O Povo aumenta mas não inventa - Versão da história de Antônio Conselheiro, contada pelo povo.

Caros leitores, algo que chamou minha atenção quando comecei a visitar as bancas de literatura de Cordel no Ceará, foi a história de Antônio Conselheiro, na versão contada pelo povo.

Antônio Conselheiro foi uma espécie de herói da resistência, e a meu ver, deveria ser colocado como herói nacional como fizeram com Tiradentes.A idéia de Antônio Conselheiro, ganhou versão de revolta justamente por mexer com os brios do exército brasileiro, mas Antônio era um homem de Paz, uma espécie de Che Guevara esquecido pelo povo, e deixado de lado por nossa história, ou simplesmente citado em um pequeno resumo na educação escolar , como aconteceu comigo, e hoje com a oportunidade de trabalhar em algo que me dá a chance de fazer pesquisas sobre os assuntos que me interessam, e surpresa fiquei ao entender um pouco mais sobre a revolta de canudos, as mentiras que os governantes inventavam, e a fidelidade do povo ao homem que tinha a idéia de criar um mundo justo e sem diferenças sociais.

Na verdade o que aconteceu em Canudos, na versão contada pelo povo nordestino, e apesar de sempre haver um pouco de aumento, quando as histórias são contadas em meio familiar, o povo aumenta, mas, não inventa, e na revolta de Canudos, foram massacrados impiedosamente 20,000 nordestinos, que já eram mal vistos pela sociedade, e só queriam e buscavam a liberdade de viverem em paz.

Antônio Conselheiro, além de abolicionista era um grande orador, apesar de ser taxado pela história como mentecapto e lunático.

Conselheiro, pregava a liberdade religiosa, que abalava as leis católicas, imperantes na época, pregava a liberdade dos escravos e a liberdade política, dizendo não , ao pagamento de impostos, cobrados da mesma forma aos ricos e aos pobres , sem entender que quem ganha menos deveria pagar proporcional ao que ganha, e não ao lugar onde vive,por exemplo se a patroa e a empregada doméstica vivem no mesmo bairro, as duas pagam IPTU no mesmo valor, e por essas e outras, muitas pessoas, que possuem imóveis em locais mais nobres, são obrigados a vender seus imóveis e passar a viver em lugares mais pobres, porque o imposto que cobram do pobre é o mesmo do rico, e os dois não podem habitar em um mesmo lugar ( economicamente falando) este tipo de visão era o que não aceitava Conselheiro, criando uma espécie de socialismo de baixa renda, em uma aldeia onde quem quisesse viver com igualdade poderia passar a habitar.

Em uma época em que Brasil tinha coronéis nas fazendas, que além de obrigarem a servidão, mantinham em suas terras homens fortemente armados que faziam as leis locais com força e brutalidade como os barões medievais.

Ao que conta o povo nordestino Conselheiro era um homem intuitivo, obstinado e valente, mas para os senhores da burguesia da época ele não passava de um baderneiro, que queria a todo custo fundar seu próprio país, dentro do sertão baiano.

Conselheiro nasceu em Quixeramobim em 1828. Ficou órfão de mãe aos seis anos de idade.

Seu nome era Antônio Vicente Mendes Maciel, e depois da morte da mãe com o segundo casamento do pai, Antônio passou a ser criado pela madrasta, que o maltratava, e o mais tarde , passou a persegui-lo por sua insanidade.

Muito cedo sua inteligência o destacava das crianças e o deixava mais próximo dos adultos, Conselheiro aprendeu a Aritmética, Francês, latim e Geografia com o mestre Manoel Antônio que se surpreendia com as idéias do jovem aprendiz.

Antônio vivia em meio a disputas de terras familiares, e nesse meio , viu o próprio avô ser assassinado, levando consigo a idéia de família desestruturado desde muito cedo.

Em 1855 o pai de Conselheiro faleceu, fazendo com que crescesse em Antônio o desejo de não mais viver naquele lugar, pagou as dívidas que o falecido pai deixou , e passou a manter as três irmãs e a madrasta.

Antônio casou-se com Brasilina Laurentina e teve dois filhos, mas ao ser traído por Brasilina, abandonou seus descendentes e desses em uma época em que poucos se preocupavam em registrar descendência ainda mais de um revolucionário, nunca mais se teve notícias.

Depois Antônio casou-se com uma escultora e começou a montar um comércio e também trabalhava como professor e no fórum, defendia os que menos tinham, e assim foi vivendo Conselheiro, homem inteligente e um guerreiro dos que fome sentiam.

