O Povo em Pé
 
O livro é “As cartas do caminho sagrado”, A autora, Jamie Sams. Faz parte da Coleção Arco do Tempo, da Rocco. É um livro de auto-ajuda, muito interessante. Funciona junto com um baralho. São várias as formas de trabalhar com ele, mas não é isso o que importa. Não vou escrever sobre o livro em si, mas sobre uma única carta: a carta número cinco, que fala do Povo em pé.

A motivação para esta crônica foi a leitura de “Povo das Plantas”, um artigo de Bernard Gontier publicado no Recanto das Letras em 28 de julho. Nesse artigo Bernard escreve sobre o Físico alemão Gustav Theodor Fechner, que viveu no século XIX e chegou à conclusão de que as plantas têm alma.

Segundo os ensinamentos dos índios norte americanos os Seres do Povo em Pé são as árvores, nossos irmãos e irmãs e chefes do reino das Plantas. Esse Povo é que fornece oxigênio para os seus irmãos que dele precisam para viver. São eles também que abrigam os seres com asas e as criaturas de quatro patas que vivem nos vãos de suas raízes, abaixo do solo. E a autora vai por aí, citando todos os benefícios que as árvores fornecem para os humanos, e para os outros Povos, como o Povo da Pedra, benefícios que não preciso relacionar porque todos nós aprendemos isso desde o curso primário e principalmente agora, quando se busca correr atrás do prejuízo causado principalmente por uma sub nação do Povo de Duas Pernas: os Seres do Poder e do Dinheiro.
 
O capítulo que se refere à carta de número cinco é muito bonito, como são bonitos todos os outros capítulos do baralho. Ela relaciona árvore por árvore e o benefício que aquela espécie pode trazer não só para a nossa vida material quanto para a espiritual. Mostra a importância de se respeitar todos os Povos das Plantas utilizando-se deles apenas para as nossas próprias necessidades, sem esperdício. Conta sobre os rituais utilizados pelos nativos para conseguir permissão para se utilizarem do Povo das Plantas, só para a própria sobrevivência. Além de nos comparar, os Seres de Duas Pernas, com uma árvore: temos uma espinha que lembra um tronco, braços que parecem galhos, cabelos que lembram folhas. Crescemos em direção ao Sol da mesma forma que os galhos das árvores se esticam em direção ao Avô-Sol. Segundo a tradição nativa dos índios norte americanos nós recebemos nossa compreensão através de nossas “antenas” (cabelos) bem como o Povo das Plantas recebe a “luz” através das suas (folhas). Da mesma forma que não existe um ser humano igual ao outro também não existe uma planta igual à outra. E assim por diante vai se estabelecendo semelhanças e diferenças entre esses dois povos. E por fim, fornece dados para que, aquele que retirou do baralho a carta cinco, aplique as lições do Povo em pé ou, como diz Gontier/Flechner, o Povo das Plantas. As palavras chave são: equilíbrio e doação.

O que me chamou a atenção no artigo de Gontier e fez com que eu fosse buscar em minhas empoeiradas prateleiras esse livro, foi a semelhança de pensamento entre esse cientista alemão e a crença da tradição dos índios norte americanos: as plantas têm alma, não apenas vida.  Provavelmente nunca tiveram contato entre si. O conhecimento de ambos foi conseguido através da observação e da reflexão. E aqui vem a grande questão: Por que, vivendo em lugares bem diferentes entre si, em tempos diferentes e sem nenhum contato entre si as pessoas chegam a descobertas semelhantes, atingem o mesmo conhecimento? De onde vem esse insight que leva ao mesmo ponto embora por caminhos diferentes? Temos o direito de zombar de coisas que nos parecem disparatadas, mas que outros dão como certas? Não sei as respostas, mas continuarei fazendo as perguntas. E para terminar, tomo emprestado à autora, versos que não sei se são delas ou dos nativos.
 
“Olá, Árvore Sagrada da Vida,
Raiz de cada árvore,
Obrigado por me concederes
Os dons que me concedes.
Olá, Povo em Pé,
Que me ensinarás
Afincar raízes na Terra,
Enquanto alcanço o Avô Sol.
Olá, Salgueiro, árvore do amor,
Ensina-me a me curvar,
Até formar um círculo perfeito,
Cada parente um amigo.”