A MÍDIA E SUAS VERDADES
(Como um objeto é visto de várias maneiras pela mídia)

 
É visto, principalmente, pela ótica da verdade e de como ela se apresenta. E me instiga saber se é, realmente, verdade aquilo que a mídia está reproduzindo. Será que ela é cópia fiel da Teoria do Espelho que acredita que um bom jornalista consegue transmitir a realidade da forma como ela se apresenta, como se fosse uma imagem reproduzida num espelho? Ou seja, para um bom profissional, as suas paixões – sejam elas políticas, econômicas ou organizacionais – e toda a sua formação cultural – não interferem na comunicação passada para o receptor, seja qual for o meio de comunicação a que ele pertença.

E isso é, obrigatoriamente, instigante. Como deixar de lado a subjetividade de um olhar e apenas reproduzir algo que, se visto por cem outros olhares, será cem vezes relatado de maneiras diferentes?

Esse questionamento acompanha outro de tamanha complexidade: O que é verdade? O texto “Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas” de Rosa Maria Bueno Ficher nos mostra que as imagens, por exemplo, na televisão levam para vários campos, pois são recebidas de formas diferentes, tanto por aqueles que a produziram como por quem as recebeu “... não extrairemos das imagens representações acabadas, mas antes a possibilidade de significações...”.

No artigo A Teoria do Espelho, Bruno Barros Barreira, faz uma lúcida comparação sobre o que significa verdade para diferentes culturas do nosso tempo:

Por exemplo, será que a verdade para um muçulmano é a mesma para um cristão? Será que a verdade para um capitalista é a mesma para um socialista? Ou melhor, será que a forma de ver o mundo para um trabalhador é a mesma forma de ver o mundo para um empresário? A resposta é simples: não. Onde está a verdade, então?

Esses artigos me estimulam ainda mais, a saber, onde está a verdade e, em ela sendo encontrada, como ela se apresenta. É verdade, por exemplo, que uma matéria publicada em um jornal, de cunho político, que traga à tona um desmando de um parlamentar ou a eventual promoção deste não seja uma verdade plantada? Em outras palavras, será que aquilo que se apresenta como um fato verídico, dito pela própria fonte não é, na verdade, um meio de produzir especulações, suscitar debates, dividir opiniões e/ou se aproveitar de um momento para conduzir um processo de distanciamento da própria verdade?

Ora, se algo se apresenta de várias formas, com vários significados, sob vários interesses midiáticos – e, além do mais, a nossa subjetividade ainda dá outras interpretações –, o que é, então, a notícia veiculada nos meios de comunicação senão um reflexo de tudo aquilo que sentimos, vimos e desejamos, se a mídia tem o poder (mesmo sendo, em alguns momentos, manipulada pelos interesses da classe dominante) de, conscientemente, produzir no nosso inconsciente, uma vontade que, automaticamente, incorporamos ao nosso dia a dia e que, através dela, passamos a não raciocinar sobre o que sejam verdades e o que devemos descartar.

A televisão (e os meios de comunicação em geral) produz, dentro desse universo midiático, uma espécie de transformação cultural, colocando, direcionando, manipulando, produzindo valores e fazendo com que a sociedade reaja, com naturalidade, às imposições que ela deseja. Os interesses financeiros, pautados nos produtos que ela coloca à venda em seus canais, tomam o lugar de condutores e orientadores da vida do telespectador, levando-o a receber, em descargas de imagens, aquilo que está à venda e que ela coloca como sendo essencial para a vida de cada um de nós.

De modo que, as várias concepções de verdades, as várias combinações de como elas são ditas e, principalmente, vistas, traduzem as reflexões feitas nesta interação. Será que o BBB (Big Brother Brasil) é essencial e importante para o cidadão ou é uma forma de ir mudando conceitos e colocando, de forma inconsciente, as transformações que ela, a televisão, entende como sendo boas para a sociedade, particularmente, para ela? Será que essas tentativas de mostrar o beijo gay (entre homens) na televisão não é uma forma de querer mudar, na nossa sociedade contemporânea, o conceito que temos a respeito de família? – não é fato que a Rede Globo, por exemplo, já veiculou, em seus documentários, várias tentativas de mostrar uma nova sociedade, onde já não é mais preciso, para se constituir uma família, ter pai, mãe e filho?

Afinal de contas, o que é verdade? Ela existe de verdade? Ou a verdade é, também, tão subjetiva (e compromissada) quanto às verdades produzidas pelos interesses por trás de todas elas?

Fala-se muito sobre uma verdade que não é absoluta, pois ela não existe. Porém, para que existam verdades relativas, há de haver uma verdade primeira, portanto, absoluta.

Por fim, quem sabe, por sermos seres inacabados, propensos a absorver aquilo que vem de fora, o que vemos e aceitamos – ou não (aceitar é relativo quando há massificação e bombardeio, diariamente, por aquilo que não gostamos e que, na verdade, é o que precisamos em nossas vidas) – talvez nos leve a não raciocinar e entender que a visão que temos é própria, mas que, coletivamente, é controlada pelos meios de comunicação, sejam eles de qual esfera forem.








REFERÊNCIAS:
 
MÍDIA, MÁQUINAS DE IMAGENS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS . Disponível em: www.scielo.br/pdf/rbedu/v12n35/a09v1235.pdf. Acessado em out/12


TEORIA DO ESPELHO: ANÁLISES E ESTUDOS SOBRE JORNALISMO. Disponível em:
analisesdejornalismo.wordpress.com/2009/08/15/a-teoria-do-espelho. Acessado em out/2012



Obs. Imagem da Web
 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 06/01/2013
Reeditado em 03/09/2018
Código do texto: T4070582
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