O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NAS ESCOLAS PÚBLICAS CONTRIBUI PARA UMA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL?

Roberto S. Izidro

Resumo:

Este artigo pretende mostrar que o ensino de Língua Inglesa pode contribuir para uma transformação social, sendo também um agente socializador. Pois, entendemos que o atual sistema educacional ainda hoje sofre algumas influências de um sistema feudal e capitalista. E a globalização coloca nossos alunos a mercê das idéias dominantes da burguesia. Aquisição da língua inglesa através da escola, poderá ser um caminho para a libertação dessas idéias.

Palavras-chave: Ensino de Língua Estrangeira, Sociologia da Educação, Globalização.

Este trabalho pretende discutir se o ensino de língua inglesa contribui para uma transformação social e se esse ensino pode ser um agente de socialização.

Levando em consideração que nosso objetivo é mostrar a importância da língua inglesa na vida social do aluno, podemos então, partir de um ponto importante para tentarmos responder a esta complexa questão. A globalização, tão falada nos meios políticos, intelectuais e sociais, cria a necessidade de se romper às fronteiras lingüísticas, isso se dá através do estudo de um idioma. Ora, devido a este acordo mundial, onde se pretende a unificação de todos os povos, principalmente a unificação capitalista, haveria então, uma homogeneidade entre esses povos? Homogeneidade essa financeira, educacional. Podemos observar aqui, algo importante: a burocratização de toda a sociedade. Segundo Max Weber (apud Quintaneiro, 2002, p. 23) a burocratização é um fenômeno que interferi nos aspectos do sistema educacional. Se atualmente existe uma burocratização comum entre as nações, como citado - áreas capitalista, educacionais e sociais - burocratização essa que podemos chamar de globalização, podemos concluir que o que está predominando é uma sociedade capitalista, pois na prática, sistemas econômicos de vários países dependem de um único país para estarem em condições satisfatória economicamente, por exemplo, os EUA comandam ou administram essa globalização. Com essa atividade o que está acontecendo talvez é uma desordem social, segundo Auguste Comte, pai da sociologia, (apud Quintaneiro, 2002, p. 22) a educação contribui para a manutenção da ordem social. O que queremos mostrar neste trabalho é que o ensino de língua inglesa nas atuais escolas públicas pode contribui como um agente socializador do aluno. Nossa intenção não é mostrar as dificuldades ou erros contidos na prática pedagógica, mas colocar algumas referências cabíveis em relação ao ensino de língua estrangeira como uma porta de entrada para uma transformação social na vida do aluno. Sabemos que os baixos níveis de renda dificultam o indivíduo a crescer culturalmente e com isso, dificulta também seu crescimento econômico. Para Quintaneiro (2002, p. 26) a educação é um dos aspectos que compõem a realidade social, ela também afirma que existem outros meios de relações de interdependência, ou seja, são conjuntos de ações que farão uma transformação social, esses conjuntos de ações podemos chamá-los de agentes de socialização. E o ensino de língua inglesa é um desses agentes socializador.

Prosseguindo com nosso raciocínio, Marx (apud Quintaneiro, 2002, p. 31) afirma que não acreditava que nas sociedades capitalistas de sua época a educação fosse realmente igual para todos. Nos séculos passados, a educação brasileira era destinada somente aos filhos das elites, as classes dominantes, segundo Ferreira Junior e Bittar (1999, p. 168) essas elites eram capazes de criar sistemas educacionais de boa qualidade, ora, os objetivos eram ter poucas escolas, mas com ótima qualidade de ensino. Na verdade, para os povos pobres não existia um sistema de política educacional. E hoje? Qual será a realidade? Hoje, há um sistema educacional tanto para ricos como para pobres, podemos dizer que é o mesmo, salvo pequenas mudanças, mas o pensamento de Marx trazendo para os dias atuais ainda é válido, talvez, com mais intensidade, pois como citado anteriormente, a globalização está aí batendo nas portas dos ricos e dos pobres através da mídia(Jornal, revista, TV, Internet, etc) e através dos programas econômicos executados pelos governos. Então, vale salientar a importância para as classes de baixa renda à aquisição de uma segunda língua para poderem ter mais oportunidades nessa transformação. De acordo com Durkheim (apud Quintaneiro, 2002, p. 31) a educação deve ter componente geral, um esforço para que todos os indivíduos tenham os mesmos valores e atitudes, ele ainda conclui que a educação deve ter um componente específico que faz da sociedade moderna uma sociedade especializada.

