Superando as dificuldades de aprendizagem escolar

Não há como negar que existem muitas dificuldades de aprendizagem em todas as áreas do conhecimento. O caso concreto, levado em pesquisa preliminar que realizamos revelou algumas dessas dificuldades na área das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Para superação apresentamos duas propostas. Ambas, evidentemente, passíveis de crítica. Mas, justamente por isso devem ser apreciadas. A rejeição, certamente deveria ser direta, se nem a crítica merecessem.

A primeira proposta consiste em incrementar as aulas tradicionais de cuspe e giz com as tecnologias disponíveis no âmbito escolar, tais como slides, vídeos e informática. Essa é a proposta governamental brasileira.

Segundo o Freire (2010:236), “os governantes lançam projetos que chamam de ‘democratização da internet’, dando acesso público à rede sem fio para cidadãos menos favorecidos. A premissa seguida é que a tecnologia gera, quase que por osmose, conhecimento gratuito (e indolor) para todos. Então, para que investir em salas de aula, professores ou material didático de qualidade se podem levar tudo por meio de um cabo de computador de maneira fácil, pronta e rápida?”.

A segunda proposta, de cunho mais radical, consiste na equiparação de todos os espaços pedagógicos disponíveis na escola, onde nenhum teria precedência sobre os demais. Nesse caminhar, os alunos teriam liberdade de estar no ambiente que melhor atendesse aos seus interesses, ou seja, se o aluno desejar estar na sala de aula construindo o conhecimento sistematizado com o auxílio do professor, ele poderá estar; mas, se desejar estar no laboratório de informática, na biblioteca, na quadra de esportes ou na praça de recreio, ele também terá a liberdade de ali estar, sem prejuízo na freqüência, a qual também poderia ser colhida nesses espaços, através dos monitores que ali atuariam.

A proposta se fundamenta na constatação de que não há aprendizagem se não houver incorporação de saberes na prática quotidiana do aprendiz. Teorias decoradas para se fazer exames, concursos, provas e similares não correspondem a aprendizagens reais.

Os alunos de hoje podem até ter muitas informações sobre diversos acontecimentos mundiais, mas não têm conhecimento suficiente para modificar o seu status quo, ou seja, a vida de cada um caminha em uma mesmice sem fim. É preciso que as atividades escolares caminhem de encontro aos interesses dos alunos; que a escola “ensine” o que os alunos desejam de fato aprender.

É sabido que o aluno somente disporá de seu tempo em favor da perseguição de determinada aprendizagem, caso entenda ser esta extremamente necessária à sua vida. Se não houver essa compreensão, ele não se disporá para aprender. E sem o seu interesse na aprendizagem, todo o trabalho realizado pela escola será vazio e não conduzirá a lugar algum. Será um grande fiasco. É isso o que vem ocorrendo hoje em dia, onde apesar de nunca termos visto tanta informação acumulada pela humanidade, paradoxalmente, vemos uma humanidade cada vez mais desprovida de alternativas de futuro, ao ponto de alguns deterministas argumentarem que esta será a geração que marcará o desfecho da vida humana na terra, ou em outras palavras, o fim do mundo.

Quanto à crítica, é possível que a quadra de esportes fique cheia de interessados, de tal sorte que o professor responsável tenha que organizar torneios que permitam a participação de todos no espaço limitado. O mesmo pode ocorrer no laboratório ou na sala de vídeo, onde o acesso será limitado ao número de máquinas e de assentos. É possível que haja bem poucos interessados nas aulas formais da sala de aula, mas com certeza, aqueles que lá estiverem, estarão por livre e espontânea vontade e não porque foram constrangidos pelo sistema escolar para lá estarem.

Todos nós devemos ser constrangidos a agir. Mas isso deve emergir de forma natural e individual. Eu posso até não gostar de fazer isso ou aquilo, mas eu faço porque eu preciso disso, porque não existem alternativas. É isso que faz o mundo avançar.

A sala de aula não é e não pode ser um espaço de constrição da liberdade do corpo discente. Mas não pode ser um espaço vazio e sem utilidade. O professor não é uma babá que toma conta de pessoas que não tem o que fazer e nem responsabilidade para ficarem sozinhas. Tampouco é o carcereiro que obriga um grupo de alunos a permanecer em uma sala de aula. E muito menos é um palhaço ou um animador de espetáculos. No entanto, ele está sendo tudo isso, pois é esse, vergonhosamente, o objetivo que caracteriza a sala de aula dos tempos atuais.

A pesquisa de campo que realizamos revelou que os alunos dizem adorar as palhaçadas que um professor faz para animá-los, mas detestam a impaciência de outro que critica o comportamento e o desinteresse da classe. Não dá para continuar mantendo esse estado de coisas.

A escola deve ser um centro de apropriação de novos saberes. E o professor deve ser o mediador dessa aprendizagem. A experiência de sala de aula mostra que a maioria dos alunos que buscam o espaço está ali porque foi constrangida pelos pais ou pelo sistema escolar. Poucos comparecem porque estão sedentos de novas aprendizagens. Mas estes alunos existem. E o mundo precisa deles. Serão estes que oferecerão as soluções desejadas e esperadas pelo conjunto da humanidade. De forma que é preciso premiar o seu interesse e o seu sacrifico em prol do saber.

A escola deve expurgar das salas de aula os desinteressados no conhecimento sistematizado. Se eles querem diversão, que se criem espaços de diversão; e, se querem navegar pelo espaço informatizado, que se ampliem essas possibilidades. Que a sala de aula seja reservada apenas para aqueles que querem promover o debate e a construção de novos saberes.

É evidente que a proposta de incrementar as aulas tradicionais de cuspe e giz com as tecnologias disponíveis no âmbito escolar, não deve ser desprezada. É possível que a utilização das tecnologias venha contribuir para aumentar o interesse dos alunos pelos conhecimentos sistematizados. Mas uma proposta não descarta a outra. Pelo contrário, elas se complementam.

A conclusão é que a sociedade do século XXI não pode permitir que seu futuro fique nas mãos dessa geração navio. Necessário se faz que a geração submarino assuma o controle do processo, sob pena de vermos toda a humanidade terminar sua existência por falta de solução aos desafios destes novos tempos.