Foi nessa época que começou a povoar na mente de João a idéia que poderia criar um oásis em meio a um deserto, e abandonou Joana e sua terra, em busca do lugar ideal para criar este lugar, e assim partiu Conselheiro para Itabaiana, e na seqüência para a terra baiana.

Antônio Conselheiro, pregava a vida pós morte e igualdade que Deus buscava entre o povo,passando por cima do poder do Clero, que sempre dava mais ouvidos aos apelos dos homens ricos que faziam fartas doações a igreja e deixando de lado os pedidas do povo menos favorecido.

Conseguiu além de pessoas humildes, homens sérios da sociedade que apoiavam sua luta.

Começou Antônio então a pregar nas praças, como um beato insano era visto e começou a incomodar até mesmo as missas que corriam no mesmo horário em que Antônio pregava nas praças.Até este momento Antônio era conhecido como Antônio do povo, e ainda não tinha adquirido o apelido de conselheiro.

Então começou a incomodar o poder, Antônio pregava para grandes massas, e suas idéias acabavam sendo difundidas, e repercutindo uma revolta interna do povo contra a tirania dos coronéis,e esses, começaram a criar a história que Antônio não era um homem de bem e sim um foragido da justiça que havia assassinado a própria mãe.

Começou então a correr a história que além de louco, Antônio era agressivo e matricida, e a história que corria era que a mãe de Antônio não se dava com a Nora, e disse a Antônio que toda vez que o mesmo viajava ela o traía, pedindo a Antônio para fingir que iria viajar, e esperar próxima a sua casa que na mesma noite ele veria o outro homem entrar, e se hoje em dia, os nordestinos lavam com sangue sua honra, imagine naquele tempo, e eis que pela história contada no povoado, ele fez o que a mãe pediu, se escondeu em uma moita e quando viu o homem entrar, largou tiro em cima do mesmo, mas eis que era sua mãe, que vestiu-se de homem para aumentar a veracidade da mentira criada.

Mas na verdade, nada disso era verdade, pois Antônio havia ficado órfão aos seis anos de idade, começou então a peregrinação de Antônio para provar sua inocência, e o boato, recheado de mentiras e maldades ia crescendo em meio ao povoado, e Antônio foi preso e conduzido até Salvador e no caminho foi espancado, e humilhado e ali Antônio sofre todo tipo de tormento neste via- crucis sangrento.

Depois foi enviado ao Ceará, para ser investigado, para descobrirem sua origem , e saber se era verdade a história da orfandade.

Ali em Quixeramobim , nas terras de sua gente,com tudo esclarecido, maltratado e maltrapilho, só lhe restou o manto surrado e a imagem de Jesus crucificado, em quem aumentara ainda mais sua fé depois de tantas acusações sem fundamento, foi ali Antônio liberto e considerado inocente.

Voltou então a Bahia, a pé, e conquistando seguidores pelo caminho, seus ouvintes eram os pobres rejeitados, humildes, famintos, renegados, desertores,e toda a classe sofrida em geral, ouviam seus ensinamentos como um bálsamo a alma, e também pediam auxílio para pequenas causas , e assim Antônio que era quase um juiz para sua gente, aconselhava-os e assim surgiu o apelido de um dos heróis brasileiros, mais injustamente interpretado.

Sua pregação era simples, queria que todos tivessem direitos plenos, nem o rico tivesse demais, nem o pobre tivesse de menos, simplesmente buscava a igualdade social.

Queria terra para os camponeses, abrigo aos desamparados, escola para todos, escravos libertos, liberdade de plantio e criação de animais.

E começou também a entender que a Biblia havia sido moldada pela igreja católica, e que nenhum Deus Soberano e onipotente seria capaz de criar um mundo para todos, com injustiças e desigualdade, e neste momento Conselheiro colocou o dedo na ferida do Clero, que passou a incentivar os coronéis que já não tinham simpatia por “Conselheiro”, e assim Dom Luiz, arcebispo da Bahia, fez circular uma proibição de qualquer pessoa do povoado parar para ouvir as palavras de Conselheiro, tornando-se então conselheiro um pesadelo para aquela gente.

Então começaram a surgir várias acusações sobre seu fanatismo religioso e sua vontade de acabar com o Brasil republicano, e criar a monarquia onde ele seria o todo poderoso, visão esta afirmada até mesmo por Euclides da Cunha.

E assim a fama de conselheiro corria aos quatro ventos, se antes ele incomodava um povoado, agora já incomodava o estado e em breve iria incomodar o país.

