Terrorismo com política

Quinta-feira, 7 de julho de 2005. Foi marcada mais uma data de terror. Primeiro Nova York com o 11 de Setembro em 2001; depois Madrid com o 11 de Março em 2004; e agora Londres, tomando sua parte no calendário terrorista.

Pode parecer pouco razoável, mas o maior estrago que Bin Laden provocou não foi o comando do ataque ao World Trade Center, e sim o exemplo dado a inúmeros seguidores ideológicos espalhados pelo mundo; porque com a necessidade de esconder-se é pouco provável que Bin Laden ainda seja o cabeça desses atentados. Embora o terrorismo não seja uma novidade para a História, é mais plausível acreditar que Bin Laden e a Al-Qaeda fizeram escola, encorajando idealistas revoltados que promovem focos de destruição em escala mundial, demonstrando que há muito mais pessoas contra o sistema do que somos capazes de supor.

A cada novo atentado os antigos terroristas, veteranos locais pré-Bin Laden, manifestam-se alegando inocência. Foi assim com o ETA, em Madrid e agora com o IRA, em Londres. E já podemos pensar numa declaração de não-culpados da Yacuza e da máfia italiana. O G8 que se cuide.

Sobre os terroristas criou-se o hábito de chamá-los de indivíduos crudelíssimos, fanáticos religiosos capazes de acabar com a própria vida para prejudicar pessoas inocentes. Os terroristas são cruéis mesmo, muitos são fanáticos religiosos, e realmente atacam pessoas inocentes. Além de tudo isso, os terroristas também são perigosos porque têm como principal trunfo a imprevisibilidade. Mas não são apenas isso. A caracterização da imagem de pessoas desequilibradas e violentas, formando um ethos de perturbados e sem razoabilidade é muito providencial, porém não pode servir de desculpa para justificar os acontecimentos.

Terrorismo é uma ideologia sangrenta, cruel e injusta que, embora não possa ser apoiada, não é infundada. Como todo ato de agressão, um ataque terrorista é o extremo de uma situação desagradável que já fora sinalizada. Se é injusto vitimar civis em países desenvolvidos, também é igualmente injusto vitimar povos de países subdesenvolvidos que financiaram o desenvolvimento dos economicamente gigantes.

O alvo em Nova York foram as torres símbolo de poder econômico; o atentado em Madrid ocorreu às vésperas da eleição na Espanha; e o acidente em Londres aconteceu durante o encontro do G8 e logo depois da notícia que a cidade fora escolhida como sede das Olimpíadas de 2012. Economia, política e o encontro dos principais responsáveis pelo desenvolvimento humano no mundo são o alvo dos terroristas, que sempre apresentam sua reposta para uma política que trata dos desenvolvimentos econômico e social de forma assimétrica.

Enquanto isso, os países do Hemisfério Sul estão mais tranqüilos por não serem alvo do terror. Aqui no Terceiro Mundo acreditamos que os países pobres não despertam interesse da lógica terrorista. E temos que confiar nisso – se é que é possível confiar em terrorista – porque há outros problemas que prendem nossa atenção. Contudo, como não é possível nos isolar do mundo e de suas dores, posso tentar relacionar os cenários.

Enquanto no Hemisfério Norte terroristas e algozes do Primeiro Mundo destroem uns aos outros, aqui no Brasil esquerda e direita se digladiam enlameando-se uns aos outros na disputa pelo posto de qual lado é mais corrupto; o lado vencedor da contenda provavelmente será o perdedor das eleições de 2006. No Primeiro Mundo o alvo dos ataques é o sistema e seus representantes, mas quem sofre são os civis; aqui, idem. De modo apreensivo, os países desenvolvidos ficam com angustiante expectativa de um próximo ataque terrorista e nós, o país subdesenvolvido, de um próximo escândalo político. Lá, o grande alívio dos civis será quando os representantes dos dois lados conseguirem se destruir mutuamente; aqui, idem.

Carmem Lúcia
Enviado por Carmem Lúcia em 11/07/2005
Reeditado em 16/07/2005
Código do texto: T32905