Divagando sobre kV e mAs com um aluno

Problema apresentado: Radiografia de tórax, pouco densa com 12mAs e 70 kV. O que fazer?

Então, vamos lá. Lembra-se do que é contraste? Lembra-se do que é densidade óptica?

Se não se lembra, pegue o caderno e relembre agora!

Qual o fator primário para controle de densidade (enegrecimento)? mAs. Ou seja, a quantidade de radiação que chega até o paciente em um determinado tempo. mA é o foco, determina a quantidade de elétrons que serão produzidos no catodo. Logo, determinará a quantidade de fótons de raios-x que estarão disponíveis para um exame.

No entanto, essa quantidade de radiação NEM SEMPRE CHEGA AO PACIENTE. O que determina o que vai chegar no paciente é o tempo de exposição.

Pare e pense. Quanta água tem na caixa d´agua de sua casa? 500L? 1000L? Mas, quando você abre a torneira, sai TODO o conteúdo de uma vez? Mas, se você desejar, pode esvaziar a caixa, não pode? O que precisa fazer?

Exato. Deixar a bica escorrendo o máximo de tempo possível até que não haja mais água.

Digamos que o foco seja sua caixa d´agua. A quantidade de TODA água que você tem disponível. O mA é a quantidade de radiação que você tem disponível. Mas, nem sempre usará TODA a radiação disponível. Apenas o necessário para uma densidade adequada para diagnóstico. Cada parte do corpo é composto de tecido diferente.

Pense um pouco no tecido ósseo. É composto de células, e moléculas, e átomos também, assim como o pulmão. Mas, ainda assim, parecem muito diferentes, concorda? Essa é a grande charada dos Raios-x. Eles atravessam tudo? Quase tudo.

O que os Raios-x não conseguem atravessar?

Se pensou chumbo, acertou, mas já parou para se preocupar o porquê? Por que os números de chumbo, no lado esquerdo das radiografia aparece sempre "branco" na película? Enquanto os espaços vazios são densos e negros? Isso mesmo. O ar aparece "preto" na radiografia por um motivo. Suas moléculas não são densas o suficiente para "segurar" os Raios-x que por ali passam.

O chumbo é um metal pesado, estável, denso, maleável, de cor azulada que tem elétrons fortemente ligados, com alto número atômico e grande resistência aos Raios-x.

Pense em algo denso, como o chumbo que esteja em nosso corpo.

Acertou se pensou em ossos. São densos também. Suas moléculas estão fortemente ligadas. Os elétrons que formam essas moléculas são unidos e retém os fótons de Raios-x com certa facilidade. Esse é o motivo de os ossos aparecerem "brancos" na radiografia. São densos e absorvem radiação. Pouca radiação os atravessa, logo, pouca radiação chega ao filme na altura em que há ossos.

Agora, vamos juntar as informações acima e pensar na qualidade da imagem radiográfica. Já sabemos que mAs é a quantidade de radiação que chega até o paciente por causa do tempo de exposição. Como se fosse uma torneira aberta. Sabemos que o mAs é responsável por escurecer os filmes e que são absorvidos por ossos e chumbo e etc.

Como formar imagem com ossos em um filme radiográfico? Exato. Usando o mAs! Tecido ósseo é facilmente visualizado dando uma carga considerável de mAs. Com bastante densidade e pouca penetração, os ossos se destacam na imagem, brilhando para os olhos do admirado espectador.

Você deve estar se perguntando: "Tudo isso é lindo, mas como isso responde minhas perguntas?"

Fique calmo. A resposta está bem clara. E ficará ainda mais. Pense comigo. É um dos meus melhores alunos. O que queremos ver em um exame de tórax?

Ossos? Sim, tudo bem, vemos ossos, mas não são o principal, senão o médico solicitaria o osso em questão. Arcos costais, coluna, clavículas. Esses exames são específicos para vermos ossos. Quando um médico pede um exame de tórax o que principalmente ele precisa ver?

Pensou certo se respondeu pulmões. Voltemos à histologia. De que são feitos os pulmões? Parênquima pulmonar. Liso, resistente e elástico. Ao realizar um exame de tórax, já deve ter observado no seu estágio, o técnico dá o seguinte comando: "Enche o peito de ar e prende." Sabe por quê? Para que os pulmões fiquem cheios de ar, inflando o parênquima, dilatando a caixa torácica, suspendendo as costelas flutuantes, alargando o mediastino e abaixando o diafragma.

Tudo isso leva a um objetivo, um caminho. "Ver" os pulmões completos na radiografia. Qual é a cor dos ossos em uma imagem? Muito bem, vejo que está aprendendo. É "branca". Qual a cor do ar em uma radiografia? O oposto, minha cara. É "preto".

2/3 do pulmão fica preenchido com ar e é por isso que aparece "preto" na radiografia. As moléculas não têm força suficiente para "segurar" a radiação.

Agora, tudo fica mais fácil. Se sabemos que mAs serve para vermos ossos, tecido denso. O que precisamos para vermos ar? Com certeza não é mAs. No entanto ele não pode ser descartado, pois ainda será necessária uma dose de radiação X para gerar imagem. O que há de errado com a técnica acima?

Siga o que ele mesmo já ofereceu como dica. A imagem ficou pouco densa. Como pode ter ficado pouco densa com 12mAs? Quando fazemos exame de tórax, temos de pensar em como a radiação interage com os tecidos relacionados. A trama pulmonar precisa ser vista. Ela é composta de parênquima, brônquios principais, bronquíolos, alvéolos. Eles têm densidades muito parecidas. Diferente de ar e osso. Para ver osso, é só colocar mAs que termos contraste. Para vermos tecidos parecidos, onde não há osso, fazemos exatamente o contrário. Trabalhamos com o kV.

O kV, o quilovolt, a penetração ou diferença de potencial (todos são a mesma coisa) determina o contraste em uma imagem radiográfica. Isso por que, independente de quanta radiação você tem, ele caracteriza a força com que ela é "jogada"

Lembra-se do exemplo da torneira de da caixa d´agua? Imagine que você tem a mesma caixa e deixa a torneira aberta o mesmo tempo, mas precisa molhar uma área maior, economizando água. O que fará? Alguns mais expertos poderão simplesmente colocar o dedo na saída da torneira, aumentando a força do esguicho.

Pensou nisso? Se pensou, então é experto. Experto mesmo, com"x". Depois você procura no dicionário.

Quando, em uma sala de raios-x, nós aumentamos o kV, é como se aumentássemos a força dos fótons. Eles se tornam duros, mais penetrantes e acabam por escurecer a imagem também. No entanto, eles não têm nada a ver com a quantidade de radiação usada.

Quanto mais você aumenta, mais penetrante o feixe se torna e daí, mais tons acinzentados irão aparecer na imagem. É o que podemos chamar de escala longa, ou baixo contraste.

Bom, mas isso, fica pra outra aula.

Prima
Enviado por Prima em 17/04/2012
Código do texto: T3617114
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