Assim que a república foi instalada, começaram a correr no meio do povo alguns editais sobre a nova cobrança de impostos e foi assim que na cidade de Bom Conselho onde vivia na época o Antônio Conselheiro, chegou o primeiro edital, enviado pelo juiz Dr.Arlindo Leone, que cobrava somente dos mais pobres deixando sem contas com o estado os ricos, assim conselheiro em praça pública queimou os editais, causando a euforia no povo e despertando o ódio do Juiz que sentiu-se ofendido e ultrajado.

Assim expulso do povoado, Conselheiro rumou para o norte, para buscar um novo lugar.

Encontrou Canudos abandonada, procurou por água, encontrou e fundou ali a cidade de Belo Monte.

O nome “Canudos “ derivava de um povo que havia habitado aquela região e fumava um curioso cachimbo de mais de um metro de extensão, feito com uma planta chamada Pito, de canudos de Pito, ficou o nome “ canudos”

Da cidade abandonada, a única construção de alvenaria era a igreja de Santo Antônio, que como templo fora respeitado até pelo desgaste da natureza, e ali, Conselheiro fez morada .Mas logo s rumores do novo habitat do conselheiro correram léguas e a recentemente desabitada Canudos, que era em meio ao seco sertão, tornou-se habitada, e dezenas de casas de pau á pique eram construídas diariamente,Canudos tornou-se uma espécie de Terra prometida, onde se juntavam viajantes, andarilhos,perseguidos, humilhados, foragidos da justiça,vítimas de patrões malvados, escravos fugitivos,enfim todos que precisavam ser acolhidos , ali no meio do deserto baiano eram por Conselheiro acolhidos,assim conselheiro criava a fama de Salvador, e com a pressa dos necessitados crescia a fama de que não havia feito falsas promessas e que se erguia ali, não para meia dúzia, mas para uma multidão, uma cidade onde o que importava era a igualdade.

E assim vivendo como no período Feudal, com uma agricultura de subsistência e a economia baseada na troca, a cada dia Canudos recebia novos cidadãos e fortalecia sua forma de vida, diferente de todo o restante do país.

O povo da capital e das cidades circunvizinhas começavam a vender terras e abandonar casas, todos queriam paz e igualdade em uma cidade que surgia para fazer história.

Canudos era diferente de todas as outras cidades, apesar de não haver uma igreja ou uma religião qualquer, não tinha prostíbulos, nem bares, nem clube de dança, nem polícia pra prender nem justiça pra soltar, era chamada cidade da lei de um homem só e o governo republicano, com o apoio do Juiz Leone, e de Dom Luiz, começava a ver o quanto canudo incomodava.

O socialismo existente ali,era maior que na Rússia e na Albânia, onde este tipo de governo surgiu, não havia disputa de terras, ninguém era fazendeiro, nem tão pouco patrão,nõ se falava de mortes, não haviam pistoleiros e quando alguma intriga acontecia, logo os envolvidos eram levados a ouvir os conselhos do Conselheiro e ali morria a discussão , pois para o povo sábia e respeitada era sua opinião.Assim a paz era permanente, pois todos ouviam e o achavam prudente.

O único padre que olhava Antônio conselheiro com simpatia era Padre Cícero que não via no homem justo o mal que o governo via.

EM 1895, visitaram Canudos dois freis franciscanos e os capuchinos pediram que os habitantes de Belo Monte , abandonassem aquela ilusão, de achar que era possível uma cidade viver em harmonia , sem dinheiro e sem religião, levaram dali a imagem de Santo Antônio e ao voltarem para a capital fizeram um relatório informando ao governo que acabassem com Canudos, pois ali, não existia o poder republicano que havia somente monarquia que Conselheiro pregava, e Antônio Conselheiro, nem criticas ao governo fazia, não pregava o socialismo clássico, pois apesar de não ter religião, acreditava em Deus e em Jesus Cristo e vivia uma utopia, sem brigas ou tirania.

Como o povo amedrontou-se de usar a igreja católica, os habitantes decidiram que fariam outro templo para a pregação de Conselheiro, e encomendaram madeiras ao Sr.João Pereira, peça chave no início da revolta que vivia na cidade de Juazeiro.

Logo juntaram o dinheiro que cada um chegou trazendo a cidade e não mais usou, e pagaram adiantada a encomenda da madeira, que nunca, em sua cidade chegou.

Sr João mandou uma carta pedindo desculpas ao conselheiro, pois não conseguiu cumprir a entrega da madeira, por falta de mão de obra, e o povo de Canudos logo se prontificou, a buscar o material, e Antônio escreveu uma carta , informando que teria quantas pessoas precisassem para carregar o material, desde que o Sr.João não se sentisse ofendido com esta decisão, e ainda disse que até ele mesmo, poderia estar presente na escolha da madeira.

