Sobre o voto consciente.
 
 
 
      Eu havia planejado não escrever sobre as eleições. Alguns assuntos são terríveis para causar mal entendidos. Todos sabem quais são esses assuntos: religião, política, futebol, dinheiro, família e paixões. Mas se a gente for seguir tudo o que é politicamente correto vai é acabar ficando sem ter sobre o que falar.

     O primeiro turno foi de bom tamanho para mim.Fiquei satisfeita. Votei e não discuti com ninguém. Elegi um governador que acho decente e eficiente, um senador que me agrada como líder político, outro do qual não gosto tanto, mas que aparentemente é honesto, um deputado federal do qual em minha terra falaram bem tanto a situação quanto a oposição. Não consegui eleger o deputado estadual, mas eu já esperava por isso e nem me importei muito porque foi um voto de cabresto e colaborei para que Lula caísse em si um pouquinho e pudesse perceber que há gente que está vendo que o Rei está nu.
 
     Mas tem um bichinho comichando em alguma parte de mim querendo que eu me manifeste mais claramente sobre a Política Brasileira.

     Tenho observado, tanto no meu mundo quanto através da mídia que as pessoas estão clamando por voto consciente. Mas tenho observado também que a maioria das manifestações considera como conscientes aqueles votos que serão dados para seu candidato. Significância disso? Se você pensa como eu você pensa conscientemente. Se pensa ao contrário seu voto é tudo menos consciente. Tenho ouvido justificativas para explicar porque a pessoa considera que votou conscientemente que têm me deixado realmente de boca aberta. Fico sem ação até para continuar a conversa. Acho que é por isso que estou escrevendo. Quando a gente escreve não é interrompido.

     Descobri que o meu próprio voto não estava sendo tão consciente assim. O meu não - voto foi consciente. Eu sei por que não votei na Dilma. Não- votei realmente com ciência. Mas o meu voto foi dado apenas para não votar na Dilma.

       Sei direitinho porque não votei nela e não me perco em nenhuma discussão a respeito porque tenho argumentos válidos. Até chego a defendê-la quando o motivo utilizado para não se votar nela é tolo, fútil e muitas vezes até envolvendo baixaria. Muitas pessoas dizem: mas votar em uma terrorista, que horror? Eu digo: e por que não? Quando jovem ela lutou contra um governo opressor, com a cara limpa, tendo tudo a perder e nada a ganhar. Para mim, exemplo de coragem, de responsabilidade social, de amor a Pátria. Só que agora ela mudou. Provou, para minha tristeza, que o Poder corrompe. Eu sempre desconfiei disso mas vivo tendo uma esperança. A de encontrar um não corruptível.

     Mas afinal, por que não votei e não tornarei a votar na Dilma?
Simples:

- a) não gosto de fantoches. Até agora Dilma não tem se manifestado como um ser individualizado – não tem passado de uma boneca com quem Lula e o PT brincam. Provavelmente será o Presidente, mas se realmente quiser governar vai ter que se livrar da máscara que o Partido e Lula lhe impuseram.

-b) para a Democracia a alternância no Poder é necessária. Não gosto desse continuísmo que leva os políticos a pensarem que são deuses, que podem fazer o que quiserem: dá muito trabalho tirá-los de lá e eu não tenho mais tempo nem idade para fazer isso. Basta o que já ajudei a fazer.

c) Dilma não apresentou ainda uma política própria. Vai apenas continuar o que Lula fez e o que Fernando Henrique começou. Ela nem conhecia o próprio programa! E anda falando bobagem. E desfalando.

d) Eu não consigo perdoar o PT por ter se transformado no que se transformou. O Partido Ético que me encantou não existe mais. A corrupção que parece inerente ao poder, desandou com Lula e ele e seus partidários nem ao menos se preocupam em reconhecê-la e a se livrar dela. Eu sei que a corrupção existe, em todos os lugares, em todos os países. Mas a corrupção no PT dói demais. É um sonho que virou pesadelo.

e) Em minha opinião a Política Externa brasileira é simplesmente ridícula. Essa aproximação com os Países que não têm nenhuma idéia do que seja democracia quase me mata de pavor.

f) A minha grande preocupação se chama censura a Imprensa. Mais de uma vez acenou-se com essas possibilidades. Com censura a Imprensa, adeus Democracia. O país que tem um Judiciário Forte não precisa censurar nada. Calúnia deveria ser crime resolvido na Justiça.

      Não pensem que não reconheço as coisas boas que o governo fez. E essas coisas boas serão irreversíveis como coisas boas de outros governos também foram. Nem acho que ao dar bolsa para isso e para aquilo ele está dando o peixe em vez de ensinar a pescar. Para mim ele podia até ter dobrado esses benefícios e atingido mais gente. Sobraria menos para a corrupção. Acho a miséria por aqui ainda muito grande para ele estar distribuindo dinheiro para ajudar outros povos. A responsabilidade dele e de todo governante é com os seus governados.

     E agora, que já expliquei que o meu não-voto foi consciente, vou procurar saber se o meu voto será ou não consciente. Porque, se eu tiver a menor dúvida de que ele será, eu simplesmente anularei o meu voto. Para isso ainda tenho alguns dias para me informar. Que é o que todo  (e)leitor deveria fazer. Temos excelentes analistas escrevendo por aí, em jornais, revistas e na net.