para mais uma década de labores em prol de nossa “doce e amada Poxoréu”.

Percorreremos a velha estrada que liga as históricas cidades de Cuiabá e Goiás. Atravessaremos os rios Araguaia, Caiapó, Claro e tantas outras águas. Veremos Barra do Garças, onde almoçaremos com os familiares; continuaremos pela BR-070, passando por Jussara e atingindo a histórica cidade de Goiás, patrimônio da humanidade, a terra da doceira poetisa Cora Coralina. Veremos as cerâmicas e outras peças de seu rico artesanato. E, por fim, pernoitaremos em Goiânia, capital de Goiás. No percurso, por várias vezes vou chamar a atenção de meu filho Ricardo para rever uma serra ou um rio que já serviu de cenário para nossas fotografias, em alguma de nossas diversas viagens nesse caminho. Ele sorrirá e fará um breve comentário. E eu ficarei feliz por ouvi-lo. Todo pai gosta de ouvir a voz de seu filho. E faremos de tudo para que essa viagem seja a mais agradável possível. Para tanto, cantarei hinos e coros que retratem a nossa esperança de vida.

Enfim, essa é a velha jornada dos homens, desde que o mundo é mundo. Não há nada de novo. Estaremos seguindo o caminho dos nômades pré-históricos, fazendo a nossa eterna viagem pelo planeta, objetivando descobrir os benefícios das novas tecnologias científicas utilizadas pela medicina goiana. Mas não perderemos de vista as nossas ligações com essa fraternidade, para onde esperamos trazer mais uma medalha de ouro por uma conquista vitoriosa de nosso jovem Ricardo Resplandes em sua corrida pela vida.

E que a UPE, contemporânea de Ricardo, continue a sua gloriosa trajetória de lutas em prol de Poxoréu, que, vale dizer, também é a sua terra natal. Vamos em frente. Ainda há muita coisa para se fazer em prol de nossos filhos. Eles merecem todo o nosso empenho, a nossa dedicação, a nossa fé e o nosso entusiasmo. Um abraço upenino a todos. Muito obrigado.

Poxoréu, 28 de março de 2010.

Prof. Izaias Resplandes de Sousa, Upenino.