E eis que este incidente do destino , surgiu na vida de Conselheiro, pois o juiz que tivera aquele edital queimado, e ainda estava engasgado de rancor, espalhou na cidade a notícia que Conselheiro iria invadir Juazeiro, saquear o comércio e levar tudo o que podiam.

E logo, chegou na capital um telegrama, pedindo ajuda as autoridades, para que a cidade não fosse invadida pelos desordeiros,e o dono da maedeira, que já estava paga, e não foi entregue, ao invés de defender o povo sofrido, decidiu se bandear para o lado rico e em nenhum momento montou sua defesa.

O governador da Bahia, pediu que o tenente Pires Ferreira, comandasse uma tropa de cem homens ricamente armados para dar fim aos ditos “Fanáticos” que pertubavam a paz.

Mas como vento que venta lá venta cá, as notícias também chegaram em Canudos e Antônio Conselheiro e seus homens, não foram buscar a madeira comprada, mas mesmo assim, o tenente , querendo se mostrar valente, informou ao Juiz que sem combater os canudos, para a capital ele não voltava, então , eis que começa ali , uma das batalhas mais sangrentas da história brasileira.

A guerra não tinha base jurídica, não havia processados, não havia invasão, simplesmente a vontade do poder , contra a vontade do povo que ali vivia , sem incomodar a ninguém, simplesmente criando uma sociedade alternativa.

A primeira tropa saiu de Juazeiro em 12 de dezembro de 1876, e caminharam por 8 dias até chegar em Canudos.A tropa ao invés de ser recebida por homens armados, foi recebida por uma procissão, liderada por Antônio Conselheiro, cantavam louvores, e oravam para que a paz fosse reinstalada, homens, mulheres, idosos e crianças , todos em favor de seu líder, clamando aos soldados que apenas os deixasse viver em paz, mas , foram recebidos com tiros, e quem se defende, uma hora ataca, eram os fuzis contra as facas, as baionetas, contra pedaços de pau, o rifle contra o machado, a garrucha contra a pedra.A noite a triste contagem, homens sem braço, sem dedos e sem pernas, alguns tinham que ser sacrificados, e o sertão chorava a perda de tantas vidas, muitas delas, a vida inteira sofrida e ceifada quando encontraram a paz.

O povo de canudos era comandada por Joaquim Coiam,e Pajeú, que se mostrou um estrategista nato e mapeou toda a região , fazendo valer de sua experiência na áea, e em cinco horas de batalha, a tropa do exército baiano havia sido derrotada, mas enquanto alguns soldados lutavam, outros roubavam, estupravam e queimavam as casas do vilarejo, transformando o canto de paz, em um ódio lascinante, que invadia o peito do sertanejo que dizia, se a vida foi injusta conosco, que seja mais injusta agora, pois daqui só saímos sem vida.

Quando voltaram derrotados, as notícias do vilarejo revolto, que venceu um exército logo correram as manchetes e o General Solón que sentiu o exército humilhado, achou que esta derrota comprometeria a imagem do exército nacional . O governador da Bahia, que não era homem de guerra, deixou clara sua vontade que este episódio isolado, ali se acabaria, deixaria que o povo vivesse, sem leis , até que percebessem que sem elas não há ordem . Mas o general não acoitou a idéia, e afirmou que o governo baiano era anti-republicano e certamente eles seriam chamados de monarquistas , Luiz Viana fez tudo para evitar o conflito, mas seu o exército não aceitava a derrota por um povo desarmado.

Para ele Canudos deveria ser invadida, destruída e incendiada.

A segunda expedição foi comandada por Antônio de Brito, e desta vez foram 400 homens em uma tropa e mais duzentos em outra, e fizeram o reforço para não ter chance dos inimigos ,levaram desta vez, armamento pesado, além de metralhadoras importadas ( Nordenfeldt) levaram canhões, espingardas e dinamite.A tropa se assustou com o brio dos conselheiristas, que gritavam aos seus homens que não recuasse, e fortes combatiam homem a homem, sem fraquejar, e a na noite da primeira batalha, cansaço a fome e o medo tomaram conta da tropa , a quantidade de mortos assustava aos iniciantes, e o general teve que reconhecer o fracasso de sua investida e voltar derrotado.E a notícia do fracasso da segunda expedição, correu ainda mais rápida chegando ao presidente da república tamanha decepção, pelo exército brasileiro, ser humilhado pelos sertanejos.Assim o vice-presidente que era comandante geral do exército, impôs a ordem a carnificina, morte a todos os conselheiristas.