Para que o indivíduo seja incluído nesta sociedade capitalista, ele deverá ser preparado por um sistema educacional homogêneo, igual para todos, na verdade a realidade não é esta, para Weber (apud Quintaneiro, 2002, p. 31) a crescente exigência de exames para a classificação dos mais capazes está ligada a uma burocratização da sociedade, e aqui está o perigo, a uniformidade, o comum (globalização). O problema é: não estão fazendo com que a educação atual seja igual para todas as pessoas, onde os indivíduos recebam os mesmos valores, ensino. A classe que detém o capitalismo, e por sinal é a minoria, não tem interesse de mudar essa realidade, pois quando detenho o conhecimento eu tenho também o poder. O interesse é ter o poder sobre alguém. Segundo Quintaneiro (2002, p. 22) Karl Marx não deixou passar despercebida esta questão. Para ele:

As idéias da classe dominante são as idéias dominantes em cada época, ou, dito em outros termos, a classe que exercer o poder material dominante na sociedade é, ao mesmo tempo, seu poder espiritual dominante. A classe que tem a sua disposição os meios de produção material dispõe, com isso, dos meios de produção espiritual, o que faz com que lhe submetam, no devido tempo, a médio prazo, as idéias daqueles que carecem dos meios necessários para produzir espiritualmente. (Karl Marx e Friedrich Engels, La ideologia alemana, Barcelona, Grijalbo, 1972)

Então, porque usar a educação para especializar uma determinada classe? Pois segundo Weber (apud Quintaneiro, 2002, p. 31) a quantidade de instrução de um indivíduo era um grande fator no aumento de seus rendimentos, ou seja, se eu tenho uma formação, conseqüentemente meus rendimentos ou minha situação financeira irá mudar, fazendo assim, com que eu seja independente em relação a outro. Além de lembrar que a educação é uma formadora de espírito, ou seja, ela liberta os pensamentos, cria pensamentos reflexivos e reformuladores, e essa formação os capitalistas não aceitam por se tratar de uma ameaça. Hoje, é comum essa relação governantes e governados (políticos e cidadãos), talvez, um dos problemas em relação à transformação social do aluno, não seja exclusivamente aprender a língua inglesa, mas todo o processo de formação acadêmica, começando desde o nascimento e se prolonga na vida adulta, afirma Quintaneiro (2002, p. 34). Quintaneiro (2002, p. 22) afirma também que viver em sociedade significa aprender a se comportar da maneira como as várias situações exigem. Ora, isso se dá com um sistema educacional igual para todos, e não diversificado para tal classe A ou B.

Para comprovar essa diferença na educação, (para ricos e pobres) podemos citar que a partir da década de 70 com os militares, começou a criar escolas destinadas aos mais pobres, daí, surgiu um sistema educacional, sistema esse que opera até hoje, com algumas deficiências. Segundo Ferreira Junior e Bittar (1999, p. 178) depois de 30 anos de uma expansão quantitativa da educação a escola pública passa a ter uma péssima qualidade no ensino, devido à criação de muitas escolas de ensino fundamental com o período de 08 anos. Com a expansão dessas escolas pelo país ficou difícil manter a mesma qualidade que as escolas anteriores à década de 70.

