Rio +20: a mentira insustentável

Wilson Correia

Em uma provável história universal da mentira, a ciência e a filosofia, só para ficar em dois campos significativos do conhecimento humano, talvez oferecessem elementos para alentados capítulos. Pior: com o agravante de algumas delas terem entrado para a história humana sob a capa da verdade, da certeza, da evidência e da exatidão.

Um exemplo disso é o geocentrismo, uma mentira iniciada por Claudio Ptolomeu (+/-90-160 d.C.), o qual, em seu livro ‘Almagisto’, previu a Terra no centro do universo com o sol girando ao seu redor. Essa mentira virou verdade dogmática, indiscutível, com o apoio de Aristóteles, seus seguidores e grande parte pensante da humanidade. Foi preciso esperar o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) desconfiar desse brutal engodo para que o heliocentrismo prosperasse, afirmando que, em verdade, é a Terra que gira ao redor do sol. Porém, a essa altura, por conta desse engano, Giordano Bruno já havia perdido a vida e Galileu Galilei, a liberdade, por exemplos.

Hoje, a Rio +20 parece seguir o exemplo ptolomaico e aristotélico: essa conferência não abre mão de acreditar em ideias hipotéticas como, por exemplo, na falácia de que a nossa Amazônia é o pulmão do mundo – algo insustentável, veja:

“A afirmação de que a Amazônia é o pulmão do mundo é bastante difundida não só pelas escolas como pela mídia. A Amazônia pode até ser considerada o pulmão do mundo porque inunda o planeta de CO2, afinal qual é a função de um pulmão se não inspirar O2 e expirar CO2?

O que acontece é que a quantidade de oxigênio que a Amazônia libera na atmosfera é desprezível e não é tão grande quanto as pessoas pensam. Para você ter idéia, as algas dos oceanos, unicelulares e pluricelulares, liberam até 5 vezes mais oxigênio na atmosfera que toda a Amazônia.

Todas as plantas do planeta liberam por ano 16,5 Bilhões de toneladas de oxigênio e através da fotossíntese absorvem 2,6 Bilhões de toneladas de CO2. Do total desse oxigênio liberado por todas as plantas do planeta, a contribuição da Amazônia chega a 15%, ou seja, 2,5 Bilhões de toneladas de oxigênio e absorve também 15% desse total de CO2 da atmosfera, cerca de 0,4 Bilhão de toneladas de CO2.

Em contrapartida, as algas dos oceanos do planeta liberam sozinhas 13,5 Bilhões de toneladas de O2 anualmente e absorvem a cada ano 2,2 Bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera. Portanto, o título de pulmão do mundo deveria ser dado para as algas dos oceanos” (Blog Insônia).

Esse tipo de coisa é o que alimenta discursos como os da “economia verde”, “sustentabilidade” e outras falácias do capitalismo que, como na Antiguidade, vale-se de hipóteses e suspeições para forjar “verdades”, desde que seus interesses capitais sejam devida e ortodoxamente preservados.

De um lado, tudo isso alimenta o medo como recurso útil ao controle das pessoas e facilitador de governanças; de outro, cria outro mercado para o capital, pois, segundo esse segundo, desde que se pague, tudo e mais um pouco podem ser objetos de consumo.

Cá, com meus botões, fico a imaginar até quando mentiras insustentáveis dessa natureza continuarão sustentadas e fazendo história graças a indivíduos e instituições que não se pautam pela ética da verdade no âmbito da ciência e do agir humano.