Foi formada uma terceira expedição, que comandada pelo Coronel Moreira César, um dos nomes mais temidos do exército brasileiro,invadiu o sertão baiano com mais de mil homens, e uma tropa montada, para combater os sertanejos, que não se rendiam, quando a tropa via, um oficial de patente cair, a metade corria , e a outra metade esmolecia, e nessa hora que o exército do conselheiro mostarava sua força e sua estratégia, atacavam a todos, sem escolher a patente, mas volta e meia, acertavam um dos grandes, e esta fama, era a que corria, que nenhum grande general com eles podia, e assim foi com Moreira César, começou o ataque, sem dó nem piedade, mandou queimar as cinco mil casas do vilarejo com sua gente dentro, idosos, crianças e mulheres, veriam seu sonho de liberdade acabar nas mãos do exército, mas a coisa não funcionava assim, Moreira César, não cavalgou 300 metros, levou um tiro de espingardada e tombou sem vida, em meio ao sertão nordestino.

Com a notícia da morte do general sanguinário, não tardou para que a tropa por ele comandada se retirassem, deixando para trás o armamento, fardas e munição, nesta mesma batalha, morreram outros homens de peso, no exército brasileiro, o Capitão Salomão,que morreu retakhado por foice, o capitão Vilarim que morreu com vários tiros de espingarda,e o coronel Tamarindo, os sub-oficiais logo desistiram da investida e se retiraram, deixando pra trás até mesmo os corpos dos oficiais, que foram devorados pelos urubus e quanto mais a guerra avançava, mais absurda ela se tornava, os conselheiristas no vilarejo de Belo monte, acabavam recebendo de todas a partes aliados que nem ali moravam, mas que simplesmente, simpatizavam a causa contra o governo, e ali tornavam-se companheiros, usando armas de fogo, fardas e canhões, até uma bandeira do Brasil, coisa que muito sertanejo até os dias de hoje nunca viu, na terra massacrada pelo ódio e lavada de sangue foi abandonada e assim voltou derrotada a terceira expedição, e a revolta ganhava força e mais ódio de toda a nação.

Assim formou-se uma verdadeira guerra civil , foram convocados dez mil homens, para o combate, era nada mais , nada menos que a metade de toda a guarda nacional, precisavam ser radicais, pois outros vilarejos já começavam a querer imitar a sociedade alternativa que ali começava a ser criada.

O que antes era uma briga municipal, acabou tornando-se uma batalha nacional, e agora para Canudos não tinha outra solução, precisavam levar até o final a briga que acabou tornando-se uma batalha moral.

O Brasil, reforçou a quarta expedição, colocaram um telégrafo, para que pudessem informar rapidamente o que estava acontecendo, e eis que veio o reforço, mais três mil e quinhentos homens , formando um total de 300 para cada homem do vilarejo e foi assim que Canudos foi vencida, em uma batalha desnecessária e sanguinária.

Cadáveres nas ruínas

Antônio Conselheiro já previa este fim, e em uma noite após o culto, teve um infarto agudo e morreu de causas naturais.

Alguns dias depois o beato Antônio, levantando uma bandeira de paz, procurou o general, para pedir que a guerra ali terminasse, e qual foi seu espanto ao saber que o conselheiro, já tinha dez dias de morto, e disse que só teriam paz, se todos do vilarejo fossem presos, voltando com a notícia, o povo disse que não se rendia, e assim a cidade foi devastada, sem a liderança de conselheiro e já tendo perdido seus maiores guerrilheiros, Canudos foi invadida e destruída, irrigando a terra de Belos Montes com o sangue do seu povo.

A versão contada nos livros brasileiros, mostra Conselheiro como um louco baderneiro, mas estando perto do povo Nordestino, percebemos que não é bem assim que a reza a lenda, e conselheiro como Tiradentes e Zumbi dos Palmares, foi um grande homem que clamava por justiça em uma época em que as leis eram olho por olho e dente por dente, e que foi injustamente massacrado pela história brasileira, e o pobre do Nordeste continua sofrendo com a desigualdade social imposta que mesmo nos tempos de hoje não foi superada, com cenários paradisíacos e lindos hotéis de fachada, nos cartões postais, escondem a realidade do povo, de ruas esburacadas, crianças pedintes, prostituição infantil, renda mal distribuídas, políticos como aves de rapina e a fome... ah, a maldita fome que assola, distrói e corrói não só a dignidade humana como a magnitude do criador, que é ofendido diariamente, quando nos sinais fechamos os vidros para a realidade do ser humano e para a dificuldade de cumprir o maior de todos os mandamentos...

“Ama ao teu próximo como a ti mesmo”

Izabelle Valladares Mattos
Enviado por Izabelle Valladares Mattos em 13/03/2011
Código do texto: T2845990
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