Nossa pergunta é: O que deve ser feito então para mudar essa situação? Situação essa que é colocada de forma autoritária, talvez a resposta esteja na linguagem como forma libertadora, anteriormente foi falado que conhecimento é poder, saber é poder, neste caso podemos dizer que a aquisição de uma língua é um ponto importante para esta libertação. Segundo Ruth Benedict (apud Quintaneiro, 2002) basta observar a vida social para vermos que as interações sociais se dão através da linguagem: a educação, as cerimônias, política, etc. em todos os níveis sociais a linguagem é fundamental para se relacionar. Ela conclui ainda, ninguém pode participar de uma determinada cultura se não dominar a sua linguagem. Daí, o ensino de língua inglesa nas escolas públicas é essencial para que o aluno seja recompensado da desigualdade educacional e social, já mencionada nas páginas anteriores, cujas desigualdades deixam os alunos às idéias da classe dominante citado por Karl Marx .

Existe um ditado popular que diz o seguinte: “Se você não pode contra ele, então, se uni a ele”, ou seja, se a globalização impedi a maioria de praticar a verdadeira cidadania, essa maioria deve de alguma forma encontrar meios que o ajudará a sobreviver. E o primeiro passo é adquirir a língua predominante desse mundo globalizado, dessa sociedade burocratizada. No adquirir essa língua o aluno irá perceber uma nova forma de ver o mundo e uma nova forma de pensar, essa atitude é uma atitude contra a burguesia. Segundo Quintaneiro (2002, p. 44) “ao aprendermos uma linguagem, estamos inconscientemente adotando uma visão de mundo”, ora, se tenho uma visão de mundo, automaticamente eu tenho condições de fazer algumas avaliações que levarão a mudanças comportamentais. Quintaneiro (2002, p. 44) afirma também: “A linguagem nos possibilita apreender o mundo natural e social. Através dela definimos, classificamos e explicamos...” “....é a linguagem que determina a nossa apreensão do mundo”.

Devido à hierarquização do poder econômico no mundo, o inglês se transformou de uma língua internacional para uma língua mundial, discutindo assim, a supremacia da língua inglesa. E com o domínio dessa língua o aluno terá de certa forma condições de ter uma visão de mundo, e através dessa avaliação poderá então, executar ações que contribuirá para uma transformação social, seja no seu mundo individual ou social.

Outro ponto importante em relação à supremacia do inglês colocada pela globalização segundo GIMENEZ (Artigo Língua inglesa, sociedade e escola CPG/UEL 3138) é que freqüentemente a língua inglesa é associada à melhoria de condições competitivas no mercado de trabalho e não é colocada como um instrumento de solidariedade e mobilização globais, através de ações individuais ou de instituições da sociedade civil, fazendo assim, uma cidadania mundial. Daí, a ênfase da língua inglesa ser um idioma economicamente mundial. O inglês sendo um idioma mundial, não poderemos ignorar seu ensinamento nas escolas públicas, mas, como deverá ser esse ensinamento? Será que o sistema educacional atual está executando um ensino de qualidade? Nosso propósito neste trabalho não é responder a estas perguntas, mas chamar a atenção na importância do ensino de língua inglesa nas escolas como um agente socializador, pois, se o objetivo é transformar socialmente às vidas dos nossos jovens estudantes, temos que ver se a aprendizagem deles está sendo absorvida com êxito, isso se faz com algumas avaliações do atual sistema educacional. Abrirei aqui um pequeno parágrafo dando uma breve visão do ensino de língua inglesa nas escolas públicas.

Atualmente o ensino de língua estrangeira nas escolas públicas é ministrado em sala normal, em média são 40 alunos por turma, média essa alta para a aprendizagem de uma língua, pois o professor não tem condições de trabalhar, por exemplo, a conversação, daí, só se trabalha a gramática e a tradução. Para aprendermos totalmente uma segunda língua é necessário trabalhar as quatro modalidades da língua , nessas escolas não se pode trabalhar as partes cognitivas, humanas, dando ênfase e qualidade no cognitivo do aluno. Então, os métodos aplicados por essas escolas são baseados em orientações comportamentalista, levando o aluno simplesmente a responder estímulos. Os estudiosos da área afirmam que deveriam existir nas escolas laboratórios de línguas, onde os alunos estudariam todas as modalidades da língua e as turmas teriam em média 10 alunos, onde salas teriam, por exemplo, aparelhos de som, TV, DVD, computadores e outros meios que serviriam de ferramentas para ajudar na aquisição da segunda língua.

Esses são alguns problemas levantados quanto ao ensino de língua estrangeira nas escolas públicas, se fossemos fazer uma pesquisa de campo com certeza abriríamos um grande leque com os problemas existentes.

O ensino de língua inglesa atual carrega vestígios do ensino tecnicista. Moreira afirma:

Talvez, a mais clara manifestação do comportamentalismo de Skinner no ensino em sala-de-aula tem sido a ênfase na definição operacional de objetivos, típica dos anos setenta . O ensino era organizado a partir de objetivos claramente definidos, precisamente definidos, que explicitavam com exatidão aquilo que o aluno deveria ser capaz de fazer, e sob quais condições, após receber a instrução correspondente. Tais objetivos eram os comportamentos que os alunos deveriam exibir após a instrução...” (Marco 2003, p. 62)

Para fazermos do ensino de língua inglesa um ajudador na transformação social dos alunos, esses problemas citados e os outros não citados aqui, deverão ser corrigidos através de um sistema educacional que funcione e que atenda ás classes menos favoráveis, onde não predomina as idéias das classes dominantes, mas a prática da verdadeira democracia social, democracia essa justa para todos e não para poucos. Pois, de acordo com PILETTI (1999, p. 152) ainda existem relações feudais em diversas áreas, inclusive na escola, onde se conservam elementos medievais. Esses elementos não podem abundar nas nossas escolas e isso se dá através de processos de mudança social como afirma PILETTI (1999).

REFERÊNCIAS

ASSMANN, Hugo. Reencantar a Educação – Rumo à sociedade aprendente. 2. ed. Petrópolis, Vozes, 1998.

BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Ed. Revisada e atualizada. FTD S.A./LISA S.A.

FERREIRA, Roberto. Sociologia da Educação. São Paulo: Moderna, 1993.

HEIDE, A.; STILBORNE, L. Guia do professor para a Internet. São Paulo: Artmed, 2000.

GIMENEZ , Telma . Artigos: “Referências recentes sobre língua inglesa, mídia e escola no contexto brasileiro. Revista Linguagem e Ensino [online]. [citado 17 junho 2006] Disponível na http.//rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v9n1/gimenez_serafim_salles_alonso.pdf

IMBERNÓN, F. A Educação no Século XXI. Os desafios do futuro imediato. Porto Alegre: Artmed, 2000.

IZIDRO, Roberto da Silva. Artigo: A influência da abordagem skinneriana no ensino da língua inglesa na escola contemporânea brasileira. Brasília, CESCOM, 2006.

MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo, EPU, 1999.

PILETTI, Nelson. Sociología da Educação. São Paulo: Editora Ática, 1999.

QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002

SACRISTÁN, J. Gimeno. Poderes Instáveis em Educação. Porto Alegre: Artmed, 1999.

SILVA , Délcio Barros da . Artigos: “Ensinar a ler e escrever: compromisso da escola” e “As Principais Tendências Pedagógicas na Prática Escolar Brasileira e seus Pressupostos de Aprendizagem.” - Universidade Federal de Santa Maria [online]. [citado 01 Fevereiro 2006] Disponível na World Wide Web: < http://coralx.ufsm.br/coperves/coperves/artigo3.htm

Roberto Izidro
Enviado por Roberto Izidro em 14/03/2007
Código do texto: T412944
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